Miguelanxo Prado publica "De profundis", o livro, viagem poética e onírica ao fundo do mar
Lisboa, 05 Dez (Lusa) - O autor de banda desenhada galego Miguelanxo Prado acaba de editar em Portugal o livro "De profundis", uma narrativa poética feita com as mesmas imagens que utilizou para o filme de animação homónimo.
"De profundis", que foi lançado em Portugal acompanhado de uma cópia do filme, é uma história de amor pouco convencional, entre o sonho e a realidade, de um pintor que se aventura num barco de pescadores para melhor retratar o habitat marinho e de uma violoncelista que habita uma casa no meio da água.
O livro reproduz algumas das dez mil imagens originais, entre acrílicos e desenhos, que Miguelanxo Prado criou para a sua primeira obra de cinema de animação, "De profundis".
A diferença é que o filme não tem qualquer texto de suporte - apenas imagem e música. O autor remeteu o argumento original do filme para a obra impressa, como explicou em entrevista à agência Lusa.
"O texto que aparece no livro é mais uma prosa poética que acompanha as imagens e no filme prescindimos da palavra, porque era possível contar a história sem diálogos, só com imagem a música", explicou.
"De profundis", o livro", funciona como uma obra autónoma do filme e, apesar de ser um registo muito diferente no seu currículo, Miguelanxo Prado acredita que não é surpreendente para quem conhece a sua obra.
"Os que seguem o meu trabalho sabem que eu gosto de mudar de registos", disse.
Miguelanxo Prado, 50 anos, é um dos mais conhecidos autores espanhóis de banda desenhada e tem grande parte da sua obra publicada em Portugal, sendo da sua autoria os volumes humorísticos "Quotidiano Delirante", os poéticos "Traço de giz" e "Tangências", a adaptação "Pedro e o lobo" e o futurista "Fragmentos da enciclopédia délfica".
A edição de "De Profundis" remata um projecto que demorou cinco anos a concretizar, um trabalho "muito longo e intenso" de cinema que Miguelanxo Prado disse que tinha de experimentar, embora a banda desenhada seja para si a arte suprema.
"Há uma conclusão clara depois de todas as linguagens que utilizei: a banda desenhada é aquela que eu acho mais potente e onde tenho maior satisfação com a criatividade. A combinação é quase perfeita", disse.
Aliás, o autor espanhol classifica o filme "De profundis" como uma obra não convencional, mais uma "banda desenhada animada, uma associação de vinhetas" do que propriamente um filme "standard" de animação.
"A banda desenhada é a mais importante linguagem, mas não podia renunciar a nenhuma das outras. Seria trágico", sublinhou.
Actualmente, Miguelanxo Prado está a trabalhar numa novela gráfica, com cerca de 160 páginas, que só deverá ser publicada em 2010 em Portugal.
A história, que está terminada, seguirá na linha do que fez em "Traço de Giz", sobre relações humanas, e o fio condutor "é a relação que temos com a nossa memória".
"Somos o que conseguimos lembrar, o mundo é o que lembramos. As pessoas que perdem a memória perdem a consciência e a relação com a memória não é igual para todos", adiantou o autor, frisando que nas suas histórias nunca há um decalce da realidade.
"Há sempre um lado onírico e fantástico no nosso quotidiano e a história tem também uma deslocação mágica", esclareceu Prado.
Com a intensidade do trabalho, Miguelanxo Prado disse que lhe sobra pouco tempo para viajar e rumar, por exemplo, a Portugal, onde diz sentir-se em casa e entre amigos.
"Se calhar a parte de Espanha que tem a mais forte e real ligação com Portugal é a Galiza, porque fomos parte do mesmo país e a língua é praticamente a mesma", constatou Prado, autor do livro "Carta de Lisboa".
Na rede de relações pessoais com Portugal, que diz ser " muito difícil de explicar", Prado inclui Lisboa, o Porto e a gastronomia, sobretudo a alentejana.
SS.