O cantor, autor e músico português Pedro Barroso faleceu na segunda-feira à noite, de doença prolongada. Tinha 69 anos.
Em dezembro de 2019 celebrou 50 anos de carreira num "concerto de despedida" no Teatro Virgínia, em Torres Novas, no Ribatejo.
"Cesso atividade como músico, não me retirando obviamente, nem como homem das ideias, nem das artes, nem das palavras. E da diferença. Não abandono a intervenção crítica, nem a cidadania", escreveu então.
"Homem de música e palavras", autodefinia-se Barroso, também artista plástico e pintor.
No passado dia 08 de março o seu filho, Nuno Barroso, deu conta, nas redes sociais, da entrada do músico num hospital de Lisboa, "em fase terminal".
No passado dia 08 de março o seu filho, Nuno Barroso, deu conta, nas redes sociais, da entrada do músico num hospital de Lisboa, "em fase terminal".
Pedro Barroso deixou preparada a edição de um novo disco, intitulado "Novembro", pronto a sair "tão breve quanto possível", segundo o seu editor, Fernando Matias, que adiantou à Lusa que o CD inclui um dueto com o músico Patxi Andión, que morreu em dezembro último.
Barroso publicou 20 álbuns, o mais recente dos quais Artes do Futuro, em 2017. Pedro Barroso considerou que "Novembro" constituiria a sua "despedida das canções".
"A condição física, após mais um ano de tratamentos médicos, impede-me de tocar; e, mesmo na parte de canto, canso-me ao fim de minutos", disse Pedro Barroso à Lusa, em dezembro, quando mantinha a firme disposição de fazer o adeus aos palcos, no dia 21 desse mês.
Barroso publicou 20 álbuns, o mais recente dos quais Artes do Futuro, em 2017. Pedro Barroso considerou que "Novembro" constituiria a sua "despedida das canções".
"A condição física, após mais um ano de tratamentos médicos, impede-me de tocar; e, mesmo na parte de canto, canso-me ao fim de minutos", disse Pedro Barroso à Lusa, em dezembro, quando mantinha a firme disposição de fazer o adeus aos palcos, no dia 21 desse mês.
Vida em canções
Nascido em Lisboa, a 28 de novembro de 1950, Pedro Barroso cresceu em Riachos, terra natal do pai, professor primário.Pedro Barroso foi um dos cantautores revelados em 1969 pelo programa da RTP Zip-Zip.
Em 1970, colaborou como ator no Teatro Experimental de Cascais, sob a direção de Carlos Avillez, ao lado de José Jorge Letria e de António de Macedo.
Nos anos seguintes colaborou ainda com a Valentim de Carvalho em diversos projectos. O seu primeiro álbum de longa duração foi apenas editado em 1976, pela Diapasão/Sassetti, com o título Lutas Velhas, Canto Novo.
Seguiu-se o álbum Água Mole Em Pedra Dura, em 1978. No ano de 1979 lança o single "Em Ferrel/Canção Para O Rio Almonda" e participa no Festival da Nova Canção de Lisboa.
O álbum Quem Canta Seus Males Espanta foi editado em 1980. A canção "Canção Para O Rio Almonda" seria distinguida com o Troféu Karolinka no Festival Menschen und Meer, realizado na antiga RDA, em 1981.
O álbum Quem Canta Seus Males Espanta foi editado em 1980. A canção "Canção Para O Rio Almonda" seria distinguida com o Troféu Karolinka no Festival Menschen und Meer, realizado na antiga RDA, em 1981.
Até 2017, publicou mais 17 álbuns e ao longo dos anos cantou em
praticamente todas as grandes salas portuguesas, incluindo o Coliseu de
Lisboa, a Aula Magna, o Fórum Lisboa, o Teatro Rivoli, o Pavilhão
Atlântico e Teatro Diogo Bernardes, entre outros.
A 3 de dezembro de 2009, num concerto no Teatro de São Luiz, Pedro
Barroso despediu-se dos palcos, celebrando 40 anos de carreira.
Concerto na Antena1
Nessa ocasião, Barroso defendeu que a "canção tem de consubstanciar algumas reflexões" e, sem rejeitar "o fazedor de chulas" que foi, como então afirmou em entrevista à Lusa, procurou também fazer "música bonita com palavras inteligentes".
Refletindo, na ocasião, sobre o seu percurso, o músico afirmou: "Durante muito tempo fiz coisas que me encomendavam editorialmente, para vender. Podia ter ficado por aí, pelo 'fazedor de chulas' populares, mas desde há 20 anos que mudei de rumo".
"Desde então - prosseguiu - comecei a fazer o que me dava prazer e tivesse a profundidade que eu desejava".
Na altura, Pedro Barroso prometia "tirar uma licença sabática".
"Irei dedicar-me mais ao Pedro Chora, pintor, que é uma outra faceta minha, e ao Pedro Barroso, escritor. Cantigas, só mais um ou outro disco", acrescentou, nessa entrevista há quase 11 anos.
Da carreira musical, afirmou guardar "gratas recordações" e ter "um mundo de abraços" pelos muitos que espalhou. Se não tivessem sido as cantigas, disse, "não tinha conhecido mundo".
Refletindo, na ocasião, sobre o seu percurso, o músico afirmou: "Durante muito tempo fiz coisas que me encomendavam editorialmente, para vender. Podia ter ficado por aí, pelo 'fazedor de chulas' populares, mas desde há 20 anos que mudei de rumo".
"Desde então - prosseguiu - comecei a fazer o que me dava prazer e tivesse a profundidade que eu desejava".
Na altura, Pedro Barroso prometia "tirar uma licença sabática".
"Irei dedicar-me mais ao Pedro Chora, pintor, que é uma outra faceta minha, e ao Pedro Barroso, escritor. Cantigas, só mais um ou outro disco", acrescentou, nessa entrevista há quase 11 anos.
Da carreira musical, afirmou guardar "gratas recordações" e ter "um mundo de abraços" pelos muitos que espalhou. Se não tivessem sido as cantigas, disse, "não tinha conhecido mundo".
As músicas, os poemas, os amigos, os admiradores, estiveram unidos por
uma última vez naquela data, para celebrar esta figura maior da cultura portuguesa.
“Violentíssima ternura”
Em nota publicada no portal da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa veio já apresentar “condolências à família do músico Pedro Barroso”.
“Revelado no programa televisivo Zip Zip, em 1969, gravou o seu primeiro EP no ano seguinte, e o primeiro álbum em 1976. Ativo, interventivo, enérgico, foi um dos ‘baladeiros’ antes da Revolução e, já depois do 25 de Abril, envolveu-se nos combates democráticos e nas campanhas de dinamização cultural”, sublinha o Presidente da República.
“Cinquenta anos depois de sua estreia, em dezembro de 2019, quando se despediu dos palcos, em Torres Novas, Pedro Barroso lembrou o que hoje lembramos: a sua voz, o seu empenho, a sua ‘violentíssima ternura’”, conclui adiante.
“Membro de uma geração única”
Por sua vez, em comunicado, a ministra da Cultura, Graça Fonseca, lamentou “a morte do cantor, compositor, letrista e poeta Pedro Barroso”, considerando-o “uma das vozes da canção de intervenção portuguesa e um dos trovadores do 25 de Abril”.“Violentíssima ternura”
Em nota publicada no portal da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa veio já apresentar “condolências à família do músico Pedro Barroso”.
“Revelado no programa televisivo Zip Zip, em 1969, gravou o seu primeiro EP no ano seguinte, e o primeiro álbum em 1976. Ativo, interventivo, enérgico, foi um dos ‘baladeiros’ antes da Revolução e, já depois do 25 de Abril, envolveu-se nos combates democráticos e nas campanhas de dinamização cultural”, sublinha o Presidente da República.
“Cinquenta anos depois de sua estreia, em dezembro de 2019, quando se despediu dos palcos, em Torres Novas, Pedro Barroso lembrou o que hoje lembramos: a sua voz, o seu empenho, a sua ‘violentíssima ternura’”, conclui adiante.
“Membro de uma geração única”
“Membro de uma geração única da música portuguesa, que transformou a canção em protesto, manifesto, pensamento e transformação social, Pedro Barroso ensinou-nos que ‘a resistência de um povo também se cria a cantar’, uma mensagem tão importante quando a escreveu como nos dias que vivemos, em que é preciso cantar e continuar a resistir”.
“À Família e Amigos enviam-se sentidas condolências”, escreve, por fim, a governante.
c/ Lusa