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Morreu Fausto Bordalo Dias, criador de "Por este rio acima"

por Joana Raposo Santos, Carlos Santos Neves - RTP
José Sena Goulão - Lusa

Morreu na última noite o compositor e cantor Fausto Bordalo Dias, aos 75 anos. Assinou temas marcantes da música portuguesa como "O barco vai de saída", "Como um sonho acordado" ou "A guerra é a guerra".

"Fausto Bordalo Dias morreu esta noite, em sua casa, vítima de doença prolongada", confirmou o representante da agência artística Ao Sul do Mundo, citado pela agência Lusa.
Fausto é um dos nomes maiores da música portuguesa. Gravou 12 álbuns ao longo de uma carreira iniciada no final da década de 1960.O derradeiro álbum de originais, intitulado "Em busca das montanhas azuis", fora lançado em 2011. Desde então, o músico atuava em concertos esporádicos.

Carlos Fausto Bordalo Gomes Dias nasceu a bordo do navio Pátria, durante uma viagem entre Portugal e Angola. Seria registado a 26 de novembro de 1948 em Vila Franca das Naves, Trancoso.

Foi em Angola que formou a primeira banda, batizada como Os Rebeldes.
Sandra Henriques - Antena 1

Aos 20 anos, já em Lisboa, Fausto concluiu a licenciatura em Ciências Políticas e Sociais no Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina, atualmente ISCSP.O primeiro EP seria editado em 1969 com o título “Fausto”, trabalho que lhe valeu o Prémio Revelação atribuído pela Rádio Renascença.

Fausto Bordalo Dias esteve ao lado de nomes como José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Manuel Freire, José Mário Branco ou Luís Cília. Em maio de 1974, ajudou a fundar o GAC com José Mário Branco, Afonso Dias e Tino Flores.

Em 1978, assinou com Sérgio Godinho e José Mário Branco a banda-sonora do filme “A Confederação”, de Luís Galvão Teles. E em 2009 voltou a juntar-se a Sérgio Godinho e José Mário Branco para o espetáculo “Três cantos ao vivo”, que resultaria num álbum ao vivo.

Em março do ano passado, Filipe Sambado, Surma e Primeira Dama homenagearam Fausto na segunda semifinal do 57,º Festival da Canção, na RTP: interpretaram, então, os temas "O barco vai de saída", "Como um sonho acordado", "A guerra é a guerra", "O cortejo dos penitentes" e "Lembra-me um sonho lindo".
Presidente homenageia um dos "nomes maiores" da música portuguesa
O presidente da República disse ter recebido com tristeza a notícia da morte de Fausto Bordalo Dias, “que ao longo de décadas deixou um legado musical que se confunde com a própria história de Portugal”.

“Fausto pertencia a uma constelação de músicos que traduziu para as canções de intervenção o sentimento do povo português, e é por isso inevitável associar o nome de Fausto aos nomes maiores da música portuguesa, como José Afonso, José Mário Branco ou Sérgio Godinho”, lê-se numa nota publicada no site da Presidência.

“Aos familiares e amigos de Fausto Bordalo Dias, envio as mais sentidas e afetuosas condolências”, acrescenta.

Também o primeiro-ministro, Luís Montenegro, já reagiu. "A música de Fausto Bordalo Dias encantou-nos durante décadas. É com profundo pesar que recebo a notícia da sua morte, que não significa o seu desaparecimento. O contributo que deu à música e à portugalidade são eternos e vão continuar a inspirar-nos", escreveu na rede social X.

“Nunca falarei do Fausto no passado”
Em entrevista à RTP3, o músico Carlos Alberto Moniz falou num “homem com uma cultura muito sólida”, o que torna os seus textos “tão ricos”.

“Nunca falarei do Fausto no passado. O Fausto é um grande compositor, é um grande intérprete, a obra dele vai ficar para sempre”, declarou.

“Ninguém até hoje conseguiu fazer canções ‘à Fausto’. Tentam”, mas não conseguem, acredita. “Há personalidades tão vincadas na sua autoria e na sua interpretação”.

“A nossa ligação vem desde os anos 70, quando tocávamos com José Afonso. Chegámos a ir a Londres gravar A cor dos tribunais. Estivemos dez dias acampados na casa de um amigo a gravar”, recordou Carlos Alberto Moniz.
Também o músico Júlio Pereira recordou os seus tempos com Fausto. “Passávamos dias em casa do Fausto a trabalhar música a música, a falar sobre a letra, sobre a música, e foram tempos fantásticos”, contou à RTP.

Júlio Pereira relembrou que Fausto foi um dos primeiros que, fazendo música de autor, se baseou na música tradicional portuguesa. “Sendo música de autor, tu podes sentir que Portugal está ali em peso a nível da sua tradição musical. Isso, na realidade, foi acabando com o tempo”, explicou.

O maestro António Vitorino d’Almeida falou, por sua vez, num nome “incontornável do movimento que continua a ter defensores e lutadores” que é “utilizar a música como uma forma eficaz de esclarecimento político, social e ético das pessoas”.

“O mundo está lamentavelmente mais do que nunca necessitado de que haja músicos e artistas como o Fausto”, que “utilizem a música como uma arma”, considerou.
Ouvido na RTP3, o diretor de programas da Antena 1, Nuno Galopim, assinalou o legado "gigante" de Fausto.
"Soube escutar as marcas de referência da nossa identidade enquanto povo, enquanto cultura", fez notar Nuno Galopim.
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