Escritor Luis Sepúlveda morreu vítima do novo coronavírus

por Andreia Martins - RTP
Luís Sepúlveda em Grândola, no Alentejo DR

O escritor chileno de 70 anos estava internado em Espanha desde fevereiro, altura em que tinha testado positivo para o novo coronavírus. Na semana anterior, Luis Sepúlveda tinha participado no Correntes d’Escritas, na Póvoa de Varzim.

Luis Sepúlveda estava internado no Hospital Universitário Central das Astúrias, em Oviedo, em Espanha, desde 27 de fevereiro, altura em que foi diagnosticado com Covid-19.
O escritor chileno tinha participado alguns dias antes no festival literário Correntes d'Escritas, na Póvoa de Varzim, que decorreu entre 15 e 23 de fevereiro. A mulher de Sepúlveda, a poetisa Carmen Yáñez, também esteve hospitalizada em fevereiro.

Luis Sepúlveda nasceu no Chile a 4 de outubro de 1949. Entre os livros mais conhecidos e aclamados do escritor estão "História de Uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar" e "O Velho que Lia Romances de Amor".

Escreveu desde contos, romances a livros de viagem, ensaios, tendo trabalhado também como repórter. O último livro que escreveu foi "História de Uma Baleia Branca", publicado em 2019.

O escritor chileno abandonou o seu país de origem em 1977, durante a ditadura de Pinochet. Esteve ligado a vários movimentos de inspiração comunista e socialista. tendo-se mesmo alistado nas fileiras sandinistas no final dos anos 70, em concreto na Brigada Internacional Simon Bolívar.

Foi também defensor de causas ambientais, tendo trabalhado com a Greenpeace nos anos 80. Interessou-se pelos contrastes regionais na América Latina e defendeu as origens mapuche da família, que homenageou no livro "História de Um Cão Chamado Leal"
A relação próxima com Portugal

Na sua última entrevista, ao programa "Todas As Palavras", da RTP, ao lado da mulher e no contexto do festival Correntes d'Escritas, Luis Sepúlveda e Carmen Yáñes recordam a vida partilhada de militância política. Ambos chegaram a ser presos e torturados.

Foi precisamente na prisão que Luis Sepúlveda ouviu falar em Portugal e no 25 de Abril. Nesse dia, o escritor e os colegas de cárcere estranharam a ausência de tortura. Quando perguntaram o que se estava a passar, os carcereiros responderam: "Vocês venceram em Portugal".

Essa história que o escritor contava várias vezes - aqui recordada pela jornalista Ana Daniela Soares na RTP3 - terá sido a base de uma relação "muito próxima" com Portugal. Luis Sepúlveda chegou mesmo a equacionar viver em Portugal, mas acabou por optar por Espanha devido à língua.

Nos últimos tempos, destaque para o ativismo por causas como a defesa da Amazónia ou a luta contra as desigualdades sociais.

Em Portugal, a sua obra está integralmente publicada e alguns dos livros fazem mesmo parte do Plano Nacional de Leitura. A Porto Editora, responsável pela publicação do autor no país, já manifestou pesar pela morte do escritor.

Luis Sepúlveda terá deixado um novo livro a meio e vários poemas escritos ao longo da vida que não foram publicados.

"A Porto Editora manifesta o seu mais profundo pesar pelo falecimento do seu autor, Luis Sepúlveda. O escritor chileno tem a sua obra editada em Portugal pela Porto Editora e era presença assídua na Feira do Livro de Lisboa, em sessões de autógrafos onde era bem visível o carinho do público português pelos seus romances", lê-se numa nota publicada pela editora.

A editora lembra ainda que o escritor esteve presente "em quase todas as 21 edições do Festival Correntes d'Escritas, na Póvoa de Varzim", incluindo este ano.

Em declarações à RTP3, Paulo Rebelo Gonçalves, da Porto Editora, recordou um escritor que marcou gerações e que tem milhares de leitores em Portugal.
Os leitores, desde os mais jovens aos mais velhos, juntavam-se às "centenas" para falar ou conseguir um autógrafo do escritor quando este marcava presença num evento em Portugal, nomeadamente na Feira do Livro.
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