Harold Pinter, cuja obra foi hoje distinguida com o prémio Nobel da Literatura 2005, é o mais influente e polémico dramaturgo britânico da sua geração, tendo-lhe o seu estilo único valido um adjectivo próprio - "Pinteresco".
Pinter, de 75 anos, autor de 32 peças de teatro, é também poeta, realizador e autor de argumentos para filmes, incluindo de várias adaptações de obras suas ao cinema.
Filho de um alfaiate judeu nasceu a 10 de Outubro de 1930 em Hackney, um bairro popular do leste de Londres.
Depois de ter frequentado durante dois anos a Royal Academy of Dramatic Art, em Londres, e de ter iniciado uma carreira de actor percorrendo teatros de província, escreveu, em 1957 a peça "The Room", imediatamente seguida de "The Dumb Waiter" ("O Monta-Cargas") e, depois, no ano seguinte, "The Birthday Party" ("Feliz Aniversário").
O êxito chegou com a peça "The Caretaker" ("O Encarregado"), adaptada ao cinema em 1962, com realização de Clive Donner.
A reputação de Pinter como autor do teatro do absurdo aumentou de forma directamente proporcional ao seu crescente envolvimento na política.
Crítico acérrimo do antigo Presidente norte-americano Ronald Reagan, na década de 80, e da sua contemporânea britânica, a primeira- ministra Margaret Thatcher, Harold Pinter direccionou posteriormente a sua ira contra a intervenção da ONU no Kosovo (1999), a invasão norte- americana do Afeganistão (2001) e a guerra no Iraque (2003).
As suas obras da década de 90 como "The New World Order" ("A Nova Ordem Mundial") e "Ashes to Ashes" ("Cinza às Cinzas") são reflexo dessa evolução.
Apesar de ultimamente ter substituído o teatro pela intervenção política - referindo-se à ofensiva militar no Iraque como "um acto premeditado de assassínio de massas" e aos Estados Unidos do Presidente George W. Bush como "um monstro descontrolado" - Pinter sempre foi, acima de tudo, um autor político.
A crítica sempre afirmou que a luta pelo poder, que está sempre presente nas suas obras, se caracteriza por uma forte ambiguidade, por nunca serem claras as razões para a vitória ou eventual derrota das personagens.
O seu teatro, que continua, de certa forma, o de Samuel Beckett - dramaturgo também galardoado com o Nobel da Literatura, em 1969 -, e é influenciado também pela novelística de Franz Kafka, utiliza a linguagem corrente, mas Pinter carrega-o de ambiguidades, de pausas, silêncios de grande efeito dramático.
No cinema, escreveu os argumentos de filmes como "A Amante do Tenente Francês", realizado por Karel Reisz, e "O Último Magnata", adaptação do romance de Scott Fitzgerald, realizado por Elia Kazan.
Harold Pinter, que praticamente abandonou o teatro e se debate com um cancro do esófago diagnosticado em 2002, é casado em segundas núpcias com uma escritora inglesa, Lady Antonia Fraser.
Ao galardoá-lo, a Academia Sueca distingue um representante da chamada geração dos "Angry Young Men" (Jovens Revoltados) britânicos da década de 60, na qual se enquadram igualmente John Osborne, autor de "Look Back in Anger", que deu nome ao grupo, e Arnold Wesker ("The Kitchen").
Na realidade, Pinter nunca deixou de representar, tanto em peças como em filmes, na rádio e na televisão, tendo-se inclusivamente reservado um papel no seu mais recente trabalho, intitulado "Voices", uma peça de teatro para rádio, musicada por James Clarke.
Esta semana foi anunciado que actuaria numa produção da peça "Krapp+s Last Tape" de Samuel Beckett, no âmbito do 50/o aniversário da English Stage Company, no Royal Court Theatre de Londres.
Mas Harold Pinter quer, sobretudo, reunir forças para continuar a criticar não só a presença de tropas estrangeiras no Iraque, como a situação política mundial, que considera "preocupante".