Guitarrista Ângelo Freire também dá voz aos fados no novo álbum

por Lusa

O músico Ângelo Freire, que tem acompanhado à guitarra portuguesa nomes como as fadistas Ana Moura, Mariza e Sara Correia, também canta vários fados, num álbum a sair na próxima quinta-feira, sob o seu nome.

"Eu nunca deixei de cantar", disse à agência Lusa o músico que referiu "as brincadeiras" que fez em palco com a fadista Ana Moura, que tem acompanhado nos últimos anos, afirmando que projeta uma carreira como fadista.

"Neste momento o objetivo é continuar a cantar, por isso é que nasceu este disco. Ao longo dos meus poucos anos tenho sentido mais necessidade de cantar do que tocar", afirmou Ângelo Freire à Lusa, garantindo que não vai deixar de tocar.

"Aquilo que eu quero mesmo investir é na minha carreira como fadista", sublinhou o músico de 34 anos.

"Gravei um disco quando tinha 12 anos. Mas eu, precocemente, mudei a voz e, logo ali ao início dos 13 anos senti alterações. Estava acompanhado de uma professora de canto e decidiu afastar-me um bocadinho", disse o músico, que em 2000 venceu o concurso internacional "Bravo, Bravíssimo".

"Dediquei o meu tempo todo à guitarra portuguesa e então deu-se um grande destaque, dos 13 para os 14 anos, quando comecei a trabalhar com a Ana Moura. E esse destaque foi crescendo. O talento estava lá, trabalhei imenso, comecei a trabalhar com outros artistas como a Mariza, e o canto foi ficando um bocadinho de parte", afirmou o música que edita um álbum em que é o autor de todas as melodias para versos de Mário Rainho, Diogo Clemente, José Saramago e Francisco Guimarães, entre outros.

Ângelo Freire apresenta-se neste álbum, com a etiqueta do Museu do Fado, como fadista, compositor, poeta, e toca ainda guitarra portuguesa e viola.

O álbum foi gravado em outubro do ano passado e a sua construção coincidiu com uma fase pessoal do artista de "amores e desamores". "O primeiro tema do álbum esteve para ser `Sei que o Amor não é Para Mim`, que surgiu das muitas conversas que tive com o Francisco Guimarães [que assina a letra]", contou o músico à Lusa.

"O disco vai sendo construído com um desamor", disse Freire referindo-se ao momento "complicado em termos amorosos" que estava a passar. Mas se nos poemas "há um lado sofredor, têm todos um lado luminoso, de esperança, que tudo vai acabar bem", sentenciou.

A ideia de fazer um álbum existe desde 2017, quando esgotou o Centro Cultural de Belém, num concerto. Mas foi deixando "arrastar", pois "tinha muitos concertos e digressões", e esse projeto "ficou parado". "Não conseguia fazer tudo ao mesmo tempo", disse.

Durante a pandemia da covid-19, graças a "alguma instabilidade que trouxe muita criatividade", começou a compor e a partilhar essas melodias que criava, com o músico Diogo Clemente.

"O Diogo dizia-me que era interessante, pois as melodias têm características de fados tradicionais, e então, começou a enviar-me poemas com estrutura tradicional, quintilhas, sextilhas, decassílabos e quadras, e eu, como estava inspirado comecei a compor para essas letras", contou.

As melodias foram compostas "no curto espaço de tempo de menos de um ano" e "foi nascendo assim o disco aos bocados", disse Ângelo Freire à Lusa.

Quanto à letras, todas foram escritas para este álbum, à exceção de "Poeticamente Hipócrita", de José Saramago, e "Poema Triste", de Mário Rainho, já gravado pelo fadista António Rocha, no Fado Menor, e para a qual Freire criou uma nova melodia.

António Rocha, "rei do fado menor", eleito em 1967, é uma referência para Ângelo Freire que não olhou para o poema "com tanta tristeza quanto a que ele carrega" e daí ter composto uma melodia "mais leve que o Fado Menor".

"Essa tristeza fala de saudade, e eu vejo que a saudade nem sempre é triste. Temos, por vezes, saudade de coisas boas que a vida nos trouxe", argumentou.

Diogo Clemente escreveu "Amor Platónico", "Sonhos" e "O Par da Minha Asa", Tiago Correia, "Corpo Poeta", e o próprio Ângelo Freire assina "Nada se Perdeu", "Última Canção", "De Loucura em Loucura" e "Se Um Dia Eu te Disser".

"A história deste disco é o amor", concluiu o fadista. "É tudo melodias novas de fados tradicionais, e as letras refletem histórias que fui vivendo e que me fez sentido cantá-las. E até as letras que iam chegando pareciam escritas a pensar nos momentos emocionais que tinha vivido, e fez muito sentido exorcizar isto através deste disco".

Ângelo Freire apresenta o álbum, na quinta-feira, no Museu do Fado, com Bernardo Viana, na guitarra portuguesa, e Frederico Gato, no baixo.

No dia 2 de dezembro, estará no Casino Estoril, com Bernardo Saldanha, na guitarra portuguesa, e Frederico Gato.

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