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Massacre do Charlie Hebdo. Trinta e cinco caricaturas do líder supremo do Irão compõem edição especial

por Inês Moreira Santos - RTP
Caricatura do cartoonista britânico James DR/Edição especial "Charlie Hebdo"

Oito anos depois do ataque à redação do Charlie Hebdo, a revista satírica publica esta quarta-feira uma "edição especial 7 de janeiro", com 35 caricaturas do líder supremo do Irão. Em forma de apoio explícito aos protestos que têm abalado a República Islâmica e às mulheres iranianas, o semanário lança cartoons de Ali Khamenei e o título "vencer os mulás" - termo habitualmente usado em referência a um homem muçulmano, educado na teologia islâmica e na lei sagrada.

“A 8 de dezembro, lançámos um concurso de caricaturas do líder supremo da República Islâmica do Irão. Queríamos apoiar a luta dos iranianos que lutam pela sua liberdade, ridicularizando esse líder religioso de outra época (…) Algumas semanas depois e com mais de 300 desenhos recebidos (além de milhares de ameaças), aqui está a nossa seleção de vencedores”, escrevem os editores na edição especial desta quarta-feira.

O editor do Charlie Hebdo refere que esta foi a forma de a revista demonstrar que apoia "os homens e mulheres iranianos que arriscam as suas vidas para defender a sua liberdade contra a teocracia que os oprime desde 1979".

"Foi também uma forma de lembrar que os motivos pelos quais foram assassinados [redatores do] Charlie, há oito anos, infelizmente ainda são relevantes. Quem se recusa a submeter-se aos ditames das religiões corre o risco de pagar com a vida", sublinhou Riss. "O que é que Charb, Cabu, Bernard Maris, Wolinski, Tignous, Mustapha Ourrad, Honoré e Elsa Cayat teriam pensado hoje quando vissem o que está a contecer no Irão? Ninguém pode dizer, mas podemos adivinhar".

Oito anos depois, voltou a frisar, "a intolerância religiosa não deu a última palavra", continuando "o seu trabalho a desafiar os protestos internacionais e a respeitar os direitos humanos mais elementares".

As imagens que os editores da revista francesa receberam são "um pouco a extensão do que os cartoonistas do Charlie assassinados sempre denunciaram". Os desenhos chegaram "de todo o mundo", o que o Charlie Hebdo considera que demonstra, "para quem ainda duvidava, a dimensão universal da caricatura e o apego à liberdade face ao arbítrio religioso".

"Dos mais de 300 desenhos que chegaram até nós, selecionamos os mais bem-sucedidos, os mais originais e os mais eficazes. Todos, em todo caso, têm o mérito de terem desafiado a autoridade que o suposto guia supremo afirma ser".

Embora as imagens publicadas na edição desta quarta-feira, pelos oito anos desde que ocorreu o massacre na redação do Charlie Hebdo, tenham sido a participação de um concurso, os redatores clarificam que não há um primeiro prémio, porque isso "equivaleria a desvalorizar os restantes sorteios".
"E então que recompensa valeria a coragem de dizer não aos tiranos religiosos? No entanto, há um que ninguém pode comprar ou doar, pela simples razão de que não tem preço: liberdade, simplesmente".
Em dezembro passado, o Charlie Hebdo lançou um concurso internacional, intitulado "Mullahs Get Out", convidando ilustradores e cartoonistas a participar e a criar uma caricatura de Ali Khamenei. O semanário, internacionalmente conhecido pelas suas ilustrações satíricas, promoveu então que a imagem do líder supremo do Irão fosse a “mais engraça e maldosa” possível, para poder ser selecionada e publicada na edição especial da revista francesa.

“Símbolo de um poder religioso retrógrado, tacanho e intolerante, Ali Khamenei é apenas o líder daqueles que realmente se querem submeter a ele”, lê-se no anúncio do concurso. “Os cartoonistas e os caricaturistas devem apoiar os iranianos que lutam pela sua liberdade, ridicularizando esse líder religioso de outra época e consignando-o ao esquecimento histórico”.

Segundo o diário francês Le Monde, o Charlie Hebdo visa, com esta edição especial de comemoração dos oito anos do massacre, mostrar como os protestos no Irão são de “importância global”.

“Queríamos desenhos de todo o mundo e não nos prendermos ao pensamento centrado em França”, explicou ao jornal o diretor da publicação, que argumentou ainda que era crucial “a diversidade visual da oposição”.


A ambição política do ayatollah Khamenei de "criar uma República Islâmica chegou ao fim, demonstrando o absurdo de tentar governar uma sociedade moderna com base em preceitos religiosos". Ao convidar os ilustradores de todo o mundo a participar, a revista argumentou ainda que "a liberdade a que aspira todo ser humano é incompatível com o arcaísmo do pensamento religioso e com a submissão a toda autoridade supostamente espiritual, da qual Ali Khamenei é o exemplo mais deplorável".

"Portanto, desenhe e certifique-se de que Ali Khamenei seja o último líder supremo com que os iranianos terão de sofrer!".

Faz esta semana oito anos que foi perpetrado o massacre do Charlie Hebdo - atentado terrorista que atingiu o jornal satírico francês a 7 de janeiro de 2015, em Paris, resultando em 12 pessoas mortas e cinco feridos graves.

O ataque perpetrado pelos irmãos Saïd e Chérif Kouachi, vestidos de preto e armados com espingardas automáticas Kalashnikov, terá sido a resposta a uma edição que gerou polémica no mundo islâmico e foi recebida como um insulto aos muçulmanos.
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