Arqueólogos descobrem parte de molde para fundição de espadas de bronze

por Agência LUSA

Uma equipa de arqueólogos portugueses e espanhóis descobriu parte de um molde de pedra para fundição de espadas, um achado único a nível Ibérico, durante escavações num povoado fortificado do Bronze Final junto à Barragem de Alqueva.

O fragmento foi encontrado, recentemente, na terceira campanha de sondagens e escavações arqueológicas no Castro dos Ratinhos, a qual termina no final deste mês e junta arqueólogos do Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) e da Universidade Autónoma de Madrid (Espanha).

O projecto, iniciado em 2004 e que terá uma última campanha no próximo ano, é promovido pela Empresa de Desenvolvimento e Infra- estruturas de Alqueva (EDIA), com o apoio da Câmara Municipal de Moura, enquadrado nas acções de ordenamento turístico e ambiental da envolvente da barragem.

António Carlos Silva, o arqueólogo português que coordena os trabalhos - em conjunto com o professor da universidade espanhola Luíz Berrocal-Rangel -, explicou hoje à agência Lusa que, até agora, em escavações na Península Ibérica, "nunca tinha sido encontrado um molde de fundição de espadas datado do período do Bronze Final".

"Há um ou outro moldes de fundição encontrados em Portugal, dessa época, mas são de machados, não de espadas. Por isso, este é um achado único a nível Ibérico, num local de escavações", assegurou o arqueólogo.

Além disso, referiu, esta descoberta permite "atestar, pela primeira vez, a existência de uma fundição e da actividade metalúrgica" no Castro dos Ratinhos, que terá sido fundado entre 1.100 a 1.200 anos antes de Cristo (a.C.).

O fragmento pertencia a um molde em pedra que, segundo António Carlos Silva, seria formado por duas partes iguais que se juntavam, ficando o interior oco, com a forma de uma espada.

"O estanho e o cobre fundidos, para fazer uma liga de bronze, eram deitados no interior do molde, através de um orifício, e era assim que a espada era feita", precisou, considerando "natural" que, no povoado, ainda existam "vestígios da própria forja".

O projecto no Castro dos Ratinhos tem proporcionado resultados "muito interessantes" para os arqueólogos, pois também outras estruturas e materiais, como fragmentos de cerâmica decorada e objectos em bronze, voltaram a "ver a luz do dia".

O arqueólogo do IPPAR indicou à Lusa que as escavações, até agora, incidiram em cerca de 500 metros quadrados, de uma área total já delimitada de cinco a seis hectares, tendo sido detectados "restos de muralhas, bem conservadas e com alguns metros de altura".

"São taludes artificiais, escavados na rocha e coroados por pedras", descreveu, salientando ter sido comprovada a existência no local de "várias linhas sucessivas" dessas muralhas.

A primeira linha é mesmo antecedida de um fosso, igualmente escavado na rocha de xisto, o que, avança o arqueólogo, "terá sido uma tarefa que envolveu muita gente, pois as ferramentas utilizadas seriam de pedra".

Sobranceiro ao paredão da barragem e do qual se avista a albufeira, o Castro dos Ratinhos não é o único povoado fortificado do Bronze Final referenciado no Alentejo ou em Portugal, mas é o primeiro, afiançou, alvo de um projecto arqueológico "com tanta profundidade".

"Conhece-se muita coisa deste período em Portugal, mas nunca houve muitas escavações em grandes povoados, nem um projecto semelhante a este, porque é complicado e envolve muitos meios", asseverou.

Duas dezenas de profissionais, metade deles espanhóis, trabalham na actual campanha e, no final dos trabalhos previstos para 2007, a par da publicação dos resultados científicos, o sítio arqueológico deverá ser aberto ao público.

"Começámos já a fazer trabalhos de conservação e restauro e vão ser melhorados os acessos, instalada sinalização explicativa e criadas plataformas de observação, para que os núcleos escavados possam ser visitados", assinalou ainda o arqueólogo.

Terminado este projecto, adiantou, grande parte da área ocupada pelo povoado fortificado "ainda ficará por escavar", mas os turistas de Alqueva, "além do paredão, do grande lago e dos passeios de barco, passam a ter uma oferta cultural de cariz cultural".

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