Jornalista lança "biografia possível" sobre o regicida "esquecido" Alfredo Luís da Costa

por © 2008 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.

Castro Verde, Beja, 29 Jan (Lusa) - Cem anos após o assassinato do rei D. Carlos e do príncipe herdeiro D. Luís Filipe, o jornalista Paulo Barriga lança sexta-feira uma "biografia possível" sobre o "esquecido" e "verdadeiro mentor" do regicídio Alfredo Luís da Costa.

Editado pela Câmara Municipal de Castro Verde (Beja), o livro "Crónica do Regicida Invisível - Alfredo Luís da Costa" é lançado às 18:30, no Fórum Municipal daquela vila alentejana.

Em declarações à agência Lusa, Paulo Barriga contou hoje que a ideia do livro surgiu após o convite do município de Castro Verde para investigar a vida de Alfredo Luís da Costa, um "filho da terra" que nasceu na freguesia de Casével, "mas que ninguém conhecia".

Num "exercício jornalístico, puro e duro", "como se os protagonistas não existissem na lonjura de um século, mas sim nos tempos correntes", o jornalista alentejano escreveu três reportagens para narrar "a biografia possível de Alfredo Luís da Costa".

Trata-se de um "trabalho de reportagem" após três meses de investigação e a partir da "leitura livre" de documentos, jornais, estudos, depoimentos, memórias escritas e relatos da época que "são tratados de viva voz, sem qualquer tipo de condicionamento académico ou científico", explicou Paulo Barriga.

"É uma tentativa de estabelecer uma biografia sobre um homem quase incorpóreo, oculto nas engrenagens da história, esquecido", afirmou o autor, frisando que o livro "não é um elogio ao homem, nem ao regicídio".

"Quis apenas contar a história de vida de um homem que teve um papel preponderante num dos mais dramáticos acontecimentos da História de Portugal", salientou.

Manuel Buíça e Alfredo Luís Costa foram os autores dos disparos que mataram o rei D. Carlos e o príncipe herdeiro D. Luís Filipe, no dia 01 de Fevereiro de 1908.

Mas "para a lista dos mártires portugueses entraram as vítimas e apenas um dos regicidas, Manuel Buíça" e Alfredo Luís Costa, "o verdadeiro mentor do atentado" e "algoz" de D. Carlos I, "morreu tal como viveu: invisível", observou Paulo Barriga.

"Este é o livro de Alfredo Luís da Costa. As reportagens são sobre ele. São contadas do ponto de vista do homem que matou o rei e não sobre o regicídio, sobre os últimos dias da Monarquia ou sobre o advento da República", referiu.

A primeira reportagem, "Elogio do Homem Morto", conta os dias seguintes ao regicídio, e a segunda reportagem, "O Regicida Invisível", traça a vida de Alfredo Luís da Costa até às vésperas do assassinato do rei D. Carlos e do príncipe herdeiro D. Luís Filipe, no Terreiro do Paço, em Lisboa.

"O Fotógrafo não estava lá", a terceira reportagem, conta episódios do dia do regicídio, incluindo o momento do próprio atentado, que "não foi registado por nenhum repórter fotográfico", lembrou Paulo Barriga.

De acordo com o jornalista, após registarem a chegada da família real ao Terreiro do Paço, chegada de Vila Viçosa, os fotógrafos partiram "de imediato" para o Palácio das Necessidades, onde iria decorrer a recepção oficial.

Mas a cerimónia nunca chegou a acontecer, porque "minutos após a chegada da família real ao Terreiro do Paço deu-se o atentado e os fotógrafos já não estavam lá", contou.

Para a investigação, Paulo Barriga "socorreu-se" do "imprescindível auxílio" dos técnicos e dos documentos guardados na Biblioteca Municipal Manuel da Fonseca, em Castro Verde, no Arquivo Distrital e na Biblioteca Municipal de Beja, na Biblioteca Nacional e Biblioteca Museu República e Resistência, em Lisboa, e na Hemeroteca Municipal e Arquivo Fotográfico Municipal da capital.

Os familiares ainda vivos de Alfredo Luís da Costa "também deram uma ajuda na empreitada", frisou Paulo Barriga.

Filho de pais mercadores de tecidos, Alfredo Luís Costa nasceu na freguesia de Casével, no concelho de Castro Verde, a 24 de Novembro de 1883.

Ainda criança, foi enviado para aprender o ofício de caixeiro com um tio rico que tinha estabelecimento aberto na baixa de Lisboa.

Na capital, escreveu em jornais, entrou para a maçonaria e para a Carbonária, criou uma editora propagandística, foi dirigente sindical, imaginou "A Filha do Jardineiro", o romance em folhetim escrito por Aquilino Ribeiro e que conta a história do rei que desonrava a filha de um jardineiro, e conspirou contra o regime monárquico.

LL.

Lusa/Fim


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