Ator Gene Hackman encontrado morto em casa

por Cristina Santos - RTP
Andy Clark - Reuters

As autoridades de Santa Fé, no Estado norte-americano do Novo México, afirmam que o lendário ator, duas vezes vencedor do Óscar, e a mulher foram encontrados mortos, na quarta-feira à tarde, em casa, na comunidade Santa Fe Summit, a nordeste da cidade.

O xerife do condado de Santa Fé, citado pela imprensa local, confirmou a morte do casal, juntamente com o cão.

Adan Mendoza garante que não há indícios de crime, mas também não são conhecidas as causas das mortes. O xerife conta que o casal terá morrido por volta da meia-noite de 27 de fevereiro e garante "à comunidade e à vizinhança que não há perigo imediato para ninguém".
Gene Hackman tinha 95 anos. Ganhou dois óscar, o primeiro no filme "Os Incorruptíveis Contra a Droga". O ator interpretou o detetive Jimmy Doyle, que tentou desmantelar uma rede de tráfico em Nova Iorque.
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O ator voltou a vencer um Óscar, como melhor ator secundário, no filme Unforgiven, de Clint Eastwood, de 1992. Entre inúmeros papéis que desempenhou durante a carreira, Gene Hackman também ficou conhecido por interpretar Lex Luthor nos filmes do Superhomem, no final da década de 1970 e 1980.

A mulher do ator, Betsy Arakawa, tinha 63 anos e era pianista de música clássica.
"Fazer filmes é sempre arriscado"

Mais de 40 anos de carreira no cinema, 100 personagens a que deu corpo, em 2011, quando lhe perguntaram como gostaria de ser recordado Gene Hackman respondeu “como alguém que tentou”.

Alcançou o sucesso relativamente tarde, na casa dos 30 anos, assumindo as características de um anti-herói de Hollywood na década de 1970.

Ao longo da carreira deu poucas entrevistas e evitou o estilo de vida de uma celebridade. Até porque acreditava que "se te considerares uma estrela, já perdeste alguma humanidade”. Gene Hackman recebeu dois Óscares, dois Bafta, quatro Globos de Ouro e um Screen Actors Guild Award.
Decidiu estudar interpretação no final dos anos 1950 e fez amizade com Dustin Hoffman, no Pasadena Playhouse onde ambos foram votados como "os menos propensos a ter sucesso".

 A estreia no Cinema foi ao lado de Warren Beatty no melodrama Lilith, em 1964, três anos depois interpretou o papel, também ao lado de Beatty, de Buck Barrow em Bonnie e Clyde, de Arthur Penn. O desempenho valeu-lhe a primeira nomeação para o Óscar de melhor ator secundário.

Em 1970, a interpretação num drama sobre a relação pai-filho valeu-lhe o conselho que mudou a forma como atuava.

"Melvyn Douglas (o realizador) disse-me 'Gene, nunca irás conseguir o que queres se continuares a agir assim’, ele não se referia à minha interpretação, ele quis dizer que eu não estava a comportar-me. Ele ensinou-me a ser responsável, sem arranjar desculpas para não fazer o meu trabalho”.

O conselho funcionou e valeu-lhe a segunda nomeação para o Óscar, em 1970 no filme I Never Sang for My Father. Em 1971 conquista o seu primeiro Óscar como Jimmy "Popeye" Doyle, em The French Connection.

Nunca mais olhou para trás.

Foram vários os sucessos que amealhou na década de 70 do século passado, tendo demonstrado versatilidade e talento também para comédia. "Fazer filmes sempre foi arriscado — tanto física quanto emocionalmente — mas eu escolho considerar cada filme como um episódio de uma carreira cheia de acertos e erros", disse numa entrevista em 2021.
A década de 1980 foi outra década de sucesso marcada, em especial, pelo papel em Mississippi Burning, pelo qual foi novamente nomeado para o Óscar de melhor ator.

O desempenho como agente do FBI foi considerado poderoso num filme que retratava a investigação de assassinatos racistas de trabalhadores negros dos direitos civis no início dos anos 1960.

Em 2001 voltou a ser aplaudido pela crítica na comédia excêntrica The Royal Tenenbaums.

Retirou-se em 2004, na sátira política Welcome to Mooseport e justificou a decisão porque não queria correr o risco de sair pela porta pequena. "O trabalho é muito stressante e chegou a um ponto em que eu simplesmente não tenho vontade de continuar a fazer isso".
Largou o Cinema, mas continuou dedicado à veia artística como escritor de ficção histórica.
"Eu gosto da solidão de [escrever], na verdade. É semelhante em alguns aspetos à interpretação, mas é mais privado e sinto que tenho mais controlo sobre o que estou a tentar dizer e fazer", disse à Reuters.
“Nunca vais ser alguém na vida”
Eugene Allen Hackman nasceu em San Bernardino, Califórnia, em 1930.

O pai abandonou a família quando Hackman ainda era adolescente e a mãe morreu em 1962, num incêndio provocado por um cigarro que caiu na cama enquanto estava alcoolizada. Tinha 16 anos, mas mentiu para conseguir alistar-se nos Marines tendo integrado aquela força norte-americana durante quase cinco anos.
Trabalhou em rádio, também foi DJ e enquanto conseguia pequenos papéis no palco, teve vários trabalhos para garantir o salário suficiente para viver.

Uma das histórias que gostava de contar dessa altura foi quando trabalhou como porteiro de um hotel em Nova Iorque. Um dia um dos seus ex-sargento-instrutor reconheceu o antigo soldado e disse-lhe “nunca vais ser alguém na vida”.
No entanto, o “pior trabalho” que teve na vida foi quando trabalhou, à noite, na limpeza do edifício Chrysler.

Gene Hackman casou-se em 1956 com Faye Maltese, o casal teve três filhos e divorciou-se 30 anos depois. Em 1991, casou-se Betsy Arakawa.


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