Irene Pimentel elogia conteúdo de arquivos históricos nacionais mas critica a sua forma

por © 2008 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.

Lisboa, 26 Mai (Lusa) - A historiadora Irene Pimentel, que hoje recebeu o Prémio Pessoa, salientou a importância dos arquivos nacionais de história contemporânea, que são "os melhores da Europa no conteúdo, mas que deixam muito a desejar quanto à forma".

A historiadora apelou a mais verbas para estes arquivos, bem como a um maior apoio aos jovens historiadores, a quem também dedicou o prémio.

Num discurso recheado de referências a filósofos e à mitologia grega e egípcia, Irene Pimentel afirmou que é necessário "fazer o luto" relativamente ao período do Estado Novo e que, neste momento, a investigação se centra na "perspectivação e hierarquização da informação".

A laureada reconheceu que "há um desfasamento entre a história e a memória dos portugueses", mas que estes, apesar de algumas tentativas "de dourar o passado", não gostariam de voltar "a ter um chefe forte".

A investigadora afirmou que "o esquecimento faz parte da memória" e referiu que a musa grega da história, Clio, é filha de Mnemósine, deusa da memória, e "os seus objectivos eram tentar tratar os problemas traumáticos".

"Escrever história é livrarmo-nos do passado infeliz na medida em que, ao fazer o luto do passado, o trabalho da história preserva a memória e contribui para transformá-la num memória pacificadora e justa, condição de uma relação actuante com o presente e o futuro, bem como uma solidariedade entre as gerações", sublinhou Irene Flunser Pimentel.

Relativamente ao Estado Novo, período sobre o qual incidem as suas investigações, a historiadora definiu quatro períodos: "o ajustar de contas com o passado recente", a "coexistência de memórias, recalcamento e silêncio", o acesso às memórias particulares e abertura dos arquivos de António Salazar e da extinta PIDE-DGS e a actual fase de "hierarquização da informação".

O presidente do júri do Prémio Pessoa, Francisco Pinto Balsemão, sublinhou, no seu discurso, que este galardão deve ser entendido como um incentivo "para que publique mais" em diferentes suportes, do livro à Internet, passando pelo cinema.

Numa sessão presidida pelo Chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva, Balsemão não deixou de salientar que, para este prémio, atribuído desde há 20 anos, em parceria com a UNISYS, não foram precisos "nem apoios, nem dinheiro do Estado".

Francisco Balsemão afirmou que este "é um dos mais relevantes galardões nacionais" e que todos os distinguidos "mesmo nas suas biografias sumárias, sempre o referem".

O Prémio Pessoa foi entregue hoje no Museu Militar, em Lisboa, numa sessão presidida por Cavaco Silva e que contou com a presença do ministro da Justiça, Alberto Costa, do ex-presidente da República Mário Soares, do musicólogo Rui Vieira Nery e do historiador Fernando Rosas, entre outros.

O galardão tem o valor de 50 mil euros, que a historiadora afirmou à Lusa ir empregar "em prol da investigação histórica, nomeadamente no apoio aos jovens investigadores".

Irene Pimentel disse que pretende com esta quantia criar um fundo "que se valorize", de modo a apoiar a investigação histórica, que considera "muito esquecida".

NL.


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