Joel Serrão - "a História sem óculos ideológicos", diz Maria Filomena Mónica

por © 2008 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.

Lisboa, 06 Mar (Lusa) - A investigadora Maria Filomena Mónica qualificou hoje Joel Serrão como um historiador que "conseguiu olhar a História sem óculos ideológicos" e "tinha uma grande capacidade de descoberta".

"Ao contrário dos seus pares de antes do 25 de Abril de 1974, Joel Serrão conseguiu olhar a História sem óculos ideológicos (...) Dos intelectuais que viveram o antigo regime, Joel Serrão é o historiador que mais prezo, nomeadamente por ter sido capaz de fazer o `Dicionário de História de Portugal` editado pela Figueirinhas, que é um trabalho imenso", disse Filomena Mónica à agência Lusa.

"Naquele tempo - acrescentou - não havia computadores e hoje seria impensável, além do contexto político em que foi editado. Será por ele que Joel Serrão irá marcar para sempre a historiografia".

Maria Filomena Mónica conheceu pessoalmente Joel Serrão e foi por ele convidada para dar continuidade ao "Dicionário de História de Portugal", juntamente com António Barreto.

Filomena Mónica realçou ainda o seu trabalho pedagógico "junto dos mais novos, nomeadamente os assistentes universitários, que ajudava", salientando que a sua obra historiográfica "deixa pistas para os novos investigadores pesquisarem, mesmo que dêem respostas diferentes às que ele daria".

"Joel Serrão tinha uma grande capacidade de descoberta", disse a investigadora qualificando de "genial" a forma como abordou a introdução da iluminação pública a gás em Lisboa, na década de 1840, num dos seus ensaios.

"A questão que ele colocou foi: O que acontece á noite. Passava a haver sempre dia, isso ia mudar os hábitos sociais dos lisboetas, e é isso que me fascina na sua história, há lá tudo, o político, o económico, o cultural, o social e a importância que tem um pormenor", afirmou.

Uma outra questão "surpreendente" para a autora de "Bilhete de identidade" é a ligação do historiador à poesia.

Joel Serrão escreveu ensaios sobre Cesário Verde, Antero de Quental, António Nobre e Fernando Pessoa.

"A forma como o fez revela enorme inteligência e sensibilidade", sublinhou.

A investigadora, que o ano passado editou uma biografia de Cesário Verde, afirmou que "a colectânea da poesia de Cesário mais fidedigna e elucidativa, é organizada por ele".

Joel Serrão editou em 1945 "Cartas de Fernando Pessoa a Armando Côrtes-Rodrigues", e no ano seguinte "O carácter Social da Revolução de 1383".

No total tem editados mais de uma vintena de títulos, incluindo a direcção de algumas obras colectivas como "Nova História Portuguesa", que partilhou com Oliveira Marques, falecido em Janeiro do ano passado.

Filomena Mónica contou também que "à primeira vista, no contacto social, Joel Serrão parecia pomposo e até teatral, mas era na realidade um homem muito simples".


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