No dia do lançamento da biografia oficial de Steve Jobs nos Estados Unidos, o autor Walter Isaacson revela alguns dos segredos do eterno patrão da Apple, falecido a 5 de outubro. 'Steve Jobs: A Biography' é o resultado de mais de 40 entrevistas que tiveram lugar ao longo de dois anos, após Jobs ter descoberto que sofria de cancro no pâncreas.
Walter Isaacson, ex-diretor da CNN e antigo editor da revista Time, aceitou o desafio de Jobs para assinar a sua biografia em 2004, sem perceber na altura o porquê do patrão da Apple, então com 49 anos, querer partilhar tão prematuramente a história da sua vida.
Numa entrevista ao programa da CBS, 60 minutos, Isaacson contou que foi o avançado estado da doença de Jobs, um cancro no pâncreas descoberto cedo mas tratado demasiado tarde, que motivou a decisão do criador do iPod.
As entrevistas começaram cinco anos mais tarde, em 2009. "Ele queria um jornalista. Queria também um historiador, mas principalmente um jornalista, o que é estranho porque era uma pessoa muito reservada e não gostava de falar sobre si próprio. Ao início também estava muito incomodado comigo. Depois tornou-se mais aberto, o que me surpreendeu. Deu-se conta de que queria fazer o livro bem", relata Isaacson.
Juventude marcada pela droga
Steve Jobs: a Biography (cujo título inicial, iSteve: the Book of Jobs, causou alguma irritação ao patrão da Apple) nasceu depois de mais de 40 entrevistas ao CEO da Apple e cerca de 100 conversas com pessoas que conheceram Jobs, entre familiares, amigos, empregados e mesmo adversários.
Isaacson, que já tinha em seu nome as biografias de Benjamin Franklin e Albert Einstein, dedica grande parte da obra à infância do fundador da Apple, marcada pelo processo de adoção, passando pela fase hippie da adolescência em que andava descalço, não tomava banho e consumia LSD, "uma das coisas mais importantes da minha vida", segundo o próprio.
A obra revela também a personalidade por vezes irascível de Steve Jobs: "Ele era muito petulante, às vezes conseguia ser muito cruel com as pessoas", refere Isaacson. Nas palavras do autor, Jobs era "apaixonado pela perfeição".
"Teve esperança até ao fim"
O tratamento ao cancro que acabou por vitimar Jobs foi acompanhado de perto por Isaacson, a quem o líder da Apple confessou o arrependimento por ter renegado a intervenção cirúrgica aquando a descoberta do tumor. Ao invés, Jobs optou por recorrer a dietas à base de produtos naturais e a pensamentos positivos. "Teve esperança de ficar curado até ao fim. Conservou-a sempre", conta Isaacson. "Acho que ele sentia que se ignorarmos alguma coisa, se não quisermos que algo exista, o nosso pensamento pode ser mágico", acrescenta o autor.
Sobre o futuro da Apple, Walter Isaacson revelou que Jobs "estava convencido de que tinha criado uma empresa com uma equipa de estrelas, capaz de sobreviver sem ele". Nos últimos dias de trabalho, a grande fixação de Jobs era desenvolver uma nova versão da televisão da Apple, "completamente integrada e fácil de usar. Terá o interface mais simples que se possa imaginar. Encontrei-o finalmente", revelou Jobs numa das entrevistas.
Fã de Beatles e Bob Dylan
Ao jornal espanhol El Mundo, Issacson resume a visão do próprio Steve Jobs sobre a aura quase mística que se criou à volta do "guru" da Apple. "Considerava-se um visionário, uma pessoa capaz de unir a arte e a tecnologia. Acreditava que tinha a capacidade de inspirar as pessoas para que acreditassem que podiam tornar possível o impossível. Percebia muito bem que tinha uma conexão emocional com as pessoas, porque os seus produtos tocavam-lhes a alma", conclui.
A relação com Barack Obama e com os adversários da Google, os conselhos a Bill Clinton sobre a relação com Monica Lewinsky e pormenores sobre a vida em família são alguns dos capítulos que fazem adivinhar uma corrida às livrarias por parte dos fiéis seguidores de Jobs. Isaacson desvenda um dos segredos: "O seu iPhone estava cheio de canções do Bob Dylan e dos Beatles. E no iPad tinha o Toy Story, o seu filme preferido", acrescenta.
O lançamento da biografia de Steve Jobs estava inicialmente marcado para 21 de novembro, mas foi antecipado logo após a morte do criador do iPhone. A obra, que já tem prevista a adaptação para o cinema, deve chegar a Portugal durante o próximo mês de novembro.