Massacre do Charlie Hebdo. Trinta e cinco caricaturas do líder supremo do Irão compõem edição especial
Oito anos depois do ataque à redação do Charlie Hebdo, a revista satírica publica esta quarta-feira uma "edição especial 7 de janeiro", com 35 caricaturas do líder supremo do Irão. Em forma de apoio explícito aos protestos que têm abalado a República Islâmica e às mulheres iranianas, o semanário lança cartoons de Ali Khamenei e o título "vencer os mulás" - termo habitualmente usado em referência a um homem muçulmano, educado na teologia islâmica e na lei sagrada.
"Foi também uma forma de lembrar que os motivos pelos quais foram assassinados [redatores do] Charlie, há oito anos, infelizmente ainda são relevantes. Quem se recusa a submeter-se aos ditames das religiões corre o risco de pagar com a vida", sublinhou Riss. "O que é que Charb, Cabu, Bernard Maris, Wolinski, Tignous, Mustapha Ourrad, Honoré e Elsa Cayat teriam pensado hoje quando vissem o que está a contecer no Irão? Ninguém pode dizer, mas podemos adivinhar".
Oito anos depois, voltou a frisar, "a intolerância religiosa não deu a última palavra", continuando "o seu trabalho a desafiar os protestos internacionais e a respeitar os direitos humanos mais elementares".
As imagens que os editores da revista francesa receberam são "um pouco a extensão do que os cartoonistas do Charlie assassinados sempre denunciaram". Os desenhos chegaram "de todo o mundo", o que o Charlie Hebdo considera que demonstra, "para quem ainda duvidava, a dimensão universal da caricatura e o apego à liberdade face ao arbítrio religioso".L'édito de Riss | "Le concours #MullahsGetOut était une manière de rappeler que les raisons pour lesquelles avaient été assassinés les dessinateurs et rédacteurs de Charlie, il y a huit ans, sont malheureusement toujours d’actualité." https://t.co/FlZu792BQz
— Charlie Hebdo (@Charlie_Hebdo_) January 4, 2023
"Dos mais de 300 desenhos que chegaram até nós, selecionamos os mais bem-sucedidos, os mais originais e os mais eficazes. Todos, em todo caso, têm o mérito de terem desafiado a autoridade que o suposto guia supremo afirma ser".
Embora as imagens publicadas na edição desta quarta-feira, pelos oito anos desde que ocorreu o massacre na redação do Charlie Hebdo, tenham sido a participação de um concurso, os redatores clarificam que não há um primeiro prémio, porque isso "equivaleria a desvalorizar os restantes sorteios".
"E então que recompensa valeria a coragem de dizer não aos tiranos religiosos? No entanto, há um que ninguém pode comprar ou doar, pela simples razão de que não tem preço: liberdade, simplesmente".
“Símbolo de um poder religioso retrógrado, tacanho e intolerante, Ali Khamenei é apenas o líder daqueles que realmente se querem submeter a ele”, lê-se no anúncio do concurso. “Os cartoonistas e os caricaturistas devem apoiar os iranianos que lutam pela sua liberdade, ridicularizando esse líder religioso de outra época e consignando-o ao esquecimento histórico”.
Segundo o diário francês Le Monde, o Charlie Hebdo visa, com esta edição especial de comemoração dos oito anos do massacre, mostrar como os protestos no Irão são de “importância global”.
"Portanto, desenhe e certifique-se de que Ali Khamenei seja o último líder supremo com que os iranianos terão de sofrer!".
O ataque perpetrado pelos irmãos Saïd e Chérif Kouachi, vestidos de preto e armados com espingardas automáticas Kalashnikov, terá sido a resposta a uma edição que gerou polémica no mundo islâmico e foi recebida como um insulto aos muçulmanos.