O filme "Marighella", de Wagner Moura, que se estreia na quinta-feira em Portugal, é sobre Carlos Marighella, opositor da ditadura no Brasil, mas é também "um grito de resistência", disse à agência Lusa o ator Bruno Gagliasso.
"Marighella", que teve estreia em 2019 no Festival de Berlim, é a primeira longa-metragem assinada pelo ator Wagner Moura e aborda os últimos cinco anos de vida do escritor, político e guerrilheiro Carlos Marighella, um dos principais organizadores da luta armada contra a ditadura brasileira (1964-1985), desde 1964 até à sua morte violenta numa emboscada, em 1969.
No filme, o músico e ator Seu Jorge interpreta Carlos Marighella e Bruno Gagliasso encarna o agente da polícia política do regime ditatorial brasileiro, que o mandou matar.
"Foi muito difícil e muito impactante. Faço um personagem racista, um cara que acha que é patriota e hoje eu enxergo que existem vários pelo Brasil e pelo mundo. É um grito de resistência", recordou o ator brasileiro, em declarações à agência Lusa.
Bruno Gagliasso, que está em Portugal para apresentar o filme em duas sessões no cinema Nimas, em Lisboa, na quinta e na sexta-feira, recordou que a produção e conclusão de "Marighella" atravessou três "períodos históricos" na presidência do Brasil: a destituição de Dilma Rousseff, a substituição por Michel Temer e a eleição de Jair Bolsonaro.
O ator disse ainda que este filme é um momento importante para os brasileiros olharem para a história do Brasil e para conhecerem aqueles que resistem a regimes ditatoriais.
"Um dos grandes motivos do Wagner estar fazendo esse filme é para que as pessoas passem a estudar [Marighella]. Tem escola em Salvador com o nome do Marighella e as pessoas não sabem!", exclamou.
Tendo já sido exibido em vários festivais, "Marighella" deverá já somar mais espectadores noutros países do que no Brasil. Isto porque o filme não teve ainda estreia comercial alargada nas salas brasileiras, por razões burocráticas, que a produção atribui a questões políticas, e por causa da pandemia da covid-19.
Num tempo em que "o maior problema" do Brasil é "a família Bolsonaro", Bruno Gagliasso considera que ser ator é "fazer política" e correr riscos.
"Eu acho que me posicionar num país tão autoritário, e que está em constante tensão, é perigoso, é difícil. Eu sofro as consequências, a minha família, os meus amigos. (...) Eu sinto que a gente está na corda bamba, no último fiapo de algo que a gente pode chamar ainda de democracia, mas que é preciso exposicionar, porque é o que faz a gente existir", disse.
Bruno Gagliasso, nascido no Rio de janeiro em 1982, conhecido sobretudo por produções televisivas, em telenovelas e minisséries, está desde março em Espanha a rodar a série espanhola "Santo", produzida pela Netflix e da qual faz parte também a atriz portuguesa Victoria Guerra.
Estará uns dias em Portugal para promover "Marighella" e para começar a conhecer melhor o país onde nasceu o avô paterno.
À Lusa, o ator recorda que tem o apelido Marques e que adquiriu recentemente a nacionalidade portuguesa: "É a primeira vez que estou vindo como cidadão português, olha que orgulho!".
"O meu avô é português [de Santo Tirso]. O meu avô veio com oito anos de idade para o Brasil, conheceu a minha avó, que é brasileira, mas de pais portugueses. (...) Quero passar um tempo com a minha família aqui em Portugal. Quero que os meus filhos conheçam as raízes do pai dele, da minha família, como eu também fortaleço que eles tenham contacto com as raízes africanas deles", disse.
Bruno Gagliasso é pai de três filhos, dois dos quais adotados no Malaui.