Festival sobre alterações climáticas alia ciência, arte e humor para explicar como tudo `ferve`

por Lusa

A ex-ministra da Cultura, Graça Fonseca, que apresentou hoje, no Porto, o primeiro Boil Climate Festival, defende que a abordagem das alterações climáticas deve ser feita por analogias a histórias práticas e não tanto com mensagens de medo.

O Boil Climate (clima em ebulição, a ferver) é um novo festival em Portugal que junta arte e humor à ciência climática e comportamental, e que vai ter a primeira edição este ano, em Serralves, no Porto, nos dias 25 a 29 de setembro, sob o mote "Sem drama, mas com urgência", já com a segunda edição em mente, numa conexão com a Cimeira do Clima, a realizar no Brasil em 2025.

"O tema é urgente, mas temos de ter a capacidade de falar com as pessoas de forma diferente, sem usar o medo", declarou Graça Fonseca, ex-ministra da Cultura (Partido Socialista), na conferência de imprensa de apresentação da programação do Boil Climate Festival, que decorreu no Museu de História Natural da Universidade do Porto.

À margem da conferência de imprensa e, em declarações à agência Lusa, Graça Fonseca reconhece que juntar humor e arte ao tema científico das alterações climáticas é um risco, mas argumenta que o cérebro humano é muito mais propenso a absorver histórias do que dados numéricos e, por isso, a aposta do Boil Climate Festival é casar ciência com arte e humor.

"Estamos a arriscar um pouco, reconheço que estamos, mas estamos a querer que os cientistas dialoguem com humoristas e artistas para explicar através de analogias o que é o aquecimento global", declarou, recordando que há uns anos, quando da primeira vez que pensou atentamente sobre o significado e as consequências do aquecimento global, aconteceu depois de lhe explicarem o fenómeno com a analogia de uma criança com febre e com o que pode acontecer ao corpo humano se a temperatura passar dos 37 graus centígrados, para os 38 ou 39 graus.

"Há décadas que os cientistas nos dizem o que é o aquecimento global, o que é que significa. O secretário-geral das Nações Unidas [António Guterres] declarou que acabou a era do aquecimento global e começou a era do `boiling` - termo que se vem ligar ao nome do novo festival dedicado às alterações climáticas", lembra Graça Fonseca.

A ex-ministra recorda que os cientistas começaram a dizer que precisavam de outras pessoas para espalhar a mensagem da urgência de lutar contra as alterações climáticas.

"Precisamos, se calhar, de humoristas, precisamos de artistas, porque o nosso cérebro, a nossa capacidade de receber mensagem está cada vez mais limitada, porque nós somos recetores de muitas ideias por dia e se utilizamos algo com o qual tenhamos empatia, com o qual nos consigamos relacionar, se calhar, com um bocadinho de piada, se calhar isto pode mudar a forma como individualmente e na minha comunidade, me apaixono pelo tema [...]".

O festival Boil, cujo mote é "Sem drama, mas com urgência", decorre essencialmente no exterior de Serralves, no parque da instituição cultural, onde vai haver um percurso de instalações artísticas que vão desafiar as pessoas em questões como, por exemplo, a água e como se pode usar melhor esse recurso esgotável.

O festival promete também exposições, designadamente sobre biodiversidade, em colaboração com o Museu de História Natural e Ciência da Universidade do Porto.

O cinema é outra das artes envolvidas no festival Boil, com uma parceria da Casa Manoel de Oliveira e da National Geographic, para, através de documentários e dos conteúdos dos media, tentar sensibilizar as pessoas para as ações de combate às alterações climáticas.

A Casa Cinema Manoel de Oliveira será, então, palco de um ciclo climático, exibindo filmes e documentários que incentivam reflexões sobre as dimensões das alterações climáticas, como "Lektionen in Finisternis", documentário histórico de Werner Herzog, que retrata o desastre dos campos petrolíferos do Kuwait em chamas, e da série "OceanXplorers", que conta com James Cameron.

O festival vai organizar ainda um conjunto de `talks` (conversas), num formato `stand up` para haver dinamismo e ser o oposto de conferências tradicionais. As conversas terão "linguagem acessível às pessoas" e serão "em tom bem-disposto", com a participação de cientistas, artistas e humoristas.

Capicua, Hugo Van Der Ding, Joana Barrios, João Manzarra, Love Ssega, Marta de Menezes, Sara Prata, Selma Uamusse são alguns nomes das artes e da cultura envolvidos nesta primeira edição do Boil e nas suas `talks`, a par de investigadores de diferentes áreas como Carlos Fiolhais, David Marçal, Fátima Vieira, Francisca R. Gonçalves, Helena Freitas, Isabel Azevedo, João Lobo Antunes, Marina Dolbeth, Patrícia Garcia Pereira, Pedro Matos Soares.

Há também ativistas como Charlie Waterhouse, Joana Guerra Tadeu, Liz Slade, profissionais de setores que vão da moda ao turismo e comunicação social, da energia à saúde, arquitetura e urbanismo, como Ana Pinho, presidente da Fundação de Serralves e administradora da REN, Carmona Rodrigues, engenheiro e antigo presidente da Câmara de Lisboa (PSD), ou Carlos Hipólito, da strat-up Phenix em Portugal, sem esquecer nutricionistas e chefs como João Rodrigues e Márcio Baltasar, entre mais de quatro dezenas de convidados.

As instalações "Our Plastic Seas" e "Boiling Point", de Chris Vincze, sobre "o uso insustentável da água", e "Micro, Macro", de Ryoji Ikeda, que envolve Serralves, são mais algumas das muitas propostas do festival, que tem a programação integral disponível no seu `site` (boilfest.com).

Questionada sobre se o festival dedicado às alterações climáticas vai regressar em 2025, Graça Fonseca asseverou que sim.

"Vamos fazer seguramente para o ano de 2025. Aliás, vamos tentar fazer uma conexão com a Cimeira do Clima, no Brasil [...], e um dos nossos parceiros é o Museu do Amanhã [no Rio de Janeiro]. Em 2025 vai existir de certeza", concluiu.

O Boil é um conceito original da agência Because Impacts, em coprodução com a Fundação de Serralves. Os bilhetes permitem também ver o Serralves em Luz, que inclui 13 instalações interativas, sob a temática "Sonhos e Ilusões".

A Because Impacts é uma "agência de impacto" centrada na conceção e desenvolvimento de projetos "com impacto positivo no planeta e nas pessoas", cofundada e dirigida pela ex-ministra da Cultura Graça Fonseca.

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