"Fado Capital" reúne diferentes gerações fadistas e resgasta temas do vinil
Lisboa, 17 Dez (Lusa) - Fernanda Maria e Maria da Fé são alguns dos nomes que integram o álbum "Fado Capital", uma colectânea que resgata arquivos do tempo do vinil como "Cheira a Lisboa" por António Mello Corrêa.
A proposta, explicou à Lusa fonte da editora, "é dar uma perspectiva de diferentes formas de cantar através de várias gerações e como estas passam o testemunho".
O álbum, editado pela Ovação, integra 13 fados, alguns editados pela primeira vez em vinil como é o caso de "Cheira a Lisboa" (Carlos Dias/Carlos Oliveira) interpretado por António Mello Corrêa, falecido em 1982.
Este foi um fado do teatro revista, criado por Anita Guerreiro, que Mello Corrêa - um dos fundadores da casa de fados Senhor Vinho ao lado de José Luís Gordo e Maria da Fé - recriou.
"Muitos destes registos corriam o risco de ficar no arquivo pois o vinil tornou-se obsoleto e assim resgata-se para a actualidade na medida em que a memória destes fados persiste", disse a mesma fonte.
"António Mello Corrêa, um ser humano extraordinário, era uma personalidade forte que criou uma imagem no fado, cantava sempre de negro e a fumar, o que seria impensável nos dias de hoje", recordou o poeta José Luís Gordo.
"A sua força como ser humano resultava na entrega absoluta em cada fado que cantava", acrescentou.
Entre os nomes já desaparecidos constam também os de
Vasco Rafael, Tristão da Silva e Fernando Maurício, falecido há quatro anos, apelidado em vida de "rei do fado", que canta "Na Mouraria" (Júlio Pereira/Gabriel de Oliveira).
Vasco Rafael que morreu em 1998, interpreta "Vinha dizer adeus" (Tozé Brito/Rosa Lobato Faria) e Tristão da Silva, falecido em 1978, canta "Poema cansado" (Martinho da Assunção/Paco Gonzalez).
O tema "Canto o fado" (João Nobre) sobressai dos restantes registos pois é interpretado a quatro vozes: Alexandra, Maria da Fé, Maria Armanda e Lenita Gentil.
Maria da Fé e Lenita Gentil são aliás dois nomes que bisam a participação neste CD, respectivamente "O que é que eu digo à saudade" (José Luís Gordo/Mário Raínho/José Rocha) e "Na rua dos teus ciúmes"(Frederico Valério/Nélson de Barros), uma criação do teatro de revista de Helena Tavares.
O poeta José Luís Gordo recordou à Lusa que o fado interpretado por Maria da Fé "tornou-se no seu primeiro sucesso depois do grande êxito que foi `Cantarei até que a voz me doa`".
"Foi um fado que ficou no ouvido e foi muito trauteado na rua e isso é muito compensador para quem cria e para quem canta que também é um criador", acrescentou.
Fernanda Maria, Prémio Amália Rodrigues Carreira 2006, é outra das vozes escolhidas.
O fado escolhido foi "A candeia" (Joaquim de Campos/Frederico de Brito), um tema que fadista disse à Lusa "ser muito solicitado quando cantava todas as noites" na sua casa, o restaurante típico Lisboa à Noite.
"Um tema que não é fácil de interpretar, na música do fado Vitória, que exige subtileza para que se entenda os segundo sentidos das palavras empregadas pelo poeta", disse.
A fadista que se encontra retirada das luzes de ribalta disse ainda que "muitas noites tinha de o cantar três e quatro vezes, pois gostavam muito, e repetia-o muitas vezes nos espectáculos".
A primeira vez que gravou este fado foi para uma discográfica norte-americana que se deslocou propositadamente a Portugal para gravar a fadista que se recusava a actuar e a gravar nos estados Unidos.
O tema recuperado no CD da Ovação foi gravado "há cerca de 40 anos" para a etiqueta Estúdio, já extinta.
Outros nomes incluídos no CD são os de Ana Maria, Vicente da Câmara, Rodrigo, Nuno da Câmara Pereira e Diamantina.
NL.
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