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Eunice Muñoz. Funeral realiza-se na terça-feira, dia de luto nacional

por RTP
O corpo de Eunice Muñoz vai permanecer em câmara ardente na Basílica da Estrela, em Lisboa, a partir das 17h00 de segunda-feira André Kosters - Lusa

A atriz Eunice Muñoz morreu esta sexta-feira no Hospital de Santa Cruz, em Lisboa, aos 93 anos. Tinha completado em novembro do ano passado oito décadas de carreira. O Governo decretou um dia de luto nacional a coincidir com o funeral da atriz, previsto para a próxima terça-feira.

Os olhos de Eunice abrem-se ao mundo em 1928, na Amareleja. Filha de Hernani Muñoz e Júlia do Carmo, herda dos pais a paixão pelo palco.

Aos 13 anos, faz a estreia na peça Vendaval com a Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro, no Teatro Nacional D. Maria II. Através da palavra, Eunice abre o caminho para se tornar uma das melhores atrizes portuguesas.O corpo de Eunice Muñoz vai permanecer em câmara ardente na Basílica da Estrela, em Lisboa, a partir das 17h00 de segunda-feira. O funeral realiza-se no dia seguinte, às 15h00. O cortejo fúnebre terá por destino o cemitério de Alto de São João.

Chega ao cinema pela mão de Leitão de Barros em 1946, com Camões. Eunice multiplica o talento em filmes, séries e peças de teatro. Coleciona aplausos e prémios, transforma personagens em família.

Sem nunca se render ao avanço do tempo, decide retirar-se dos palcos com a peça "A Margem do Tempo", ao lado da neta Lídia Muñoz. Recebe do presidente da República a Grã-Cruz da Ordem Militar de Santiago da Espada.

No dia em que celebra 80 anos de carreira, volta a atuar no Teatro Nacional D. Maria II, onde se estreou em 1941.

A beleza nunca faltou em cada gesto de Eunice Muñoz, nome que se confunde com a história do teatro português.
Ruy de Carvalho: "Minha irmã, minha amiga, partiste sem me despedir"
O ator Ruy de Carvalho, que partilhou a carreira com Eunice Muñoz, fez uma publicação no Facebook sobre a atriz. “Esta foi a última vez que dançámos juntos”, escreveu o ator, seguindo-se um vídeo dos dois a dançarem em palco.

“Minha irmã, minha amiga, partiste sem me despedir. Tu serás eterna”, acrescentou.

Já o ator Herman José diz estar a experienciar "uma mistura de sentimentos" relativamente à morte de Eunice Muñoz. "Primeiro, porque acho que viver [quase] 94 anos é um privilégio, portanto, em rigor, devíamos considerar o final do ciclo da sua vida como obra perfeita e acabada", disse em declarações à RTP.

"Por outro lado, há uma parte de nós que não deixa que isso aconteça porque ela não envelheceu intelectualmente, nunca" e teve sempre "uma curiosidade constante por tudo", lamentou o ator e comediante.


Herman relembrou ainda que a atriz "adorava viver". "Das últimas vezes que estive com ela, dizia-me baixinho, com aquela dificuldade em falar: 'É tão bom viver. Para mim, cada dia é essencial, mesmo que haja dias em que estou em sofrimento'", contou.

"A Eunice é um exemplo de vida. Se houvesse um workshop sobre a arte de bem envelhecer, a Eunice seria o exemplo perfeito", acrescentou Herman.

O ator Diogo Infante, também próximo de Eunice Muñoz, diz estar desolado e fala na “maior atriz portuguesa de todos os tempos”.

“Eunice… estou tão triste. Ando para lhe ligar há vários dias e depois mete-se uma coisa e outra. Quando a [neta] Lídia me ligou, algo em mim pressentiu. Estou desolado, devia ter ligado. Para ouvir o seu fio de voz a perguntar, como estás?”, escreveu o ator.

“O telefone já começou a tocar. Querem reações mas eu não consigo falar… é como se não falando não tivesse acontecido, percebe não é? Pensamento mágico… Se eu guardar os anéis, talvez ela volte… Mas verdadeiramente a Eunice não partiu, porque é eterna. O seu lugar há muito que está reservado nos anais da história”.

Para Diogo Infante, perde-se hoje “a maior atriz portuguesa de todos os tempos”. “Eunice, obrigado por tudo, sobretudo pelo enorme privilégio de ter feito parte da minha vida”, acrescentou.

Já Pedro Penim, diretor do Teatro Dona Maria II, considerou Eunice Muñoz "uma figura basilar, a coluna do teatro português".

Em declarações à RTP na sala do Dona Maria II, o diretor lembrou em tom emocionado que "esta era a sua casa", onde se estreou aos 14 anos.

"Nesta casa, sempre que chegava a Eunice, a casa transformava-se. As pessoas ficavam mais agitadas, parecia que a casa tremia", disse. "Acho que nunca compreenderemos aquilo que estamos a perder hoje".

Marcelo fala em "décadas inesquecíveis". Ministro da Cultura diz que Eunice "é o teatro"
O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, já prestou "emocionada homenagem" à atriz Eunice Muñoz e agradeceu-lhe "décadas inesquecíveis", em nome de todos os portugueses, lamentando a sua morte com profunda consternação.

"É profundamente consternado que tomo conhecimento da morte de Eunice Muñoz, uma referência nacional, admirada e respeitada por todos os portugueses", declarou o chefe de Estado.

O primeiro-ministro, António Costa, também já reagiu à morte da atriz. "Eunice Muñoz marcou de forma definitiva o teatro português, trabalhando com os mais importantes encenadores e companhias, sem nunca deixar de se renovar, de se reinventar, de conquistar gerações sucessivas", escreveu no Twitter.

"A comunhão com o público foi uma constante ao longo da sua carreira, crente de que o teatro só faz sentido se for feito em função dos outros. Eunice, muito obrigado por tudo o que fez pelo teatro e pela cultura portuguesa", acrescentou.


Já o recém-nomeado ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, escreveu um nota de pesar sobre a morte de Eunice Muñoz.

"Foi um privilégio para Portugal ter uma atriz como Eunice Muñoz", refere o ministro. "Uma atriz com um dom único e um talento natural para a representação. Para os portugueses, a sua vida confunde-se com os palcos e o teatro. Todos a conhecemos e, por isso, todos fomos desenvolvendo uma relação íntima e carinhosa com a mulher de traço humano e inclinação doce e afável".

"Para os portugueses, Eunice Muñoz é o teatro. É a verdadeira Senhora Teatro. O que felizmente todo o país soube sempre reconhecer. Neste momento, devemos-lhe um aplauso eterno. Despedimo-nos da Eunice Muñoz com profunda tristeza", acrescentou Pedro Adão e Silva.

Em declarações à RTP, o ministro da Cultura disse ser um "enorme privilégio" para Portugal ter uma atriz como Eunice, que "tinha uma espécie de dom, um talento natural para a representação".

"Mas há um lado que a torna eterna: todos tivemos, de certa forma, uma relação próxima e íntima com a Eunice Muñoz (...). Era como se todos os portugueses a conhecessem", frisou Pedro Adão e Silva, acrescentando que a partida da atriz será acompanhada por um "aplauso eterno".


O presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, considerou que Eunice Muñoz foi "a inigualável senhora dos palcos portugueses", defendendo que sem ela a cultura teria sido mais pobre.

"Deixou-nos há pouco Eunice Muñoz, a inigualável senhora dos palcos portugueses. Sem ela, a nossa cultura teria sido mais pobre. Honremos a sua memória, continuando a celebrar o teatro", escreveu o presidente da Assembleia da República, numa mensagem que publicou na sua conta na rede social Twitter.


 

"O teatro precisa de nós", lembrou Eunice
Filha e neta de atores de teatro e de artistas de circo, ao longo da carreira Eunice Muñoz entrou em perto de duas centenas de peças, trabalhou com cerca de uma centena de companhias, segundo a base de dados do Centro de Estudos de Teatro da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e, no cinema e na televisão, o seu nome está associado a mais de oito dezenas de produções de ficção, entre filmes, telenovelas e programas de comédia.

Em abril do ano passado, Eunice Muñoz foi condecorada pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant`Iago da Espada, cerca de três anos depois de ter recebido a Grã Cruz da Ordem de Mérito.

Ao longo de 2021, contracenou com a neta Lídia Muñoz, na peça "A margem do tempo", em diferentes palcos do país, numa digressão que culminou no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, em 28 de novembro, exatamente 80 anos após a sua estreia.

No final da sessão, a que assistiram o primeiro-ministro, António Costa, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, e a ministra da Cultura, Graça Fonseca, foi prestada uma homenagem à atriz.

"Este teatro foi a minha casa durante muito anos, fui feliz no palco, em tudo o que cá fiz", afirmou então Eunice Muñoz, no final da sessão.

"Agradeço sobretudo a vocês, ao público, que me acarinhou, que me aplaudiu desde que comecei, até agora que comemoro os meus 80 anos de carreira", salientou.

"O teatro precisa de nós, de nós no palco e de vocês que recebem o melhor que temos para dar", acrescentou ainda Eunice Muñoz, concluindo que, "apesar dos dias estranhos e difíceis, o belo continua a existir".

c/ Lusa

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