Futuro Museu de Arqueologia vai exibir novas narrativas e será "mais inclusivo" - diretor
O novo programa museológico do Museu Nacional de Arqueologia (MNA) prevê três exposições de longa duração que incluem a história das suas origens, as coleções internacionais e novas narrativas sobre um acervo de 7.000 peças do território.
O programa, um documento com cerca de 300 páginas, vai ser apresentado e debatido na quinta-feira numa sessão aberta para receber ideias e responder a perguntas sobre as expectativas do público quanto à remodelação em curso de um futuro museu "mais inclusivo e aberto à reflexão crítica sobre o passado", indicou o diretor, António Carvalho, em entrevista à agência Lusa.
Ao mesmo tempo que desmontava o MNA e o preparava para as obras do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), no valor do 32,69 milhões de euros, a equipa elaborou o programa museológico que constitui o plano para o MNA do século XXI: "Decidimos abrir as portas para as pessoas virem falar connosco. Pensamos que é muito importante escutar o público", explicou o responsável em entrevista à agência Lusa.
Encerrado ao público desde abril de 2022, o MNA tem previstas três empreitadas para este ano no âmbito do PRR, devendo iniciar em fevereiro as escavações arqueológicas no seu interior, seguindo-se, ainda durante o primeiro trimestre do ano, o restauro das fachadas, enquanto a remodelação integral do interior do edifício começará até ao final do primeiro semestre do ano.
Intitulada "Escuta Externa: Quantas ideias cabem no novo museu?", a sessão pública contará com profissionais e especialistas dos setores da arqueologia, museologia, gestão, programação e educação, interessados no futuro do museu fundado em 1893 por iniciativa do arqueólogo e etnógrafo José Leite de Vasconcelos.
"O objetivo não é passar o dia focados nos discursos dos especialistas. Eles serão moderadores do debate e introduzir os temas. Todos os participantes vão dialogar entre si", espera o diretor do museu.
António Carvalho considera que o MNA não deve desconcentrar-se dos prazos, e manter o foco no PRR, mas também quer abrir-se à intervenção de todos: "Este momento é para mostrar o que se está a fazer, e também escutar e incentivar uma participação cívica de professores, estudantes de arqueologia, de todos os interessados".
O programa museológico, disponível `online` na página da Museus e Monumentos de Portugal (MMP), resume a sua longa história de 130 anos, desde as origens e diferentes fases, e apresenta uma proposta para o futuro, na qual se inclui uma reorganização das suas áreas de funcionamento.
Depois de lançadas as empreitadas das obras do PRR deverão seguir-se as fases de instalação, montagem e a abertura do museu, "processos completamente distintos, que vão culminar com uma nova realidade" naquele espaço com um acervo arqueológico de várias tipologias, em pedra, vidro, cerâmica, metal e documentos provenientes de 3.178 sítios arqueológicos de todos os distritos do país.
"O acervo que temos em reserva não aumenta, mas com a duplicação de espaço de exibição neste projeto, vai ser possível mostrar mais bens da coleção", salientou o dirigente à Lusa.
No programa museológico já estão previstas três grandes exposições de longa duração para o MNA do século XXI: "De museu etnográfico português a Museu Nacional de Arqueologia", "Viagens", para mostrar as coleções internacionais, e, aquela que será a maior, "Das origens à construção de um museu aberto ao mundo", indicou o responsável museu desde 2012.
Questionado sobre qual será o perfil do futuro museu, o historiador descreveu: "Vai ter mais acessibilidade física, será mais inclusivo, dinâmico, aberto a temas diferentes, e vai promover a reflexão crítica sobre o passado através das coleções e narrativas expositivas".
No momento em que PRR está em curso, a equipa do museu, de 22 pessoas, rejuvenesceu, "porque os antigos trabalhadores têm estado a sair nos últimos anos", indicou ainda.
Sobre o perfil de público, António Carvalho tem a expectativa de aumento do nacional: "Mudou bastante ao longo das décadas por estar instalado no perímetro do Mosteiro dos Jerónimos, um monumento classificado como Património Mundial pela UNESCO", que atrai milhares de visitantes diariamente.
"O público estrangeiro atingia os 65% quando fechámos, e esperamos que após a reabertura acorra muito mais público nacional ao museu", com uma área expositiva que vai duplicar com a remodelação.
António Carvalho sublinhou que a parte forte do projeto é mesmo a "remodelação total dos espaços", não apenas a área expositiva, mas também as áreas de investigação, reservas das coleções, serviços educativos, serviços administrativos", entre outras.
Numa fase seguinte, a partir do programa expositivo, será lançado o concurso público para o programa museográfico e a empreitada para a sua produção: "No futuro no MNA vão também ser tidas em conta novas vertentes, como a sustentabilidade, a transição energética e digital, as alterações climáticas, e a modernização administrativa", indicou.
"O museu trabalha sempre a partir da sua coleção, e pretende-se que seja um espaço de afirmação e construção da cidadania ativa e respeito pelo outro. Também de bem-estar, de descoberta, de formação e contribuição para o diálogo na sociedade portuguesa", ambiciona António Carvalho.
Na sua função essencial, apontou, o MNA "tem de ser uma montra das múltiplas camadas das sociedades antigas que ocuparam Portugal, mas refletir profundamente sobre que narrativas deverá apresentar, que peças se escolherão, que bens culturais se vão usar, que acessibilidade de linguagem, perspetivas e abordagens".
O programa museológico está dividido em três partes: o museu fundado em 1893 e instalado nos Jerónimos em 1906, o museu desmontado para fazer as obras do PRR, e aquele que irá surgir depois da remodelação.
O documento em debate na sessão de quinta-feira, entre as 09:00 e as 19:00, contém toda a caracterização do museu, o diagnóstico com as coleções, atividade de investigação, conservação e restauro, fundos documentais, serviços educativos, parcerias, recursos humanos e financeiros.