A série Mulheres que Contam pretende dar a conhecer, na primeira pessoa, mulheres que se destacam. Neste episódio conheça a arquiteta Helena Roseta.
Helena Roseta tem uma vida longa de acontecimentos: a que assistiu, nos quais participou, e aqueles que fez acontecer, "passei por tantos sítios, tantas pessoas".
Mas cada dia é um dia, e Helena Roseta vive no presente do indicativo, gosta de se levantar de manhã e pensar que está a estrear um dia. E todos os dias têm de ter uma coisa boa. Algo que ensinou às filhas.
Estar na reforma não implica estar parada e sublinha: "muda de vida se não estás satisfeito", como diz António Variações, “estás sempre a tempo de mudar”, porque as pessoas, muitas vezes, quando envelhecem, esquecem-se que podem mudar de vida.
Numa vida dedicada às questões da habitação digna e da cidadania participativa, em 2020, no pico da pandemia, Helena Roseta juntou-se com amigos médicos e arquitectos para elaborar uma proposta de programa para colmatar os problemas dos mais vulneráveis. Desta proposta, nasceu o programa 'Bairros Saudáveis': um programa público, participativo, transversal a 7 ministérios, multissectorial que resolve problemas de comunidades vulneráveis, quer na área do ambiente, quer a nível social, económico ou a nível urbanístico, em periferias, bairros com problemas, ou aldeias. De simples compreensão e acesso, o programa tornou-se um sucesso, ou como disse um líder da comunidade cigana em Coimbra "as associações ciganas não têm dinheiro para fazer candidaturas, mas neste programa conseguimos". Cada projecto é dotado de cerca de 50 mil euros, mas a mais valia encontra-se na energia positiva, na vontade de fazer das comunidades. "A energia que colocam nas coisas não tem preço", acrescenta Helena Roseta, "muitas pessoas que têm responsabilidade política desconhecem essa energia que existe na sociedade portuguesa – a sociedade civil é que tem força”.
Para Helena Roseta, assim como "exigimos o Serviço Nacional de Saúde, a escola pública, a Segurança Social pública, também temos de exigir que o Estado e os municípios cumpram os seus deveres em matéria de habitação". Porque, tal como consta na Constituição, a habitação é um direito fundamental.
Para muitos, comprar casa passa por ser a solução – o mercado de arrendamento é reduzido ou incomportável. Tornam-se "inquilinos da banca", porque a habitação só lhes pertencerá quando pagarem a última fatia do empréstimo. Mas, Helena Roseta pensa que as gerações mais novas encontrarão outras soluções, tal como as cooperativas de habitação (não lucrativas). "Estou convencida que as gerações mais novas estão mais disponíveis para esse tipo de soluções, até juntando várias, pequenas cooperativas, pegando em prédios e transformando prédios de acordo com os seus gostos".