Crioulo é uma língua reconhecida que muitos consideram um dialecto

por Agência LUSA

O curso livre "Os crioulos de base lexical portuguesa", que se inicia este mês na Universidade Nova de Lisboa, pretende destacar o reconhecimento do crioulo como língua autónoma, apesar de ainda ser considerado um dialecto.

"Raramente se atribui o estatuto da língua, que há muito tempo foi atribuído. Muitas pessoas pensam que o crioulo é um dialecto", disse à Agência Lusa Isabel Tomás, do Departamento de Linguística da Universidade Nova de Lisboa (UNL).

De acordo com a docente, o crioulo não tem gramática, não existindo forma no plural e os verbos não têm flexão como na língua portuguesa.

"Tudo isto leva o falante leigo a dizer que não sabem falar português", salientou, adiantando que o curso livre, a decorrer entre 13 de Abril e 15 de Junho, pretende desmistificar a ideia de que "o crioulo é uma forma incorrecta de falar português".

Por isso, um dos destinatários do curso são os professores do ensino básico e secundário que, nas escolas da Grande Lisboa, se deparam com alunos provenientes de comunidades falantes de crioulos, cujas características linguísticas são frequentemente confundidas com problemas de aprendizagem comum.

"Ao aprenderem as características do crioulo, os professores percebem que esses alunos não estão a cometer erros, mas sim a misturar no português palavras em crioulo, que são influenciadas pela língua que se fala em casa", disse.

O curso livre sobre os vários crioulos que tiveram o português como base destina-se igualmente aos alunos da universidade, membros de associações e profissionais envolvidos em trabalhos sociais com comunidades que falam crioulo.

Isabel Tomás adiantou que o curso não tem por objectivo a aprendizagem do crioulo, mas sim compreender a formação, as características estruturais e as implicações sociais, culturais e linguísticas que a presença de falantes destes crioulos em Portugal podem evidenciar.

A Universidade Nova de Lisboa ao realizar pela primeira vez um curso sobre crioulo pretende ainda "reconhecer o interesse e a necessidade de introduzir este tema a nível académico", uma lacuna que, segundo Isabel Tomás, existe nas licenciaturas de línguas ministradas na faculdade.

A docente defendeu a necessidade da existência de uma cadeira sobre o tema nas várias licenciaturas.

De acordo com a coordenadora do curso, o crioulo de base lexical portuguesa fala-se actualmente em Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Malaca, Damão e Diu.

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