A cooperativa Oficina tem estado em contacto com o Ministério da Cultura para que seja encontrada uma solução que permita ao Centro de Artes José de Guimarães receber financiamento direto do Estado, estando o atual Governo aberto à ideia.
Na quarta-feira, a ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, foi questionada no parlamento pelo deputado do Partido Social Democrata (PSD) e líder da concelhia de Guimarães, Ricardo Araújo, sobre a possibilidade de ser encontrada uma forma de financiar diretamente uma estrutura como o Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG), nascido aquando da Capital Europeia da Cultura (CEC), em 2012, sendo assim equiparado a outras estruturas em situação semelhante, como o Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, e a Casa da Música, no Porto, também resultantes das respetivas CEC.
Na resposta, a ministra afirmou: "Tem toda a legitimidade que seja dirigida ao Ministério da Cultura essa proposta de integração nas poíiticas de apoio a organismos e entidades que resultam de outras capitalidades como é o caso da Casa da Música ou do CCB. Não vejo nenhuma razão, pelo contrário, para que o Centro de Artes de Guimarães não tenha esse apoio".
Em 2024, a Fundação CCB recebeu uma transferência do Estado de 11,5 milhões de euros, enquanto para a Casa da Música foram destinados 10 milhões, de acordo com uma resolução de Conselho de Ministros de dezembro do ano passado.
Hoje, em resposta a questões por escrito da Lusa, o presidente da direção de A Oficina, Paulo Lopes Silva, defendeu que o CIAJG deveria "ser financiado diretamente pelo Ministério da Cultura de Portugal através de subvenções ou outros modelos financeiros".
"A Oficina tem tido reuniões periódicas com o Ministério da Cultura, nos vários governos, onde temos tido a oportunidade de expor o nosso ponto de vista, e, ainda recentemente, estivemos no Ministério da Cultura, já com o governo atual em funções. Dessa reunião resultou a convicção e genuína vontade do Ministério de encontrar uma solução definitiva para o CIAJG, sem desvirtuar questões jurídicas que possam existir. O canal de diálogo com o Ministério está aberto e as soluções estão a ser estudadas", pode ler-se na resposta de Paulo Lopes Silva.
O dirigente de A Oficina lembrou que, "no enquadramento atual, o CIAJG está muito limitado quanto ao valor de fundos a que pode concorrer, circunscritos [à Direção-Geral das Artes]".
"Assim, alterando-se o modelo de financiamento, poderia o CIAJG desenvolver uma política de programação nas artes visuais mais ambiciosa e de acordo com a ideia original, aquando da sua conceção, integrada no cumprimento da sua missão nacional e internacional", acrescentou.
Paulo Lopes Silva disse acreditar que existe "a firme convicção da perceção e vontade, por parte do Ministério da Cultura, em encontrar uma solução, conforme os sinais de abertura que [têm tido] nas reuniões que [têm] mantido".
Inaugurado em junho de 2012, no âmbito da Guimarães CEC daquele ano, o CIAJG acolhe parte da "coleção do artista José de Guimarães, composta por arte africana, arte pré-colombiana, arte antiga chinesa, e um conjunto representativo da sua obra".
José de Guimarães, seu nome artístico, nasceu em 1939 naquela cidade minhota e começou a trabalhar como artista na década de 1960, tendo sido bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian em 1976 e 1977.
"José Maria Fernandes Marques decidiu adotar, como pseudónimo, o nome da sua cidade de origem, após ter trabalhado como geólogo, engenheiro e arqueólogo. Embora tivesse viajado por França, Itália e Alemanha no início dos anos 60, a sua carreira definir-se-ia pela descoberta de regiões distantes e incomuns, de África ao Japão, do México à China. Cada uma destas culturas estimulou-o a desenvolver uma linguagem universal e a transmitir um universo imaginário que, afinal, reaviva a memória da própria História portuguesa", lê-se na biografia do artista publicada pela Fundação Calouste Gulbenkian.
Estudante da Academia Militar e engenheiro formado pela Universidade Técnica de Lisboa, a sua vocação artística "foi efetivamente despertada em 1967, ano em que atravessou o continente e rumou a Angola para trabalhar como engenheiro militar".
Várias vezes premiado, já expôs de forma extensa no estrangeiro e em Portugal.
"Desde que iniciou a sua atividade, em 2012, o CIAJG tem vindo a afirmar-se como um projeto cultural de caráter experimental e discursivo, apresentando reflexões sobre as suas coleções, numa crítica contínua à ideia de museu", indica o museu, no seu `site`.
Gerido pela cooperativa A Oficina, também responsável por outros espaços da cidade como o Centro Cultural Vila Flor ou a Casa da Memória, o CIAJG é atualmente dirigido pela curadora Marta Mestre, no cargo desde 2020.
A cooperativa, que organiza eventos como o Guimarães Jazz, o GUIdance, as Festas da Cidade e Gualterianas, é participada em 84,11% pelo município de Guimarães, com o qual assina um contrato-programa que, para este ano, previa uma verba acima dos quatro milhões de euros.