Frequência abaixo do desejado. Setor do teatro quer fixar público regular nas plateias

por Gonçalo Costa Martins - Antena 1

Foto: Sala Garrett ©TNDM II, Filipe Ferreira

O teatro está no pódio dos espetáculos ao vivo mais frequentados em Portugal, um facto que deixa um sabor agridoce quando se observa os valores concretos. No inquérito mais recente sobre as práticas culturais dos portugueses, 13% das pessoas afirmaram que, em 2019, foram ao teatro.

Por um lado, “é pouco”, visto que foram 260 espetadores num universo de 2.000 inquiridos, mas a professora e investigadora universitária Vera Borges assinala que “é das atividades mais participadas”, apenas atrás dos festivais e concertos.

Um desafio assumido é fidelizar o público, para que os espetadores venham de forma mais regular. A maioria (11 entre os 13%) assume ter ido uma ou duas vezes no ano de 2019. No grupo que foi três vezes ou mais, destaca-se a faixa etária entre os 55 e os 64 anos.

“São os públicos já mais antigos do teatro, mais próximos das companhias de teatro independente, que o frequentam já há mais tempo”, diz a docente na área da sociologia no Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE), acrescentando: “as pessoas que vão com maior regularidade ao teatro são também aqueles que vão ver mais atividades culturais”.

“A frequência não é aquela que nós desejávamos todos”, assume Vera Borges, também uma das autoras do referido inquérito, realizado em 2020 pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
Combater estigmas e envolver o público
A ideia de que a cultura é para elites apenas “tem que ser combatida ferozmente", defende Pedro Alves, membro da direção da Associação para as Artes Performativas em Portugal.

Essa ideia “tem levado a que, muitas vezes, os públicos se afastem dos espetáculos”, pois “é-lhes passada a ideia de que determinada manifestação artística não é para o seu gosto, não está habilitada ou capacitada para assistir a determinado evento".

O também diretor artístico do teatromosca, em Sintra (Lisboa), aponta caminho em duas direções: envolver o público para fidelizá-lo e fortalecer a oferta cultural.

Criar projetos em que os espetadores são parte ativa, ter cartões de associado às entidades artísticas e desenvolver estratégias de comunicação online são algumas das ideias deixadas.

Quanto maior for o envolvimento com as comunidades, as pessoas “estarão mais predispostas a vir assistir a espetáculos”, acredita Pedro Alves.

O responsável da associação pede ainda que o Estado contribua com políticas públicas para democratizar a cultura, ajudando a “criar raízes para que floresçam projetos locais”, em vez de uma “migração temporária de projetos culturais que vão do litoral, nomeadamente das grandes cidades”.
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