Katia Guerreiro define novo CD como uma afirmação pelo fado

por Agência LUSA

O novo álbum de Katia Gurreiro, que vai ser lançado segunda-feira, intitula-se "Tudo ou Nada", traduzindo o desejo da artista de se assumir totalmente como fadista.

"À neste meio que me entrego e me entendo. Não sei fazer nada pela metade, ou sou ou não sou, e este álbum é a minha afirmação de que estou em pleno no fado", disse Katia Guerreiro acerca do título, retirado de um fado de João veiga, seu habitual violista.

O álbum, com 14 temas, editado pela Som Livre, voltou a reunir uma equipa que a fadista definiu como "uma concha" e que na sua opinião, produziu "uma pérola".

A equipa é constituída por Paulo Valentim (guitarra portuguesa) e que assina "Canto da fantasia" e ainda da música de "Minha senhora das dores", João Veiga (viola), autor "Ser tudo ou nada" para a música do fado São Romão de Armandinho e com Katia e Rodrigo Serrão assina "Vaga" e "Tenho uma saia rodada".

O músico Rodrigo Serrão (contrabaixo e baixo acústico) é o responsável pela direcção musical.

Mas para Katia Guerreiro, o "grande teste" deste seu novo trabalho serão os espectáculos: "O público é o meu referencial, por ele é que subo a um palco e canto como canto, me entrego e recebo", disse.

Ainda este mês actuará em Macau com a Orquestra Chinesa, uma experiência que aguarda com "expectativa" e que esteve marcada para 2003, mas que cancelou "devido à pneumonia atípica".

Neste novo álbum a fadista volta a interpretar um tema de António Lobo Antunes, "Disse-te adeus à partida" na música do fado solene de Alberto Correia, e a visitar o repertório de Amália de que interpreta "Saudades do Brasil em Portugal" (Vinicius de Moraes).

A criadora de "Povo que lavas no rio" é uma referência para Katia, que diz "seguir o legado deixado por Amália".

"Amália nunca sairá da minha reflexão sobre o fado, não há necessidade de nada fazer que não chega continuar pelas portas que Amália abriu ao fado, nomeadamente, na exigência de qualidade poética", disse.

A poetisa Maria Luísa Baptista, de quem já gravara "Asas", assina dois temas: "Muda tudo. Até o mundo" e "Tenho uma saia rodada".

"Há uma grande cumplicidade com Maria Luísa Baptista que escreve para mim e a pensar em mim, como eu quando canto, faço-o a pensar nela", disse.

O tema "Tenho uma saia rodada", segundo afirmou à Lusa, foi inspirado em si e "nas muitas saias que uso e o público aprecia", disse.

Além das saias, admite que o público a reconhece pela sua postura no palco com as mãos atrás das costas.

"Mesmo que não saibam o nome sabem que sou a fadista que canta com as mãos atrás das costas", um jeito que lhe advém, afirmou, "de uma certa inibição".

Neste CD a referenciar ainda a participação especial do pianista Bernardo Sassetti no tenha "Senhora das dores" (P.

Valentim/Jorge Rosa), e a assinatura de Dulce Pontes de "Dulce caravela".

"Tinha já cantado um tema da Dulce no CD anterior, mas este é um inédito que ela fez para mim", disse a fadista que salientou "a grande empatia" que existe entre as duas artistas.

"A Dulce escreveu este tema a meu convite dada a grande empatia que há entre nós, para além da minha enorme admiração pelo seu percurso e carreira", acrescentou.

Dos autores interpretados referência ainda para Joaquim Pessoa ("Talvez não saibas") e Sophia de Mello Breyner ("Quando").

Do universo da música ligeira Katia retoma um tema de Ary dos Santos e Nuno Nazareth Fernandes, "Menina do alto da serra" com que Tonicha venceu o Festival RTP da Canção de 1971 e representou Portugal no Eurofestival, em Dublin.

Uma canção que incluiu por ter gostado de a trabalhar e "da forma como o público aderiu" quando a cantou pela primeira vez na Festa do Avante, este ano, a convite de Ruben de Carvalho.

Ao lado da carreira de fadista, Katia Guerreira exerce medicina num dos hospitais civis de Lisboa, profissão que não pretende abandonar.

"Não posso nunca largar a medicina e tenho de conciliar tudo.

Largar a medicina causar-me-ia um desequilibrio emocional e está fora de questão", frisou.

Kátia Guerreiro editou o primeiro CD, "Fado Maior", em Junho de 2001, um trabalho que vendeu mais de 10.000 exemplares em Portugal e a L`Empreinte Digitale garantiu a edição mundial em Novembro de 2002.

Em Dezembro de 2003 editou o segundo álbum - "Nas mãos do fado" - onde, segundo o musicólogo Rui Vieira Nery, "largou amarras" e procura "com maior segurança" um "repertório próprio com toda a margem assumida".

Este ano a fadista participou, entre outros, no Festival +le de France, em Paris, e no Festival Internacional da Canção do Cairo e integra o Parlamento Europeu para a Cultura onde pretende "defender os direitos dos artistas e da identidade cultural de cada um de nós".

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