Barbeiro de Tarouca oferece vinho a quem cortar o cabelo

por Lusa

Tarouca, 19 fev (Lusa) - Numa barbearia de Dalvares, no concelho de Tarouca, quem cortar o cabelo pode, de seguida, refrescar a garganta gratuitamente na adega da porta ao lado, com a garantia de que nas cubas haverá vinho para todos os gostos.

Vinho tinto, rosé e branco enchem as cubas da adega de Manuel da Costa, por onde os clientes são convidados a passar antes de irem para casa.

"Não quero que lhes falte nada", explica, com um ar brincalhão, Manuel da Costa, mais conhecido por "Toca o Pau", uma alcunha herdada de um avô que foi carroceiro de mulas no Brasil.

A tradição de "ir à pinga" depois do corte de cabelo já é conhecida na zona, mas Manuel da Costa não quer que fiquem dúvidas.

"Amigos e clientes, amigos do coração, nesta Barbearia Costa, de comer, nem pão vos dou, beber, tinto ou branco, o que quiserem, sem pagarem um tostão", pode ler-se num quadro que tem exposto na barbearia, com a chave da adega ao lado.

Mas, quem quiser provar o vinho de Manuel da Costa, não precisa de dar a desculpa de que tem o cabelo comprido.

"Muitas vezes tenho amigos que vêm aqui, pegam na chave e dizem: `ó Toca o Pau, vou ali beber um copo`. E eu fico contente na mesma", contou o barbeiro, que diz conhecer 99% dos seus clientes.

Quem entra na Nova Barbearia Costa - onde a modernidade conseguida pela remodelação feita em 2010 se alia à história dos equipamentos antigos que tem desde que aprendeu a arte, em 1964 - percebe que agradar aos clientes é a principal preocupação do "Toca o Pau".

É por isso que faz questão de oferecer os cortes de cabelo em datas especiais, como a primeira comunhão, o alistar na tropa, o casamento e os aniversários de 25 e 50 anos de matrimónio.

E é também por esse motivo que tem penteadores azuis, vermelhos e verdes, que são usados de acordo com o gosto clubístico de cada cliente.

Se, apesar de todas as atenções e cuidados, o cliente não gostar do serviço, pode reclamar.

"Dou três semanas de garantia a quem é de fora e quinze dias a quem é da terra", explicou, com uma gargalhada, assumindo-se como um grande brincalhão, que mete "algumas petas" aos amigos, mas "sempre de grande qualidade".

Ainda esta semana, a mãe de um pequeno cliente acionou a garantia, porque os familiares não gostaram do corte que o "Toca o Pau" tinha feito ao menino.

"Mas há uns doze anos aconteceu-me uma que não foi apenas uma questão de gosto. Estava a cortar o cabelo a um senhor a pente dois, saltou o pente da máquina e, quando dei conta, estava a fazer-lhe uma autoestrada na cabeça", contou, com ar de quem está habituado a repetir frequentemente este episódio.

O seu cliente e amigo Aníbal Costa ouve há muitos anos, mas sempre com o mesmo gosto, as histórias que Manuel da Costa conta dos anos em que foi barbeiro e maqueiro em Bambadinca, na Guiné-Bissau, e depois motorista de autocarros, profissão que deixou em finais de 2009.

"Este homem está sempre na paródia, sempre bem-disposto. Conta muitas histórias e, de vez em quando, também enfia umas petas", afirmou.

Manuel da Costa é também conhecido pelo seu Hillman verde, que tem desde 1971 e com o qual gosta de se deslocar a casa de pessoas doentes e acamadas para lhes cortar o cabelo.

"Normalmente faço isso ao domingo. Vou ver os doentes e corto-lhes o cabelo", contou.

Considera a atividade de barbeiro um "part-time", porque não está sempre no estabelecimento, passando parte do seu dia na agricultura.

"Mas quando aqui chega alguém e toca a campainha na barbearia, ouve-se na minha casa. E se eu não estiver cá, a minha mulher dá-me um toque para o telemóvel e eu já sei. É hora de vir, porque tenho alguém à minha espera", contou.

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