A coreógrafa Vera Mantero vai doar o seu arquivo artístico à Fundação de Serralves, num gesto consagrado pela assinatura do contrato de doação, a realizar na próxima terça-feira, no Porto, anunciou hoje a fundação.
"A doação permitirá à Fundação de Serralves a pesquisa, preservação e divulgação de um Arquivo que é património substancial da História da Dança Contemporânea e da Performance em Portugal", lê-se no comunicado de Serralves, que sublinha igualmente "o papel do Museu enquanto lugar de memória (também das artes imateriais) e de produção de conhecimento nesta área".
O arquivo de Vera Mantero "integra uma coleção audiovisual com anos de atividade artística e formativa, bem como o seu importante acervo fotográfico, documental e bibliográfico", especifica a fundação.
Serralves destaca "o corpo de trabalho de Vera Mantero e da sua Associação Rumo do Fumo, amplamente reconhecido e englobando mais de 30 anos de criação", como reflexo de "influências filosóficas, científicas, políticas, literárias e das artes visuais que perpassam as suas performances, filmes, conferências dançadas e ensaios críticos".
A Fundação de Serralves recorda que o arquivo de Vera Mantero "irá juntar-se a um relevante conjunto de Arquivos já depositados" na instituição, "como o Arquivo Álvaro Siza, o Arquivo Álvaro Siza/Carlos Castanheira, o Arquivo Tereza Siza, o Arquivo Manoel de Oliveira, o Arquivo Julião Sarmento, o Arquivo Atelier RE.AL de João Fiadeiro, o Arquivo Alternativa Zero e o Arquivo Manuel Mendes".
Um dos nomes centrais da Nova Dança Portuguesa, Vera Mantero iniciou a carreira coreográfica em 1987 e, desde então, tem mostrado o seu trabalho por toda a Europa e em países como Argentina, Uruguai, Brasil, Canadá, Coreia do Sul, Estados Unidos e Singapura.
Em 2019, apresentou a peça "O Limpo e o Sujo", sobre a sustentabilidade do planeta, em Lisboa, para assinalar os 20 anos de O Rumo do Fumo, estrutura de criação e produção artística que fundou em 1999.
As preocupações ecológicas são uma constante na carreira desta criadora, que, em 2018, participou, pela segunda vez, num projeto desenvolvido no Brasil, na região da Amazónia, onde artistas de todo o mundo estiveram a realizar `workshops` que ligavam a arte e a natureza.
Em 1999 a Culturgest organizou uma retrospetiva do seu trabalho até àquela data, intitulada "Mês de Março, Mês de Vera".
Mantero representou Portugal na 2.ª Bienal de São Paulo 2004, com "Comer o coração", projeto criado em parceria com o escultor Rui Chafes, e em 2002 foi-lhe atribuído o Prémio Almada, do Ministério da Cultura.
Em 2009 recebeu o Prémio Gulbenkian Arte, pela carreira como criadora e intérprete.
Vera Mantero estudou dança clássica com Anna Mascolo e fez parte do Ballet Gulbenkian entre 1984 e 1989.
Em 2023, a Fundação de Serralves acolheu a antestreia do documentário "O susto é um Mundo", da realizadora Cristina Ferreira Gomes, que acompanha o processo criativo da coreógrafa, ao longo de um ano.
A assinatura do contrato de doação, na próxima terça-feira, realiza-se no Museu de Serralves, e conta com a presença da coreógrafa, performer e investigadora, assim como da presidente do Conselho de Administração da Fundação de Serralves, Ana Pinho, e do diretor do Museu de Serralves, Philippe Vergne.