Com a suspensão das regras de saúde globais da pandemia, os japoneses entenderam que, para se prepararem para um “novo normal”, sem máscara, teriam de reaprender a sorrir.
Desde então, cada aula de Keiko Kawano recebe 20 alunos para treino do sorriso.
Após três anos da pandemia da covid-19, algumas pessoas sentiram a necessidade de praticar os sorrisos e expressões faciais antes de tirar as proteções faciais e expôr o rosto em público.
“Como o uso de máscaras tornou-se a norma, as pessoas tiveram menos oportunidades de sorrir o que implicou que mais pessoas tenham desenvolvido um complexo sobre isso”, explicou Keiko Kawano, instrutora da empresa de educação do sorriso Egaoiku.
A empresa viu a procura destas aulas aumentar cerca de 4,5 vezes mais, depois de fevereiro, quando as entidades de saúde do Japão classificaram a perigosidade do vírus como reduzida.
Arte de sorrir
O treino do sorriso é frequentado na maioria por mulheres explicou Keiko Kawano, conhecida personalidade da rádio e televisão, em Yokohama.
“Movimentar e relaxar os músculos faciais é a chave para produzir um bom sorriso. Quero que as pessoas passem um tempo sorrindo conscientemente para o seu bem-estar físico e mental", observa a treinadora, citada na publicação Japan Times.
Durante os 45 minutos de aula, a instrutora pede para fletir várias partes dos rostos para obter a expressão mais calorosa e brilhante de felicidade. Os alunos usam espelhos para se consciencializarem dos movimentos e reajustar as expressões até se sentirem confiantes mas alguns revelam dificuldades.

Os alunos trabalham os sorrisos | Louise Claire Wagner - Instagram
Kyoko Miyamoto, de 74 anos, revela que “há um certo medo e timidez com o gesto de tirar as máscaras”.
“Além disso, as pessoas usaram máscaras durante tanto tempo que podem até ter esquecido como eram os rostos dos amigos e, às vezes, quando os encontramos e eles tiram as máscaras, a metade inferior é inesperada”, descreve a aluna.
O trabalho de Keiko Kawano sobre o sorriso remonta a 2017 mas o desfio maior revelou-se pós-pandemia.
“Culturalmente, sorrir e fazê-lo com os dentes nem sempre foi apropriado no Japão, até porque pode-se falar japonês sem mexer muito a boca”, disse Kawano.
“Quando a pandemia começou, o sorriso começou a diminuir. Havia apenas esse sentimento de deceção”, acrescentou.
Kawano treinou mais de quatro mil pessoas na arte de sorrir nos últimos seis anos, para além de ajudar centenas de outras pessoas a se tornarem “especialistas em sorrisos”, com o devido diplona certificado.
De acordo com as instruções de Kawano “um sorriso é apenas um sorriso se for transmitido”. E relembra “Mesmo que alguém esteja a pensar em sorrir ou que está feliz, se não tiver expressão, não alcançará seu público”.