Igreja de Oliveira do Hospital considerada moçárabe pode ter origem nas Astúrias
A Igreja de São Pedro de Lourosa, em Oliveira do Hospital, passou à história no século XX como templo moçárabe, mas atualmente alguns investigadores vinculam a sua origem ao reino das Astúrias.
Classificada há 100 anos como monumento nacional, em 14 de junho de 1916, a igreja, construída em 912, foi durante décadas considerada por diversas entidades públicas e historiadores como a "única igreja moçárabe" em Portugal.
Na terça-feira, um dos investigadores que diverge desta tese, Paulo Almeida Fernandes, vai intervir, em Lourosa, num colóquio para assinalar o centenário da publicação do decreto que classificou o monumento nos primeiros anos da I República.
"A igreja não é o que parece", disse hoje Paulo Almeida Fernandes à agência Lusa, frisando que a edificação "está vinculada ao reino das Astúrias", com capital em Oviedo, e à reconquista cristã na Península Ibérica.
Ao longo do século passado, vários investigadores "tentaram puxar por uma especificidade que não existe", ao apostarem numa suposta origem moçárabe do monumento, no distrito de Coimbra.
"Pensava-se que o reino asturiano não tinha chegado tão abaixo", mas esta construção "tem todos os elementos do reino das Astúrias", afirmou, para realçar as semelhanças de "uma janela dupla" de Lourosa com outra que existe em Oviedo, numa igreja igualmente pré-românica.
A Igreja de Lourosa "tem sido um dos mais incompreendidos monumentos pré-românicos em território nacional", segundo uma nota sobre o monumento publicada no portal da Direção-Geral do Património Cultural.
"Depois de, na primeira metade do século XX, ter sido objeto de variadíssimos estudos e referências em obras de síntese, tanto portuguesas, como espanholas, e de, mais importante, ter contado com três distintos projetos de restauro, as últimas décadas acentuaram os pretensos provincianismo, ruralidade e pouca relevância estilística da obra, percurso historiográfico descendente que, na verdade, está bem longe de corresponder à realidade", informa.
A DGPC reproduz, aliás, um texto da autoria de Paulo Almeida Fernandes para apresentar a igreja, restaurada em meados do século passado.
"São Pedro de Lourosa é um dos mais importantes monumentos peninsulares do século X (...) e o facto de ter sido construído numa área teoricamente periférica (distante dos dois grandes centros civilizacionais da altura, León e Córdoba) não deve constituir indicador de menor importância", considera aquele organismo.
Para o investigador do Centro de Estudos em Arqueologia, Artes e Ciências do Património da Universidade de Coimbra, "o restauro foi desastroso".
"Não se tinha consciência que se estava a intervir num monumento diferente de todo o resto", lamenta, em declarações à Lusa.
No colóquio, na terça-feira, Paulo Almeida Fernandes vai abordar o tema "São Pedro de Lourosa: incompreensões acerca de uma igreja".
"Se não tivesse sido classificada, há 100 anos, certamente hoje já não existiria", segundo a diretora regional de Cultura do Centro.
Portugal entrou na I Guerra Mundial um mês depois de o Ministério de Instrução Pública, através da Repartição de Instrução Artística, ter publicado o decreto de classificação do imóvel como monumento nacional.
Por sua vez, a vereadora da Cultura da Câmara de Oliveira do Hospital, Graça Silva, salienta que a Igreja de Lourosa "é certamente a mais antiga em Portugal em funcionamento ininterrupto", há 1.104 anos.
Enfatizando a alegada origem moçárabe do templo, Graça Silva refere que o monumento integra a Rota Europeia da Moura Encantada.
O colóquio "Hei por bem... comemorar a Igreja de São Pedro de Lourosa" é uma organização conjunta da Direção Regional de Cultura e da Câmara Municipal, com apoio da Junta de Freguesia de Lourosa e da Fábrica da Igreja de Lourosa.