
O tenor italiano Luciano Pavarotti, 71 anos, morreu quinta-feira de madrugada em sua casa, em Modena, Itália, após uma longa luta contra um cancro no pâncreas, anunciou a agência Ansa.
Operado em Julho do ano passado a um tumor no pâncreas, Pavarotti tinha sido hospitalizado em Agosto, mas nas últimas semanas estava em sua casa, rodeado da família.
O agravamento súbito do estado de saúde do cantor lírico tinha sido noticiado quarta-feira à noite pelos meios de comunicação social italianos, alguns dos quais o classificam como "gravíssimo".
De acordo com a Ansa, Pavarotti faleceu durante a madrugada.
A notícia da morte espalhou-se rapidamente em Modena e as autoridades policiais estabeleceram um cordão de segurança em torno da casa do tenor, onde já se encontra um veículo funerário, referiu a cadeia de televisão RAI.
Devido a um "estado febril", Pavarotti tinha sido hospitalizado em Modena a 08 de Agosto, regressando a casa no dia 25 para aí prosseguir a convalescença.
Uma operação às costas, no início do ano passado, seguida da intervenção cirúrgica ao pâncreas em Julho tinham obrigado o tenor a cancelar uma digressão de despedida com 40 concertos pelo mundo inteiro que havia iniciado em Maio de 2004.
Pavarotti não era visto em público há vários meses, embora, depois da operação de Julho do ano passado, tivesse anunciado a sua disposição de retomar a digressão de despedida, no início deste ano, mas não chegou a concretizar o seu desejo.
No início do Verão deste ano, numa homenagem ao tenor realizada na ilha de Ischia, perto de Nápoles (sul de Itália), a mulher de Pavarotti tinha afirmado que o seu marido estava bem de saúde e que estava a preparar o lançamento de um disco.
"Nunca se pode saber bem com esta doença, mas acho que Luciano se vai safar, ele está bem. Está a terminar um quinto ciclo de quimioterapia, não perdeu um único cabelo e acima de tudo nem emagreceu", afirmou na altura Nicoletta Mantovani.
Em comunicado divulgado quarta-feira de manhã pela Ansa, Luciano Pavarotti tinha manifestado a sua "emoção" pela criação em Itália de um prémio de "excelência cultural", do qual foi o primeiro galardoado.
"Inclino-me, cheio de emoção e gratidão, pelo prémio que acaba de me ser atribuído, porque me dá a oportunidade de continuar a celebrar a magia de uma vida ao serviço da arte", afirmara Luciano Pavarotti no comunicado.
O maior tenor do Mundo
Luciano Pavarotti foi considerado como "o maior tenor do Mundo" desde o desaparecimento do "grande Caruso" em 1921.
Dotado da mais excepcional e cara voz do Mundo, o italiano soube impor-se nos palcos mais prestigiados - do Scala de Milão à Metropolitan Opera de Nova Iorque - com a sua imponente figura, a soberba barba escura e sorriso cativante.
Nascido a 12 de Outubro de 1935 em Modena (norte de Itália), Luciano decidiu-se primeiro pelo ensino, mas optou definitivamente pelo canto em 1961.
"A Boémia" de Puccini - a sua ópera preferida - que interpretou no palco da ópera de Reggio Emília, trouxe-lhe um êxito fulgurante, que depressa ultrapassou as fronteiras de Itália e da Europa.
Donizetti ("A filha do Regimento"), Bellini ("A Sonâmbula"), Rossini "Guilherme Tell", Verdi (Rigoletto") estão presentes em mais de 30 anos de digressões mundiais do triunfante tenor.
Amante dos puro-sange, das massas frescas e dos bons vinhos, este gigante de 1,90 de altura (para um peso variável de 85 a 120 quilogramas) é pai de quatro filhas e avô.
Casou-se em segundas núpcias em Dezembro de 2003 com a sua ex-colaboradora Nicoletta Mantovani, trinta anos mais nova.
Limitando os seus concertos a cem por ano, as maiores divas - Montserrat Caballé, Kiri Te Kanawa, Joan Sutherland - acompanharam-no nas suas mais belas actuações.
Em Julho de 1998, durante um mega-concerto transmitido a partir da Torre Eiffel (Paris), José Carreras e Plácido Domingo formaram com Pavarotti um formidável trio de tenores.
Capaz de cantar desde o clássico às variedades, passando pelo canto napolitano, não hesitou, desprezando a fúria dos críticos, em formar duetos com Sting, Joe Cocker ou Mariah Carey para defender causas humanitárias.
À frente de uma das maiores fortunas do Mundo e de uma farta discografia, o tenor do século, de 71 anos, empreendeu em Maio de 2004 uma digressão mundial de despedida.
Teve de a interromper em Julho de 2006 para ser operado a um cancro no pâncreas.
Pavarotti foi "um grande cantor, um grande tenor" diz Mirella Freni
A soprano italiana Mirella Freni disse hoje que, com a morte de Luciano Pavarotti, com quem cantou em óperas como "La Bohème", de Puccini, se perdeu "um grande tenor, um grande cantor".
"Mas eu perdi também um grande amigo", acrescentou.
Natural de Modena, como Pavarotti, Mirella Freini visitou o tenor no passado dia 13 de Agosto quando ainda se encontrava hospitalizado.
"É um momento duro e muito triste", disse ainda.
"Havia tenores e havia Pavarotti" - Franco Zefirelli
"Havia tenores e havia Pavarotti", declarou o realizador italiano Franco Zeffirelli, ao tomar conhecimento da morte do popular tenor italiano, hoje, na sua terra natal, Modena, norte de Itália.
"Ele adorava a música com um agudo sentido da festa total (...)O seu maior mérito foi ter abordado a música na sua globalidade, da canção ligeira à lírica, passando pela opereta", sustentou Zefirelli, que encenou numerosas óperas, algumas delas com Pavarotti no elenco.
Na opinião do realizador, foi graças a Pavarotti que "a cultura da ópera penetrou nas novas gerações como se não fosse diferente das outras".
Em Londres, a Royal Opera House de Londres prestou homenagem a Pavarotti, classificando-o nestes termos: "Um dos melhores cantores da nossa época".
"Era um dos raros artistas que tocavam a vida das pessoas no mundo inteiro", escreveu a prestigiosa ópera londrina num comunicado.
"Através das suas inúmeras emissões, das gravações e dos concertos, ele revelou o poder extraordinário da ópera a pessoas que talvez nunca tivessem tido acesso à opera e ao canto clássico, e enriqueceu-lhes a existência. É este o seu legado", lê-se ainda.
Pavarotti foi "um dos melhores tenores da história" - José Carreras
O tenor espanhol José Carreras classificou Luciano Pavarotti, falecido esta madrugada de um cancro do pâncreas, aos 71 anos, como "um dos maiores tenores da história, apenas comparável a muito poucos artistas", além de o considerar um "grande amigo".
"É um dia muito triste, foi trágico, é uma grande perda, não apenas por ser uma das melhores vozes, mas também por ser um amigo", declarou Carreras na cidade sueca de Karlstad, onde quarta-feira à noite deu um concerto com a Sinfónica de Värmland.
Carreras, que formou com Pavarotti e Plácido Domingo o trio "Os três tenores", destacou ter tido sempre uma "excelente relação" com o cantor italiano e confessou-se "feliz" por tê-lo conhecido.
O facto de a sua morte ser esperada, não a faz menos "dolorosa", observou Carreras.
"Este é - disse ainda - um momento triste, mas devemos recordá-lo como o grande artista que era, um homem extraordinário, uma personalidade carismática, muito bom amigo e grande jogador de póquer".
Monserrat Caballé lamentou a morte do "colega"
A soprano espanhola Montserrat Caballé lamentou a morte de Pavarotti, seu amigo e "colega", descrevendo-o como "um homem repleto de bondade para todos, tanto as crianças como os mais desafortunados".
Para Caballé, que muitas vezes contracenou com o tenor italiano, este era uma pessoa que "não precisava de fotos para se destacar" e a quem interessava apenas "fazer bem o seu trabalho - e, isso, fazia-o melhor que ninguém".
Caballé recordou que, quando esteve doente em 1985, Pavarotti a visitou. Ele - contou - "esteve a meu lado, veio ver-me, dizia-me que as pessoas fortes nunca ninguém as levaria".
A última vez que a cantora falou com Pavarotti foi em Julho. "Ele disse-me - recordou - que estava contente porque se sentia melhor. Era um homem muito forte e, francamente, não esperávamos isto agora".
Plácido Domingo recorda a "glória da voz" de Pavarotti
O tenor espanhol Plácido Domingo destacou hoje a "glória da voz" e "o maravilhoso sentido de humor" do cantor Luciano Pavarotti, que hoje morreu com 71 anos.
"Semprei admirei a glória da voz que Deus lhe deu, esse inconfundível timbre especial desde o mais baixo ao mais alto da escala do tenor", afirmou Plácido Domingo, numa declaração divulgada em Los Angeles.
"Também gostei do seu maravilhoso sentido de humor e em várias ocasiões dos nossos concertos, com José Carreras, os chamados concertos dos Três Tenores, esquecíamos que estávamos a dar um concerto para um público que tinha pago, porque nos divertíamos muito", acrescentou.
Zubin Mehta triste com a notícia
Zubin Mehta, ex-director musical da Filarmónica de los Angeles, que trabalhou com Pavarotti ao longo de vários anos, afirmou também que o cantor "fazia tudo com grande alegria".
"Morreu o homem que tinha o Sol na sua voz" - Andrea Silvestrelli
O baixo-barítono italiano Andrea Silvestrelli disse hoje à Lusa, no Porto, que com a morte de Luciano Pavarotti se perdeu "a última grande estrela da ópera italiana".
"Era um homem que tinha o Sol na sua voz", frisou.
"Mais do que meu professor, Luciano Pavarotti foi meu mentor, pelo que a minha dívida para com ele é enormíssima", disse Silvestrelli, que falava na Casa da Música no final do ensaio geral da ópera "O Castelo do Duque Barba Azul", de Bela Bartok, em que desempenha o papel protagonista.
Para Andrea Silvestrelli, a morte de Pavarotti é uma grande perda para o canto lírico.
"Ele era único, tinha o sol na sua voz, não vejo qualquer possibilidade de aparecer alguém que lhe seja comparável", disse o cantor italiano.
Andrea Silvestrelli referiu que trabalhou com Pavarotti várias vezes no Teatro La Scala, de Milão, com um coro de 120 elementos.
"O normal é que o coro actua e que, nos intervalos das partes do coro, os seus elementos vão até ao bar, distrair-se, tomar qualquer coisa ou jogar umas cartas", contou.
Mas quando actuava Pavarotti - e só quando ele actuava frisa o cantor - acontecia uma coisa única.
"Os 120 elementos ficavam junto ao cenário até à última nota de Pavarotti, a grande maioria pelo deleite de o ouvir cantar e os restantes, porque não gostavam dele - há sempre quem não goste dos grandes homens por uma ou outra razão - para ver se ele falhava", contou Andrea Silvestrelli.
O baixo-barítono italiano destacou também a grande afabilidade de Pavarotti, que foi confirmada pela norte-americana Nancy Frederick, segundo violino da Orquestra Nacional do Porto (ONP), que trabalhou com Pavarotti duas vezes, em 1990 e 1999.
"Nas duas oportunidades cantou maravilhosamente foi sempre muito humano e simpático com todos e revelou ter muito respeito pela orquestra, foi inesquecível", disse Nancy Frederick.
A ópera "O Castelo do Duque Barba Azul", de Bela Bartok, estreia sábado na Casa da Música, no Porto, com direcção musical de Christoph Knig, encenação e direcção cénica de João Rodrigues, com a meio-soprano inglesa Sally Burgess no papel de Judith e Andrea Silvestrelli como duque Barba Azul.
Também o director artístico da Casa da Música, Pedro Burmester, lamentou a morte de Pavarotti, classificando-o como "um extraordinário instrumento".
"Era um homem de grande generosidade e enorme carisma", disse.