Cidade da Praia, 12 dez (Lusa) - O livro "Voz de Cabo Verde - A História de um Povo?" é o mais recente livro da editora portuguesa Fresco Produções, que narra, através de um dos maiores grupos cabo-verdianos, a ascensão da música das ilhas na cena internacional.
Profusamente ilustrada com quase duas centenas de fotografias, um CD, pequenas biografias da "primeira geração" da banda formada por Luís Morais, Frank Cavaquim, ambos já falecidos, Toi Bibia, Morgadinho, Djosinha, Jean Dalomba, e Chico Serra, a obra tem a assinatura do português David Santos, em colaboração com Vanessa Sousa, e o design gráfico de Nuno Augusto, todos da Fresco Produções.
Numa entrevista à agência Lusa, na Cidade da Praia, onde a obra foi lançada, David Santos começou por lembrar palavras de Morgadinho, um dos mais renomados trompetistas e saxofonistas cabo-verdianos, hoje com 83 anos: "`Voz de Cabo Verde` é uma identidade, um património de Cabo Verde e dos cabo-verdianos".
"Foram das bandas mais emblemáticas, dos primeiros a saírem de Cabo Verde e a terem projeção internacional. Eram vistos, como muitos dizem, como os Beatles cabo-verdianos. Onde chegavam enchiam salas, um fenómeno único para aquela época e estamos a falar dos anos 60" do século XX, realçou David Santos.
O editor, que também detém a autoria da ideia do projeto e cuja produtora já publicou "Cabo Verde - Um Mundo a Descobrir" (2009) e, depois, "Tito Paris - Alma de Artista" (2012), ambos também com CD, admitiu que, no início, não tinha a noção da importância histórica da banda na música cabo-verdiana.
"Muitas pessoas dizem que existe um antes e um depois dos `Voz de Cabo Verde` na história musical cabo-verdiana", lembrando a primeira reação de "incredulidade" dos músicos com quem viria a privar ao longo de quase dois anos quanto à "ousadia" de um projeto que causou, tal como com o livro sobre Tito Paris, "surpresa" por ser um conjunto de cidadãos portugueses e não cabo-verdianos a dedicarem-se à obra.
"Não sentimos hostilidade. Houve em determinadas situações uma surpresa muito grande, porque é que um português tinha tido a ideia de fazer o trabalho. E estamos a falar de um conjunto de quem, ouvi, não existe um cabo-verdiano no mundo que não tenha um disco", salientou.
"Todas as pessoas se lembram da Cesária ou de outro tipo de músicos e há que, de certa forma, fazer esta recolha e este registo enquanto muitos deles ainda estão vivos. Ter estas declarações pela própria boca da maior parte deles é de uma riqueza fantástica e são pessoas que têm histórias muito ricas e que devem ficar registadas", frisou.
Para David Santos, que ainda não pensou o próximo livro, os "Voz de Cabo Verde", mesmo quando se desfizerem e se juntaram à Bana, também já falecido, são "algo único".
"Uma banda que tem este impacto, através das gerações, mesmo não existindo e mesmo não atuando, é uma coisa única", concluiu.
Ao todo, o "Voz de Cabo Verde" publicou 14 álbuns, um EP e um "single", tendo tocado, primeiro sem Bana e, depois, como banda de suporte do "Rei da Morna", por muitos palcos por todo o mundo, sendo as suas músicas cantadas por todas as gerações.