Entrevista a Zahi Hawass. Egito, uma herança em risco

Zahi Hawass é o talvez mais conhecido egiptólogo do planeta. O nome e o rosto deste egípcio de 77 anos ocupou as mais altas responsabilidades na exploração arqueológica e está associado a dezenas de documentários de TV, livros e palestras como divulgador da herança do Antigo Egito.

É um homem prático, sem rodeios e de resposta direta, muitas vezes ensaiada pela repetição com que são feitas as mesmas perguntas por jornalistas ou pelas audiências das palestras que concede cm regularidade em todo o mundo.

Talvez por isso, Zahi Hawass reclame sem hesitar, por sua ação direta, a devolução às autoridades egípcias de seis mil artefactos roubados durante o período colonial, não só no Egito. Com a mesma convicção, denuncia que, ainda hoje, há museus no mundo a receberem objetos roubados, o que também considera uma forma de perpetuar o colonialismo.

Mas não se fica pela denúncia e tem a decorrer uma campanha internacional para a devolução ao seu país de três obras do Antigo Egito que se encontram atualmente em Museus no ocidente: o busto de Nefertiti, atualmente no Museu de Berlim, a Pedra de Roseta, que se encontra no Museu Britânico, em Londres, e o Zodíaco do Templo de Dendera, guardado no Museu do Louvre, em Paris.

Acredita que os países ocidentais não têm outra alternativa senão entregar estes e outros objetos e obras de arte porque há uma opinião pública cada vez consciente sobre o modo violento como muitos destes objetos foram adquiridos no passado.
O turismo é "o inimigo da arqueologia"

No plano da arqueologia, Hawass reclama a autoria de várias descobertas e investigações recentes, entre elas a recente descoberta de Aden, a que foi atribuída o nome de Cidade Dourada e que considera ser a maior urbe do Antigo Egito conhecida até agora. Nota o estado de grande preservação de objetos, ferramentas e utilidades do quotidiano, encontrados nas escavações.

Jornalista: João do Rosário | Imagem: Filipe Silva

Avança que o presente ano vai ser de anúncios de novidades sobre a Grande Pirâmide, no Cairo. Resume o potencial da antiga civilização egípcia ainda por ser revelado com a idea de que ainda só se conhece 30 por cento de tudo o que construiram as pessoas que viveram nos tempos dos faraós.

Apesar do otimismo com que fala sobre os monumentos, achados e tesouros antigos, Zahi Hawass tem dúvidas sobre a manutenção desta herança como hoje a conhecemos e olha para o turismo como o grande inimigo da arqueologia.

Diz que o país não está a saber conciliar aquela que é uma das mais importantes atividades económicas do Egito com a preservação dos monumentos. Alerta que, caso não haja medidas de proteção e permaneça a situação de continuarem a entrar milhares de turistas nos locais arqueológicos, dentro de 100 anos os túmulos e monumentos do Vale dos Reis, por exemplo, poderão estar completamente arruinados.

Apela ao resto do mundo para que ajude a preservar uma herança que, diz, não é apenas do povo egípcio mas de todos, em todas as partes do planeta. Por isso, também de Portugal.