Doris Salcedo evoca vidas destruídas pela violência em "Oração Silenciosa"

por © 2011 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.

Lisboa, 10 nov (Lusa) - A artista colombiana Doris Salcedo, que tem vindo a desenvolver uma obra de reflexão sobre a violência política e social, afirmou hoje, em Lisboa, que "uma das funções da arte é questionar" o que acontece no mundo.

A artista veio a Lisboa para inaugurar na sexta-feira a exposição "Plegaria Muda" (Oração Silenciosa) no Centro de Arte Moderna (CAM) da Fundação Calouste Gulbenkian, e realizou uma visita guiada com os jornalistas.

A instalação - resultado de um projeto iniciado em 2004, com uma investigação sobre jovens assassinados em lutas de gangues em Los Angeles, e fazendo também referências à violência na Colombia - é composta por 162 esculturas criadas com mesas, terra e erva.

Parte das esculturas, disse a diretora do CAM, Isabel Carlos, aos jornalistas, já foi anteriormente apresentada no México e na Suécia, mas é agora apresentada na totalidade na Gulbenkian, acompanhada ainda, na exposição, por fotografias e um vídeo sobre a obra de Doris Salcedo.

Isabel Carlos destacou a importância de apresentar na Gulbenkian a obra de uma artista que tem vindo a ganhar reconhecimento da crítica internacional, e que está pela primeira vez em Portugal.

Na última década, Doris Salcedo tem vindo a criar instalações de grande escala ou intervenções arquitetónicas para museus e galerias ou para o espaço urbano, entre elas "Shibboleth", uma fenda de 167 metros criada sobre o chão do Turbine Hall na Tate Modern em Londres, em 2007.

"O artista é alguém que conecta muitas coisas", comentou a artista, cujo processo de trabalho começa habitualmente por uma entrevista às vítimas de violência ou a testemunhas.

"Aquilo que faço não é denunciar, mas apontar para uma situação. O público não é obrigado a ver, tem essa liberdade", sublinhou.

Para Doris Salcedo, cuja obra evoca episódios de violência em todo o mundo, incluindo a Colômbia, onde nasceu, em 1958, o mais importante é "restaurar o humano, o belo que existe nesse contexto" e "não estetizar ou magnificar a própria violência".

"Sinto-me impotente para ajudar as vítimas, mas através da minha obra encaro os poderosos", afirma no vídeo que o público poderá ver antes de entrar na exposição com 162 esculturas simbólicas dos desaparecidos e que, "infelizmente, é um número que poderia continuar".

Ao entrar na exposição, o público vai deparar-se com uma espécie de cemitério, com dezenas de mesas semelhantes a caixões espalhados pelo espaço, convidando a uma meditação, a uma oração silenciosa. Um título, que, segundo a artista, sintetiza toda a sua obra.

Mas, no meio da violência, a relva continua a crescer - com a vigília constante dos serviços de jardinagem da Gulbenkian -- e representa "a vida que prevalece sempre".

A mostra resultou de uma encomenda conjunta do CAM-Fundação Calouste Gulbenkian e do Moderna Museet Malmö e foi produzida em colaboração com o MUAC -- Museo Universitario Arte Contemporáneo, do Mexico, o MAXXI -- Museo nazionale delle arti del XXI secolo, de Roma, e a Pinacoteca do Estado de São Paulo, Brasil.

"Plegaria Muda", com curadoria de Isabel Carlos e curadoria executiva de Rita Fabiana, é inaugurada sexta-feira no CAM e fica patente até 22 janeiro de 2012.

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