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Fóssil descoberto em 2021 na Marinha Grande é de nova espécie de réptil marinho

por Lusa

O fóssil de um réptil marinho descoberto em 2021, no concelho da Marinha Grande, é de uma nova espécie de ictiossauro (lagartos-peixes) e foi a primeira identificada na Península Ibérica, revelou hoje o paleontólogo João Pratas.

"É uma espécie completamente nova para a ciência e foi a primeira encontrada e identificada em toda a Península Ibérica, ou seja, alarga um bocado o `range` [alcance] do que se sabia destes animais nesta altura", afirmou João Pratas, investigador e colaborador do Museu da Lourinhã, para onde foi transportado o fóssil.

A Câmara da Marinha Grande anunciou hoje que "foi descoberta uma nova espécie de réptil marinho do grupo dos ictiossauros, ou `lagartos-peixes`, que habitou a região há mais de 190 milhões de anos, durante o Jurássico Inferior".

Batizado de `Gadusaurus aqualigneus`, este novo ictiossauro foi descoberto na praia de Água de Madeiros, "pela marinhense Isabel Morais Roldão, professora da Escola Secundária Francisco Rodrigues Lobo, em Leiria", adiantou.

Segundo a autarquia, o nome `Gadusaurus aqualigneus` faz "referência ao bacalhau (`Gadus`), devido às semelhanças morfológicas com os ictiossauros, e à praia de Água de Madeiros".

"A escolha do nome faz homenagem ao peixe que é símbolo identitário da cultura portuguesa, ligando património paleontológico e património imaterial", explicou.

O município referiu tratar-se "de um animal relativamente pequeno, distinguindo-se por um forâmen [orifício] nasal de grandes dimensões, maior do que o documentado em outras espécies, e por dois sulcos simétricos nos ossos circundantes".

"O crânio apresenta alguma desarticulação, sugerindo que se trate de um animal mais jovem e cujos ossos não estavam ainda bem fundidos ou que os ossos se deslocaram durante o processo de fossilização", esclareceu.

João Pratas, primeiro autor de um artigo científico publicado há uma semana na revista `Acta Palaeontologica Polonica`, declarou que, após a descoberta por Isabel Morais Roldão, a segunda autora do artigo, a docente entregou o espécime ao Museu da Lourinhã.

Seguiu-se um trabalho de preparação e limpeza nos laboratórios do museu, e também observações, para "ajudar a tentar fazer uma identificação do espécime", referiu o estudante de doutoramento da Universidade Nova de Lisboa.

"Depois fizemos comparações com outros ictiossauros já existentes, fizemos análises filogenéticas, que são o procedimento típico para tentar identificar com o que é que estamos a lidar", adiantou, explicando que tudo consta do artigo agora publicado.

O animal "faz parte de um grupo de répteis marinhos que eram os ictiossauros", os lagartos-peixe, "um grupo de répteis que se adaptou a um meio marinho, desenvolvendo uma forma de corpo muito hidrodinâmica", prosseguiu João Pratas.

"É o tipo de evolução parecido com o que se observa hoje nas baleias atuais. Seriam uns animais com um corpo muito hidrodinâmico, com um focinho muito comprido, caudas e barbatanas semelhantes às de um tubarão ou de um golfinho, e tinham também como característica uns olhos muito grandes", precisou.

João Pratas adiantou que a região compreendida entre Marinha Grande, no distrito de Leiria, e Lourinhã (Lisboa) sempre apresentou um grande acervo de fósseis.

"Tanto quanto sabemos, nestas épocas pré-históricas, houve a sorte de, nesta região, se juntarem várias das características necessárias para serem bons locais para a preservação de fósseis. E é por isso que nestas regiões é bastante frequente encontrar várias coisas, algumas vezes fragmentos, outras vezes espécimes inteiros, que nos permitem fazer descobertas como a deste artigo", acrescentou o investigador.

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