Passados mais de três anos sobre o lançamento do quinto volume da "História do Pensamento Filosófico Português", chegou às livrarias o quarto volume da obra, uma opção do director da colecção para evitar o desânimo dos autores.
"Foi uma forma de estímulo para os próprios autores, para que não perdessem a coragem antes do fim. Como deixar uma obra vazia no meio, com um salto, seria muito escandalosoÓ", declarou, com humor, Pedro Calafate, agora que tem a sensação da missão cumprida.
Em 1999 saiu o primeiro volume da colecção (sobre a Idade Média), seguindo-se, em 2000, o quinto (dedicado ao século XX), em 2001 o segundo (que aborda o Renascimento e a Contra-Reforma) e o terceiro (acerca do Iluminismo) e, só agora, o quarto, relativo ao século XIX.
"Um trabalho desta natureza não tem epílogo, está permanentemente no `estaleiro` e pode sempre ser melhorado, mas penso que constitui um bom ponto de partida, na medida em que possui variedade temática e reúne sensibilidades muito diversas", explicou Pedro Calafate numa conferência de imprensa realizada hoje na sede da Editorial Caminho, em Lisboa.
No encontro com os jornalistas para assinalar o fim da colecção, o responsável sublinhou que não existe, no global da obra, "uma perspectiva de escola ou de grupo" e que os 50 colaboradores conseguiram "manter o espírito de equipa até ao fim".
Quando foi solicitado aos participantes que fizessem uma monografia sobre cada autor e cada tema, a intenção era que, no final, o leitor dispusesse de um conjunto de textos com "uma perspectiva ampla, mas simultaneamente simples" acerca de várias figuras e correntes da Filosofia portuguesa, do presbítero Orósio (século V) a Vergílio Ferreira (século XX).
Lançando agora um olhar de fora para dentro sobre os cinco volumes (apresentados em sete tomos) que compõem esta "História do Pensamento Filosófico Português", o investigador considera que existem "temas privilegiados, com abordagens em vários momentos da obra".
"A questão ético-política, em que se nota o compromisso dos pensadores com o seu país, está muito presente, tal como a teológica", por se tratarem de assuntos analisados em vários momentos do pensamento filosófico, afirmou o director da colecção.
Pedro Calafate, que revelou ter iniciado o trabalho com vista a esta série "há 20 anos, embora só em 1998 tenha sentido que existiam condições para avançar", destacou ainda que, além da heterogeneidade de colaboradores, "alguns com opiniões radicalmente antagónicas face aos outros", os cinco volumes primam pela variedade de abordagens.
O platonismo camoniano, o saudosismo metafísico de Teixeira da Pascoaes ou o teatro existencial de Raul Brandão encontram lugar na obra, que, de acordo com o responsável, "não tem pressupostos apriorísticos sobre o que é a Filosofia em Portugal".
Antero de Quental, Sampaio Bruno, Guerra Junqueiro, Cunha Seixas, Amorim Viana, Teófilo Braga (no tomo 1) e Almeida Garrett, Alexandre Herculano, Francisco Adolfo Coelho e Manuel António Ferreira- Deusdado (no tomo 2) são algumas das figuras em estudo no quarto volume, que aborda temas como o cientismo e a metafísica, a existência social do Homem, a filosofia do direito e a educação.
A "História do Pensamento Filosófico Português" surge num mercado não muito vasto em obras do género, onde são referência a "História da Filosofia em Portugal", de Lopes Praça, e a "História da Filosofia Portuguesa", de Pinharanda Gomes.
Além de sentir que Portugal tem agora uma obra ao nível da "História das Ideias" (brasileira) ou da "História Crítica do Pensamento Espanhol", Pedro Calafate diz ter ficado especialmente satisfeito por, em 2002, quando já tinham saído quatro volumes da colecção, "Portugal ter sido o país convidado na VI Semana Europeia da Filosofia, que decorreu em várias cidades de França".
"Embora sem expectativas de best-seller", esta é uma obra que a Caminho se orgulha de editar, por ser "notável" que se tenha conseguido realizar uma história das ideias em Portugal, afirmou, por seu lado, Zeferino Coelho, director da Caminho.