Casa de escritor Jorge Amado na Bahia pode abrir portas do jardim este ano
Macau, China, 12 mar (Lusa) - O jardim da casa de Salvador da Bahia onde as cinzas de Jorge Amado estão enterradas deverá ser a primeira área da propriedade a abrir portas ao público já este ano, disse à Agência Lusa a filha do escritor, Paloma.
"Tenho pensado em abrir ainda este ano o jardim, a área [da casa] em que não dependemos de uma segurança muito grande, quando o conseguirmos manter bem conservado, porque o meu pai está lá e muita gente gostaria de ir ao jardim, sentar-se debaixo da mangueira" ali plantada e "estar um pouco com ele", explicou Paloma Amado em Macau.
Jorge Amado morreu em agosto de 2001 e hoje teria 100 anos. A mulher, Zélia Gattai, morreu em maio de 2008, aos 91 anos. As cinzas dos dois estão enterradas debaixo da grande árvore do jardim da casa.
A família do escritor brasileiro tenta há cerca de dez anos estabelecer uma parceria com o Governo para transformar em museu a Casa do Rio Vermelho, onde Jorge Amado e a mulher viveram até ao fim da vida.
A filha Paloma garantiu que a família "continua a lutar" por esse sonho, mas que a perspetiva é agora de "estabelecer um acordo no âmbito da iniciativa privada".
"É muito difícil com os Governos (...) eles não têm a visão do que é o escritor independentemente da política, então resolvemos partir para outro caminho", disse.
O arquiteto português Miguel Correia chegou a propor um projeto de renovação, que não irá para a frente por a família Amado pretender "manter a casa exatamente como era para ser simplesmente visitada", segundo Paloma.
Para já, a casa "está fechada e vazia para se preservar o acervo que tinha", disse a filha do escritor, ao indicar que ele "tinha uma coleção de arte popular maravilhosa que está guardada, porque para ser exibida é necessário um nível de segurança que [a família] não tem como pagar".
Paloma Amado lembrou hoje o pai como um "escritor de muitos leitores", com 23 romances, dos quais vários foram publicados em 55 países e traduzidos para 49 línguas, durante uma homenagem prestada ao autor pelo Festival Literário de Macau - Rota das Letras com uma exposição biográfica e a exibição de um documentário realizado pelo brasileiro João Moreira Salles.
A filha explica o sucesso do pai, que foi o brasileiro com obra mais adaptada para o cinema e a televisão, por ter escrito "coisas universais (...), o que significa que foi uma pessoa com uma grande compreensão do ser humano".
"Os velhos marinheiros" é a sua obra preferida, disse à Lusa, por falar de sonhos, "uma coisa fundamental na vida", como aprendeu com o pai, "que gostava de dizer que sonhar é o único bem inalienável do homem, podemos estar presos, sermos torturados, mas resta-nos sempre o sonho, se nos dedicarmos a ele, conseguiremos alcançar o que queremos", recordou.
O sonho de Jorge Amado de ver a sua obra "Capitães de Areia" adaptada ao cinema pela neta Cecília Amado foi realizado em 2011, tendo sido a primeira longa metragem da filha de Paloma como realizadora.
"Ela era muito chegada ao meu pai e quando lhe disse que queria fazer cinema, ele disse-lhe: você vai realizar o meu desejo, porque sempre quis ser cineasta", contou a mãe, uma das produtoras do filme, ao lembrar que "muita gente quis comprar Capitães de Areia", mas que Jorge Amado quis que fosse Cecília a filmar.
"Há outro livro reservado para ela, é o último livro do meu pai, Descoberta da América pelos Turcos, mas Cecília não o fará imediatamente, porque quer fazer outras coisas antes e sobretudo não quer transformar-se na cineasta do avô", explicou a mãe.