Moçambique. Escritor Mia Couto considera emboscada um crime contra a nação

por Lusa
Arquivo RTP

O escritor Mia Couto considerou este sábado a emboscada que matou duas pessoas em Moçambique um crime contra uma nação inteira e que o próximo presidente irá governar um país em ruínas.

A emboscada à viatura em que seguiam Elvino Dias, advogado do candidato presidencial Venâncio Mondlane, e Paulo Guambe, mandatário do Podemos, partido que o apoia, ambos mortos a tiro "foi um choque", afirmou hoje o escritor Moçambicano Mia Couto, considerando que quem levou a cabo o atentado "fez isso contra o país inteiro, contra a nação inteira, contra Moçambique".

Em Óbidos, onde hoje entregou o Prémio Literário Fundação Leite Couto, no âmbito do Fólio - Festival Literário Internacional, o escritor admitiu que este ato de violência era para ele "uma coisa impossível de conceber", algo que contraria "a alma moçambicana, de tentar negociar" e tentar resolver os diferendos "através do encontro de posições".

"O que está em causa agora não é só uma resposta de um partido político ou de outro partido político, mas é a resposta que nós juntos podemos dar para não jogar na mesma moeda da violência", disse o escritor, lembrando que "a violência faz escalar a violência", e que facilmente se chega "a uma situação irreversível".

Sublinhado que dos 50 anos de independência de Moçambique "mais de metade foi passada em guerras e conflitos", Mia Couto afirmou que "o país fica completamente inviável" e que, "seja quem for que vá governar a seguir, vai governar ruínas, ruínas humanas e ruínas físicas".

As eleições gerais de 09 de outubro incluíram as sétimas presidenciais - às quais já não concorreu o atual chefe de Estado, Filipe Nyusi, que atingiu o limite de dois mandatos - em simultâneo com as sétimas legislativas e quartas para assembleias e governadores provinciais.

A CNE tem 15 dias, após o fecho das urnas, para anunciar os resultados oficiais das eleições, data que se cumpre em 24 de outubro, cabendo depois ao Conselho Constitucional a proclamação dos resultados, após a conclusão da análise, também, de eventuais recursos, mas sem um prazo definido para esse efeito.

"Agora o que vai ser o futuro condutor dos destinos do país tem de provar que é capaz de ter uma posição de Chefe de Estado, de conciliador, sem ter de regular as suas posições políticas", disse Mia Couto.

O escritor falava à agência Lusa à margem da entrega do prémio literário Fernando Leite Couto ao moçambicano Francisco Panguana, de nome artístico Aristarco Velos, com a obra "Os Peregrinos da Sobrevivência".

O prémio foi entregue no Folio -- Festival Literário Internacional de Óbidos, que decorre na vila até domingo.

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