‘Fake News’: “distribuição deliberada de informação falsa ou informação manipulada ou desinformação. O problema é identificar e distinguir as duas últimas”.
É assim que o glossário do espaço “Fake News: Estamos em Guerra?” descreve o fenómeno. Em Sintra, no NewsMuseum, é apresentado um glossário e seis casos de estudo daquilo que se considera ser informação falsa ou manipulada.
Com maior incidência nos dias de hoje, as ‘notícias falsas’ são um fenómeno de há muito. Rodrigo Moita de Deus, diretor do museu, revelou ao online da RTP que este é um tema incontornável da atualidade que teria de ser apresentado ao público mais tarde ou mais cedo.
“Nós pegámos em casos práticos e dividimos em três momentos da história: o pré-Facebook, antes do Facebook é um tempo distante, o presente nas redes sociais e, sobretudo, o futuro, que é a nossa grande preocupação. Como é que os homens e as mulheres vão gerir informações, conteúdos, notícias num tempo em que os modelos de inteligência artificial conseguem manipular a imagem?”
O primeiro grande exemplo de “fake news” e que é explicado nesta exposição é a explosão do USS Maine, cruzador norte-americano que explodiu na Baía da Havana em 1898 e que acabou por originou um conflito diplomático e uma guerra entre Estados Unidos e Espanha, que levou à afirmação global dos norte-americanos.
“Os espanhóis foram acusados de sabotar o [USS] Maine e hoje em dia sabe-se, está mais ou menos comprovado, que foi um acidente numa caldeira. Portanto uma ‘fake news’ que dá origem a um dos momentos mais transformadores da história dos homens e das mulheres”.
Não são só as palavras que podem ser manipuladas. Um dos outros casos práticos desta exposição é, por exemplo, o Reutersgate, em 2006. Um acontecimento a envolver fotos de um ataque israelita no Líbano e que levou à manipulação de imagens que, mais tarde, a Reuters teve de retirar terminando a cooperação com o fotógrafo Adnan Hajj.
“É a primeira vez que uma agência daquela dimensão admite que houve manipulação de imagem, para exagerar um bombardeamento israelita. Isso foi um marco na história das ‘fake news’ porque é admitida a possibilidade de que algumas imagens são manipuladas por computador”.Literacia para o futuro
“Hoje em dia, aquilo que os Estados começam a fazer é exigir às plataformas que façam essa curadoria. Isso também tem riscos. Estamos a passar ao senhor Elon Musk o poder de filtrar aquilo que eu posso ou não posso dizer”.
“Que maravilha que é podermos estar sentados num sítio a confirmar a veracidade da informação. O que é que falta? Literacia”.
O diretor do museu dedicado ao jornalismo acredita que a literacia pode ser a resposta para um combate mais eficaz às ‘fake news’, que as pessoas fora dos círculos informativos também podem aprender onde podem e devem confirmar a veracidade das informações que leem ou veem.
“Os meios de comunicação social, hoje em dia, já começaram a desempenhar esse papel. Vamos banalizando ferramentas como o Polígrafo, que era na prática o que se aprendia na escola que era o trabalho do jornalista. Hoje em dia até temos uma categoria especial só para isso”.
Apesar do que pode ser feito, Rodrigo Moita de Deus acredita que os meios de comunicação social não estão a saber lidar com esta era de ‘fake news’.
O processo será rápido. Não precisará de muitos anos e neste momento já há muita manipulação.
O diretor do museu acredita que os Estados terão um papel difícil, já que será complicado distinguir o que é verdadeiro e o que não é, e sublinha que a literacia vai continuar a ser a resposta no futuro, mesmo que demore mais de uma geração a aprender o que se deve fazer contra as ‘fake news’.
Para além do USS Maine e do Reutersgate, a exposição tem mais quatro casos específicos de estudo: as declarações de Colin Powell que antecederam a invasão do Iraque em 2003, a fábrica de fake news na corrida presidencial norte-americana entre Donald Trump e Hillary Clinton, o caso Cambridge Analytica e os bots na Guerra da Ucrânia (2022).