Investigação atribui autoria de estátua do Arcanjo São Miguel ao mestre Nicolau Pinto

por Lusa

A escultura do Arcanjo São Miguel, obra icónica do Museu Nacional de Arte Antiga, produzida no final do período barroco, terá sido criada pelo mestre escultor Nicolau Pinto (1723-1809), revela uma investigação de especialistas portugueses de várias instituições científicas.

A autoria surgiu na sequência do processo de restauro da peça, derrubada por um visitante do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), em Lisboa, em novembro do ano passado, que regressou à exposição permanente, na Noite dos Museus, a 20 de maio.

Contactada pela agência Lusa, a coordenadora do processo de restauro, Maria João Vilhena, conservadora responsável pela Coleção de Escultura do MNAA, revelou que a autoria do Arcanjo São Miguel aponta para Nicolau Pinto, escultor de imagens com oficina estabelecida na calçada de Santo André, em Lisboa, que foi primeiro mestre de Joaquim Machado de Castro, um dos mais importantes escultores do Barroco português.

"A associação desta oficina à personalidade artística de Nicolau Pinto vem esclarecer os diferentes contextos históricos da produção de esculturas devocionais em Lisboa, capital em reconstrução, e a pluralidade de artistas ativos, demonstrando a existência de um universo de criadores muito vasto e qualificado, cujos nomes documentados passam a partir de agora a poder associar-se às obras", sublinhou a investigadora.

O processo de intervenção da obra, coordenado por Maria João Vilhena, decorreu de novembro de 2016 a maio deste ano.

Questionada sobre as descobertas realizadas durante o restauro da peça, e subsequente investigação, Maria João Vilhena explicou que, através do estudo material, compositivo e plástico da escultura, por comparação com obras com a mesma cronologia, "esta imagem fica garantidamente associada à produção das oficinas de Lisboa, da segunda metade do século XVIII".

"Os dados técnicos e formais revelam a produção escultórica de uma oficina com profundo domínio de todas as técnicas escultóricas da madeira, desde o sistema de construção, composição e acabamento policromo, executadas por diferentes profissionais, segundo o delineamento geral de um mestre", acrescentou a investigadora.

Sobre a importância desta descoberta na História da arte portuguesa, Maria João Vilhena sublinha que "vem recuperar a memória artística da grande produção das oficinas de escultura de Lisboa do Barroco final, revelar técnicas escultóricas de surpreendente erudição compositiva e plástica, abrindo um universo de estudo que agora começa a definir-se".

Com esta investigação, o Arcanjo São Miguel do MNAA "ganhou o estatuto de ícone da escultura tardo-barroca portuguesa, enquanto cabeça de série da obra de Nicolau Pinto, e modelo para uma série vasta de esculturas devocionais", sustentou.

Neste processo, segundo a especialista, esteve envolvida uma equipa interdisciplinar que reuniu técnicos de diferentes áreas, desde historiadores de arte e museólogos do MNAA, que trabalharam com a investigadora Sandra Costa Saldanha (Secretariado Nacional dos Bens Culturais da Igreja), e historiadora da escultura barroca em Portugal, conservadores-restauradores do MNAA e colaboradores como Conceição Ribeiro, Sofia Júlio, Susana Campos, Teresa Serra e Moura e Maria José Moinhos.

Também participaram técnicos do Laboratório José de Figueiredo, da Direção-Geral do Património Cultural, e do Laboratório Hércules-Universidade de Évora, como Luís Piorro, Lília Esteves, Elsa Murta, Ana Machado, Sara Valadas, Ana Cardoso, Ana Manhita, que executaram os exames de imagem e analíticos que sustentaram a intervenção de recuperação.

O restauro foi executado no MNAA, pela conservadora-restauradora Conceição Ribeiro, com a colaboração dos outros membros da equipa de conservadores-restauradores do museu.

A estátua do Arcanjo São Miguel, que provém do antigo Recolhimento de São Patrício de Lisboa, encontra-se agora na entrada principal do museu, num pedestal, no átrio junto à escadaria de acesso ao segundo piso, com as coleções de ourivesaria, joalharia e de arte da expansão, e ao terceiro, dedicado à pintura e escultura portuguesas.

Depois de seis meses de obras, o terceiro piso do MNAA, onde se encontram, entre outros exemplares, os Painéis de São Vicente, de Nuno Gonçalves, e a "Adoração dos Magos", de Domingos Sequeira, reabriu no ano passado com um novo percurso expositivo, com 243 obras, na maioria pintura (152 peças), e um terço de escultura (91 peças), de autores portugueses do século XIV ao século XIX.

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