Arte "Contra-Parede" de Ana Vidigal, Nunes-Ferreira e Pedro Gomes chega ao Museu do Côa

por Lusa

"Contra-Parede" é tema da nova exposição que abre hoje ao público no Museu do Côa, com obras em "diálogo" da autoria de Ana Vidigal, Nuno Nunes-Ferreira e Pedro Gomes, patentes na instituição até 21 de novembro.

O curador da exposição, Hugo Dinis, disse à agência Lusa que o início do projeto curatorial data de abril de 2019: "Nessa particular ocasião, conjuntamente com os artistas, pensámos num projeto que fosse itinerante e que pudesse alcançar parte do território nacional e lugares que, de algum modo, se poderiam ajustar ao projeto curatorial".

Ana Vidigal uma das artistas que marca presença na exposição, atendendo às questões domésticas e feministas do seu trabalho, desenvolveu obras que implicam um humorístico sentido político e que indagam o debate pertinente entre os domínios público e privado.

"Através da intervenção em tijolos e ladrilhos em barro manufaturado de Santa Catarina da Fonte do Bispo, a artista utiliza a cultura popular local em prol de um discurso inclusivo sobre a igualdade e a diversidade", indicou a organização, numa nota enviada à Lusa.

Já Pedro Gomes apresenta desenhos por módulos, imagens que se podem estender como papel de parede, que confrontam o espaço arquitetónico através de representações dos dispositivos históricos museográficos recorrentes entre o século XIX, e o cubo branco do século XX.

"Nesta grande instalação, as linhas dos desenhos tornam-se formas e espaços tridimensionais que submergem o espectador. O artista também irá apresentar um mural realizado com papéis químicos, revelando, deste modo, a sua metodologia de trabalho", refere a mesma nota de apresentação da mostra.

Nuno Nunes-Ferreira, que marca presença com recurso ao seu imenso arquivo de jornais e revistas, realizou um mural, intitulado "A palavra", que alude às questões políticas da ditadura do Estado Novo e a prevalência da liberdade onde a voz e o discurso individual se encontram como um bem comunitário.

 O artista irá também apresentar a obra inédita "Abate da frota pesqueira" que, através da construção de um muro de dossiês provenientes do arquivo da Associação de Conservas de Peixe e, através da apresentação do Diário da República de 1986, em que foi publicado o diploma para o abate de barcos, o artista faz referência à política portuguesa sobre os recursos marítimos.

Também do mesmo artista se irá apresentar o vídeo "Vírus", que estabelece a contemporaneidade da exposição no tempo da pandemia.

Hugo Dinis indicou ainda que, através da sensação de clausura do confinamento, foi possível pensar o espaço público, nomeadamente a parede, como um lugar ideal para realizar projetos artísticos.

"Estes espaços passaram a ser predominantemente políticos e pensámos que seria pertinente confrontar os espaços arquitetónicos das instituições museológicas acolhedoras. Neste sentido, tanto as gravuras rupestres como o Museu do Côa tornaram-se muito especiais ao projeto que gostaríamos de concretizar", enfatizou.

No contexto da exposição, está prevista a realização de um projeto educativo que irá ser desenvolvido com alunos de diversas faixas etárias.

De acordo com o curador, adicionando o prefixo "contra" a "parede" recorreu-se ironicamente à contradição para infringir um confronto com as instituições que se erguem através das estruturas arquitetónicas e dos seus significados de poder.

"De facto, ao cobrir a parede e ao ocupar a quase totalidade do espaço expositivo, as obras apresentadas no projeto `Contra-Parede` conquistam espaço de visibilidade que, através da intervenção ativa dos artistas e do público como espectadores informados, se revelam espaços subvertidos de contra-poder", disse.

A mostra "Contra-Parede" será, posteriormente, apresentada em Abrantes, de 11 de dezembro a 27 de março do próximo ano, e, nas Caldas da Rainha, em 2022, em datas a anunciar.

No Museu do Côa, a exposição "Contra--Parede" sucede à mostra dedicada a João Cutileiro, "Gravuras recentes e outros riscos", que recebeu cerca de 17.000 visitantes entre abril e setembro deste ano.

 

 

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