Marcas de dor e cor na obra de Frida Kahlo a partir de sexta-feira no CCB
As marcas do sofrimento físico e da cultura mexicana, aspectos marcantes da vida da pintora Frida Kahlo, vão ser revelados ao público pela primeira vez em Portugal a partir de sexta-feira no Centro Cultural de Belém (CCB).
Vinte e seis quadros, fotografias, diários, vestidos semelhantes aos que usou e outros objectos pessoais integram esta exposição, hoje apresentada aos jornalistas numa visita guiada ao centro com a presença do director do Museu Dolores Olmedo Patiño, de onde provém a exposição.
A maior e mais completa exposição sobre a obra de Frida Kahlo (1907-1954) realizada nas últimas décadas na Europa já passou pela Tate Modern de Londres e a Fundación Caixa Galicia, em Santiago de Compostela, abrindo agora ao público português.
Carlos Phillips Olviedo disse aos jornalistas que o Museu "tem tido inúmeras solicitações para exposições não só na Europa mas também fora", as mais recentes para a China, Coreia, Turquia, Brasil, Chile, Bélgica e Itália.
"O movimento das obras é grande, mas tentamos sempre que fiquem pelo menos seis meses no México, onde Frida Kahlo ainda é considerada um ícone da arte e um símbolo nacional, mesmo para as gerações mais jovens", referiu.
Passados 51 anos sobre a sua morte, a pintura de Frida Kahlo continua a despertar um grande interesse do público, atraído pelo dramatismo de uma pintura marcada pelo sofrimento físico devido à doença e relações amorosas complexas.
Entre 1926, quando pintou o seu primeiro auto-retrato, e a sua morte, quase trinta anos depois, Kahlo produziu cerca de duas centenas de quadros.
A relação amorosa com o pintor muralista mexicano Diego Rivera despoletou o lançamento da sua carreira, mas Frida Kahlo viria a consolidar a sua obra e a tornar-se a pintora mexicana mais conhecida em todo o mundo, conseguindo expor os seus quadros, ainda em vida, nomeadamente no meio artístico de Nova Iorque.
O director do Museu Dolores Olviedo Patiño comentou que o casamento dos dois artistas "não era normal porque a sua lealdade era apenas política e artística, mas não física", referindo-se às inúmeras ligações.
A obra de Kahlo foi influenciada por uma época de grande ebulição política e social no México, resultado da revolução ocorrida em 1910.
No entanto, o centro do seu trabalho é a vivência pessoal da artista, que fez de si própria o tema principal dos quadros que pintava.
Amante da cultura tradicional mexicana, em especial do legado Azteca, esta artista autodidacta descreveu o seu drama pessoal através da figuração e de cores intensas, chegando a ser inserida pelos críticos no movimento Surrealista.
"Pensaram que eu era Surrealista, mas nunca fui. Nunca pintei sonhos, só pintei a minha própria realidade", disse um dia Frida Kahlo.
Aos 16 anos, quando seguia para a escola num autocarro, sofreu um acidente de viação que a forçou a ficar acamada durante muito tempo, mas essa situação infeliz proporcionou as condições para começar a pintar.
Devido ao grave acidente sofrido, a artista passou grande parte da sua vida imobilizada, foi alvo de diversas operações, não conseguiu ter filhos, como muito desejou, e padeceu sempre de dores fortes.
Este sofrimento é expresso em quadros como "A Coluna Partida" (1944), "O Camião" (1929), "Unos Quantos Piquetitos" (1935), "Hospital Henry Ford" (1932) e "Auto-Retrato com Macaco" (1945).
A exposição ficará patente até 21 de Maio no Centro Cultural de Belém.