Madrid, 19 Nov (Lusa) -- A fusão entre a pintura, o desenho e a fotografia, a expressão corporal e a escultura viva são os elementos centrais da obra de Helena Almeida em exposição a partir de hoje em Madrid.
"Tela rosa para vestir" é o título da antologia - emprestado da primeira obra da artista (também exposta em Madrid) - que estará patente na sede da Fundação Telefónica, no âmbito da Mostra Portuguesa.
"Eu sou pintora. A câmara é um medium. Nós, os pintores, somos livres e utilizo o que me interessa. Neste caso a fotografia. Mas uso-a como pintora", explicou à Lusa Helena Almeida, numa entrevista antes da inauguração da exposição.
Na sala de exposições da Fundação Telefónica, no centro de Madrid, estão mais de três dezenas de peças do que Francisco Serrano, presidente da Fundação Telefónica, diz ser "uma colecção emocionante" da "primeira-dama da fotografia portuguesa".
"Estamos perante alguém que viajava entre a body arte e a fotografia, entre o desenho e a performance, e que é sempre protagonista das suas próprias obras. Mistura o frágil e o definitivo, expressando intimidade e espiritualidade", sublinha Serrano.
Presente de forma regular em galerias e eventos artísticos a obra da artista portuguesa, que integra já algumas das principais colecções de arte de Espanha, regressa a Espanha pela segunda vez em forma de antologia, depois de uma mostra levada a cabo há 10 anos.
"Não transmito quem sou mas sim emoções. Anulo-me nos trabalhos procurando que as pessoas se identifiquem com o que quero transmitir. Não quero auto-retratos, nem contar a minha história", explicou.
"Mostro problemas vastos, como a dor e a perda, o amor", frisou.
Isabel Castro, comissária da exposição, disse à Lusa que os trabalhos reunidos em Madrid são uma parte significativa e representativa das quatro décadas de trabalho de Helena Almeida.
"Mostra-se o período desde a primeira fotografia de 1969 até aos trabalhos mais recentes, inéditos, criados para esta exposição: "O Abraço" e "A Conversa". É uma mostra que ajudará a mostrar o percurso de Helena Almeida", assinalou.
As linhas principais da obra, o seu relacionamento com a pintura, com o desenho e com a performance, estão patentes nas obras escolhidas para a antologia, muitas das quais vieram da colecção particular da artista, tendo outras sido cedidas por várias instituições.
Evidente nos últimos trabalhos é o regresso do marido e fotógrafo de Helena Almeida, Artur Rosa, que contou à Lusa que a pintora "passa os dias a desenhar", criando ideias de onde nascem depois as obras que ele fotografa.
"Nessa série -- diz, apontando a colecção de fotos do `Abraço` -- colocava a câmara e tinha 10 segundos para me pôr com a Helena. Ela não quer fotos profissionais. Quer as fotos como saem, com este pó".
Para Helena Almeida, a cumplicidade com Artur Rosa é vital: "Ele entende-me muito bem".
"Foi por acaso que tudo começou. Ele tinha a máquina, estava ao pé de mim. Depois começou a resultar muito bem. É a pessoa com quem eu converso, a quem mostro os desenhos", disse.
"Desenho todos os dias", assegura. "Acumula", explica Artur Rosa, a única pessoa, além de Helena Almeida, que está presente nas suas obras.
As 100 fotografias, 29 desenhos e um vídeo da "Tela Rosa para Vestir" estarão patentes na sede da Fundação Telefónica, em Madrid, até 18 de Janeiro.
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