O cantor, autor e músico português Pedro Barroso faleceu na segunda-feira à noite, de doença prolongada. Tinha 69 anos.
"Cesso atividade como músico, não me retirando obviamente, nem como homem das ideias, nem das artes, nem das palavras. E da diferença. Não abandono a intervenção crítica, nem a cidadania", escreveu então.
No passado dia 08 de março o seu filho, Nuno Barroso, deu conta, nas redes sociais, da entrada do músico num hospital de Lisboa, "em fase terminal".
Barroso publicou 20 álbuns, o mais recente dos quais Artes do Futuro, em 2017. Pedro Barroso considerou que "Novembro" constituiria a sua "despedida das canções".
"A condição física, após mais um ano de tratamentos médicos, impede-me de tocar; e, mesmo na parte de canto, canso-me ao fim de minutos", disse Pedro Barroso à Lusa, em dezembro, quando mantinha a firme disposição de fazer o adeus aos palcos, no dia 21 desse mês.
Nos anos seguintes colaborou ainda com a Valentim de Carvalho em diversos projectos. O seu primeiro álbum de longa duração foi apenas editado em 1976, pela Diapasão/Sassetti, com o título Lutas Velhas, Canto Novo.
O álbum Quem Canta Seus Males Espanta foi editado em 1980. A canção "Canção Para O Rio Almonda" seria distinguida com o Troféu Karolinka no Festival Menschen und Meer, realizado na antiga RDA, em 1981.
Refletindo, na ocasião, sobre o seu percurso, o músico afirmou: "Durante muito tempo fiz coisas que me encomendavam editorialmente, para vender. Podia ter ficado por aí, pelo 'fazedor de chulas' populares, mas desde há 20 anos que mudei de rumo".
"Desde então - prosseguiu - comecei a fazer o que me dava prazer e tivesse a profundidade que eu desejava".
Na altura, Pedro Barroso prometia "tirar uma licença sabática".
"Irei dedicar-me mais ao Pedro Chora, pintor, que é uma outra faceta minha, e ao Pedro Barroso, escritor. Cantigas, só mais um ou outro disco", acrescentou, nessa entrevista há quase 11 anos.
Da carreira musical, afirmou guardar "gratas recordações" e ter "um mundo de abraços" pelos muitos que espalhou. Se não tivessem sido as cantigas, disse, "não tinha conhecido mundo".
“Violentíssima ternura”
Em nota publicada no portal da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa veio já apresentar “condolências à família do músico Pedro Barroso”.
“Revelado no programa televisivo Zip Zip, em 1969, gravou o seu primeiro EP no ano seguinte, e o primeiro álbum em 1976. Ativo, interventivo, enérgico, foi um dos ‘baladeiros’ antes da Revolução e, já depois do 25 de Abril, envolveu-se nos combates democráticos e nas campanhas de dinamização cultural”, sublinha o Presidente da República.
“Cinquenta anos depois de sua estreia, em dezembro de 2019, quando se despediu dos palcos, em Torres Novas, Pedro Barroso lembrou o que hoje lembramos: a sua voz, o seu empenho, a sua ‘violentíssima ternura’”, conclui adiante.
“Membro de uma geração única”
“Membro de uma geração única da música portuguesa, que transformou a canção em protesto, manifesto, pensamento e transformação social, Pedro Barroso ensinou-nos que ‘a resistência de um povo também se cria a cantar’, uma mensagem tão importante quando a escreveu como nos dias que vivemos, em que é preciso cantar e continuar a resistir”.
“À Família e Amigos enviam-se sentidas condolências”, escreve, por fim, a governante.