Entrevista inédita. Maria Teresa Horta e a atualidade das "Novas Cartas Portuguesas"
A escritora Maria Teresa Horta acreditava que o livro "Novas Cartas Portuguesas", que escreveu em co-autoria com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, mantinha ainda hoje atualidade, devido à situação de opressão das mulheres em Portugal e em muitos outros países do mundo.
Teresa Horta recordava que a publicação do seu livro de poesia "Minha Senhora de Mim" levou a editora Snu Abecassis a ser chamada e ameaçada de represálias pelo chefe do Secretariado Nacional de Informação do regime do Estado Novo, Moreira Baptista, e que, por causa dessa ameaça, foi forçada a publicar noutra editora.
Apesar de o livro "Novas Cartas Portuguesas" conter uma denúncia social e política da ditadura e da condição da mulher durante o regime de Marcelo Caetano, Teresa Horta explicou às escritoras francesas Simone de Beauvoir, Marguerite Duras e Christiane Rochefort que não se tratava de um "panfleto político, mas de uma obra literária" quando lhes enviou o livro, clandestinamente, por intermédio de um amigo de Isabel Barreno, que se deslocou a França.
O livro foi lido e discutido no primeiro Congresso Feminino, tendo suscitado protestos internacionais contra o julgamento a que as três autoras - as chamadas "Três Marias" - estavam a ser sujeitas em Portugal (e que terminaria com a absolvição após o 25 de Abril).
Maria Teresa Horta acreditava que essa "solidariedade feminina internacional" de que beneficiaram as três escritoras portuguesas surpreendeu o regime da ditadura portuguesa e conta que as Três Marias recusaram a oferta do então ministro da Justiça de se retratarem e pedirem desculpa pela publicação.