Uma carta de tarot, o pendurado, surge de pernas para o ar, no meio de uma nuvem de fumo, que mais parece uma cabeleira de névoa branca, a cobrir o rosto de um homem.
De olhos cerrados, indiferente à turbulência, o homem aparece reclinado e sereno ao lado de uma lâmpada apagada. Este é um dos dois auto-retratos que o artista Fernando Lemos compôs, e aquele em que a vertente onírica mais se evidencia. O fotógrafo surrealista, em jeito de provocação, como era a essência da sua arte, disse ser esta a fotografia que gostaria de ter no seu passaporte. Data de 1949, três anos antes do multifacetado artista, fotógrafo, pintor, designer gráfico e poeta deixar Portugal para se radicar no Brasil, de onde só voltou depois do 25 de abril.