Artistas da "Free Roam" em Berlim defendem trabalho "em coletivo" para fortalecer democracia
Os artistas portugueses Luzia Cruz e André Santos Martins, inauguram quinta-feira, em Berlim, a exposição "Free Roam", sublinhando a importância do trabalho em coletivo para fortalecer a democracia, quando se assinalam 50 anos do 25 de Abril.
A exposição parte das afinidades entre os trabalhos dos dois jovens artistas, a viver na capital alemã, para apresentar um conjunto de questões acerca da natureza do espaço pessoal e as complexidades de uma sociedade digital a viver uma crise de recursos.
"Enquanto artistas, não devemos focar-nos só no nosso trabalho individual. Ele é importante para criar discussão, e para pensarmos na forma de trabalhar em coletivo", sublinha Luzia Cruz, em declarações à Lusa, no espaço Kunstraum Botschaft, onde "Free Roam" vai estar patente.
A artista, de 26 anos, destaca a criação de vários coletivos artísticos em Portugal recentemente, uma manifestação contra a opressão e os direitos democráticos, que a levam a ter "esperança" no futuro.
"A democracia traz o início da possibilidade de discussão, de autorreflexão", aponta André Santos Martins.
"Sinto que a pessoa que eu cresci a ser advém muito da arte e do cinema que consumi. Deram-me as ferramentas de maturidade emocional, capacidade de empatia para conseguir apreciar a democracia e os direitos e a solidariedade. Quando faço os meus trabalhos, eles são em parte em homenagem às pessoas que no passado me ajudaram a mim a crescer", destaca o artista português de 29 anos.
"É com esta mesma proposta que me dedico ao meu trabalho artístico. Sinto que é esse o poder da arte, o de fazer as pessoas crescerem", destaca.
Ambos concordam que a arte permite criar um "sentido crítico" e dar aos outros a capacidade de refletir. Esta exposição a dois, com dois curadores, Bárbara Borges de Campos e Guilherme Vilhena Martins, combina trabalhos interativos que criam um espaço de análise.
"Qual o fim de tanto desenvolvimento tecnológico, qual o fim desta ideia entre intimidade e virtual, onde é que nos leva? Os dois trabalhos em conjunto pensam muito nisso. Onde é que nos leva o individualismo em que vivemos", destaca Luzia Cruz, lamentando o "excesso de informação" que leva a todo o lado, mas sem levar realmente a lado nenhum.
"Espero que o papel dos jovens seja discutir, informar-se e informar, e conseguir apresentar um determinado ponto de vista. Apresentar, com alguma criatividade, soluções alternativas. É importante não fazer separações e agregar ideias", realça.
Nesta exposição, André Santos Martins apresenta dois trabalhos de vídeo e Luzia Cruz, duas instalações, uma delas com uma peça de escultura e dois desenhos associados. Debruça-se sobre o impacto da tecnologia no quadro da intimidade, problematizando a intersecção entre os espaços privado e público, bem como virtual e material.
"Free Roam" estará em exposição até 12 de abril, e termina com uma discussão sobre o papel das artes no fortalecimento da democracia, com vista às celebrações do 50.º aniversário do 25 de Abril.