Alcobaça, Leiria, 27 jun (Lusa) -- O Cistermúsica 2018 reúne em Alcobaça músicos de mais de 20 países, que realizarão 40 concertos ao longo de um mês de festival, que tem por objetivo celebrar um mundo multicultural e sem fronteiras.
"Pela primeira vez, o Festival assume uma matriz de manifesto contra o fecho de fronteiras e a xenofobia", disse hoje à agência Lusa Alexandre Delgado, diretor do Cistermúsica, que, na edição de 2018 vinca a sua matriz universalista juntando em Alcobaça "músicos de mais de 20 países de todo o mundo".
Com arranque marcado para sexta-feira, o Cistermúsica 2018, que hoje foi apresentado à imprensa, vai prolongar-se até ao dia 29 de julho com a apresentação de 40 concertos que fazem parte da "Programação Principal", da `Off`, dedicada a um público mais alternativo e da "Júnior e famílias", com iniciativas para os mais pequenos.
A "Missa de Notre Dame", de Guillaume de Machaut, a primeira versão musical completa do ordinário da missa e obra fundadora do cânone da música ocidental, abre, a 01 de julho, a "Programação Principal", interpretada pelo Ensemble Gilles Binchois, na nave central do Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça.
A edição 2018 será ainda marcada pela apresentação de três óperas, entre as quais a `joco-séria` "Guerras de Alecrim e Manjerona" (1737), de António José da Silva e António Teixeira, interpretada pelos Músicos do Tejo e pela S.A. Marionetas, companhia de Alcobaça.
A ópera infantil "A Floresta", de Eurico Carrapatoso, numa adaptação do conto homónimo de Sophia de Mello Breyner Andresen, com libreto de Isabel Alçada e Ana Maria Magalhães, é outras das apostas da programação em que, em termos de ópera, se destaca ainda "Domitila", do brasileiro João Guilherme Ripper, baseada nas cartas do imperador D. Pedro I e da Marquesa de Santos.
A nível da música de câmara, a organização destaca o Quarteto Casals (Espanha) e o recital do pianista russo Alexander Ghindin, que assinala o centenário da morte de Debussy e de António Fragoso, e os 150 anos do nascimento de Vianna da Motta.
Pela primeira vez o Cistermúsica contará com a participação da Orquestra Estatal de Atenas, dirigida por Stefano Tsialis, que apresentará em Alcobaça um concerto sinfónico com a Sinfonia de César Franck.
A orquestra Estágio Gulbenkian levará ao mosteiro obras de Mozart, Ravel e Manuel Durão, enquanto a recém-fundada Orquestra Consonância se centrará nas obras de Vivaldi, Mozart, Elgar e Nino Rota, o compositor dos filmes de Fellini.
Na dança, a companhia de dança Quorum Ballet e a Orquestra Filarmónica Portuguesa juntam-se para a interpretação do bailado "A Sagração da Primavera", de Stravinsky.
Na dança contemporânea o festival mostrará criações de Cristina Planas Leitão. Da companhia Vortice Dance e, a encerrar, haverá uma homenagem ao mito universal de Pedro e Inês, cujos túmulos repousam na Nave Central do Mosteiro de Alcobaça, com coreografia de Fernando Duarte.
Na programação `Off`, o festival volta a apostar na ligação entre a música e o cinema, com o pianista Paulo Melo a acompanhar, com música ao vivo, o filme de Charlie Chaplin, "O Garoto".
Assumindo-se como "um festival inclusivo", o Cistermúsica assinala os 20 anos da atribuição do Prémio Nobel a José Saramago com a atuação do grupo de teatro Triacto a levar ao palco "A Maior Flor do Mundo".
As atrizes Dalila do Carmo e Ana Zanatti fazem também parte, este ano, da programação: A primeira no módulo Júnior & Famílias, narrando as "Memórias de um Burro", da Condessa de Ségur, com o pianista Daniel Cunha e música de Paul Ladmirault; a segunda, declamando poesia num espetáculo em que "O Requiem", de Frei Manuel Cardoso, é cantado pelo Grupo Vocal Olisipo.
Com um orçamento de 240 mil euros, comparticipados pela Direção-Geral das Artes e pelo município de Alcobaça, o festival "vai ocupar pela primeira vez a cerca do Mosteiro", sublinhou Alexandre Delgado, ressalvando que ali decorrerão "três espetáculos de entrada livre".
Organizado pela Banda de Alcobaça e com produção da Academia de Música de Alcobaça, o Cistermúsica - Festival de Música de Alcobaça ocupa uma multiplicidade de espaços quer no Mosteiro, quer noutros recintos da cidade e da região.
Com a Rota de Císter, o festival ganhou também, desde 2015, uma dimensão nacional que leva parte da sua programação principal ao património cisterciense edificado noutros concelhos do país.