Aramaico, a língua de Jesus Cristo, está em risco de extinção

por © 2008 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.

Maalula, Síria, 31 Mar (Lusa) - A língua que Jesus Cristo falava - aramaico - está à beira da extinção, mas, no norte da Síria, as cerca de 18.000 pessoas que a falam lutam para a salvar do esquecimento.

Velhos e crianças, cristãos e muçulmanos, os habitantes da localidade montanhosa de Maalula, a 50 quilómetros a norte de Damasco, sentem-se orgulhosos por serem dos poucos que sabem exprimir-se na língua de Cristo, e não estão dispostos a permitir que ela se extinga.

"Ibla Jatita" é o "olá" com que as pessoas se saúdam, tal como Cristo aos seus apóstolos, nesta aldeia de casas de adobe e ruas estreitas, entalada entre duas montanhas e que parece parada no tempo.

"O aramaico é um tesouro e, se aqui o perdermos, vai desaparecer do universo", disse Georget al Jalabi, que trabalha na livraria do antigo mosteiro de São Sérgio e São Baco, em Maalula.

O templo católico é um dos poucos lugares do planeta onde se pode escutar o "Pai Nosso" em aramaico. Esse é, porém, o único momento da liturgia, porque o restante se diz em árabe e é também nesta língua que estão escritas as bíblias ali usadas.

A população de Maalula está contente por haver agora uma escola governamental que dá cursos de aramaico, o que permite às crianças e aos adultos estudarem a língua num centro académico.

A escola, inaugurada no Verão passado, "é apenas o começo de um longo caminho para proteger a língua", assegura Anton Taglub, vendedor de cruzes e postais numa loja do mosteiro.

No entanto, nesta e noutras lojas do vizinho mosteiro de Santa Tecla -localizado também entre as montanhas - não se pode encontrar em aramaico mais do que uma gravação dos cantos de Sexta-Feira Santa, embora estejam disponíveis manuais básicos de auto-aprendizagem de aramaico em espanhol, alemão, inglês e francês.

Uma língua que sobreviveu três mil anos graças ao isolamento dos seus falantes corre agora perigo, devido à globalização: "Dado o uso contínuo da internet e da televisão, os jovens começam a esquecer algumas palavras de aramaico", explica Mary Riad, guia no mosteiro de São Sérgio e São Baco.

O antigo presidente da câmara da localidade, Azer Barquil, lembra que as novas gerações que querem ter acesso à teconologia avançada e conseguir uma boa carreira começaram nos últimos anos a abandonar Maalula em busca de uma vida mais moderna em Damasco.

"Mas insistimos em que, embora os nossos filhos saiam de Maalula, não devem esquecer o aramaico", defende Barquil.

Ligando a palavra ao acto, Barquil assevera que os seus filhos se matricularão durante as férias do próximo Verão na nova escola de aramaico para melhorarem a língua.

O apego ao aramaico é igualmente visível entre a minoria muçulmana de Maalula, orgulhosa de falar a língua de Jesus (os muçulmanos veneram Cristo como um profeta).

"Logo na infância aprendemos a falar o aramaico dos nossos pais. É a língua do nosso povo", afirma Mahmud Ali, que confessa gostar de ser "um muçulmano que fala a língua de Jesus".

Segundo Barquil, se em Maalula os muçulmanos, 25 por cento da população, dominam o aramaico, nas duas outras localidades muçulmanas vizinhas, Yabadin e Sarja, todos os seus habitantes o falam perfeitamente.

Juntando as três localidades, eleva-se a 18.000 o número de falantes de aramaico sírios, quase os únicos do mundo que actualmente falam a língua de Jesus, juntamente com mais uns quantos - em total indeterminado - em Israel e no Irão.

RMM.


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