O Arte Institute propõe que cada utilizador pague o que entender depois de visionar um espectáculo ou o live de um artista.
A associação já leva nove anos de trabalho. Desde o início, Ana Ventura Miranda pretende programar espectáculos sem o recurso a subsídios estatais, fazendo uma ligação entre o turismo, as empresas e os artistas.
O ano passado começou a reflectir sobre uma forma de viabilizar um pagamento aos criadores, inclusive os eventos divulgados na internet: "Mesmo que o espetáculo fosse gratuito e alguém estivesse a pagar ao artista, que o público tivesse a possibilidade [através de uma aplicação online] de lá ir, escolher o espectáculo que tinha visto, e pagar o valor que quisesse", para capacitar as pessoas para a importância dos artistas.
Sem a possibilidade de se fazerem espectáculos ao vivo, a participação é direccionada para a internet.
Dizer não aos donativos
Donativo, não. Valor, sim. E interessa a Ana Ventura Miranda frisar este aspeto: "A maior dificuldade desta aplicação o ano passado foi que nome dar ao botão. Porque não podia ser pague o trabalho do artista, dê-lhe um valor... (risos) era muito complicado! E acabámos por pôr valor com um $". Antena 1
Ana Ventura Miranda diz o que está errado com a palavra donativo: "É um péssimo nome, que a classe artística não deve de maneira nenhuma aceitar que seja regular e normal. Porque é o nosso trabalho! Como todas as profissões, eu devo ser paga pelo meu trabalho. Não me aconteceu um problema de uma inundação ou uma catástrofe natural, para me fazerem um donativo. É o meu trabalho! Se as pessoas não perceberam a importância das artes durante a quarentena, já não vão perceber. O que teria sido esta quarentena sem os livros, a música, os filmes as séries? É tão inconsciente que, às vezes, as pessoas não dão logo conta. É como abrirmos a torneira e termos água a correr. No dia em que abrirmos e não tivermos, aí vamos dar valor à água. Porque temos tudo como garantido".
Para fazerem parte desta plataforma online, os artistas inscrevem-se: «Abrimos inscrições para as pessoas poderem enviar os trabalhos que ficam na plataforma rhi-think.com".
O público acede à plataforma (que também tem uma aplicação para telemóveis), escolhe o espetáculo que quer ver e, no final, paga o que quiser. Os vídeos começam a ser carregados no rhi-think.com esta semana.
O Arte Institute é uma associação sem fins lucrativos sediada em Nova Iorque, com uma rede de associados em vários países e uma agenda de programação de iniciativas culturais maioritariamente portuguesas em países como os Estados Unidos, Canadá e países africanos de língua oficial portuguesa.
Para esta nova plataforma de financiamento de espectáculos online, num primeiro momento, deu-se um avanço de 24 horas aos associados do Arte Institute. Os artistas portugueses tiveram depois 48 horas para se inscreverem antes dos artistas internacionais (de mais de 30 países).
Eventos globais
Com a promoção de eventos globais nesta plataforma, o Arte Institute abre caminho para artistas portugueses chegarem a outros públicos; com a convicção de que, fora de Portugal, há mais públicos preparados para pagar o visionamento de um espectáculo online. Ana Ventura Miranda ressalva a qualidade democrática deste formato: "O artista vai ganhar consoante a publicidade que fizer do espectáculo".
Uma nova realidade no mundo do espectáculo e iniciativas culturais? Com certeza. Mas um espectáculo na internet não substitui a experiência real de estar numa plateia a ver uma peça de teatro ou um espectáculo de dança, nem mesmo estar numa sala de cinema a assistir a um filme, refere Ana Ventura Miranda: "Nada no online vai substituir um espectáculo ao vivo. É uma alternativa. Nunca será a mesma coisa. Agora, que o futuro vai passar muito por isto, vai. Aliás, a prova são todos os sistemas de streaming que têm tirado muita gente das salas de cinema. Mas não é a mesma coisa!".
Novas linguagens culturais e aproximações ao público diferentes estão a surgir. Em tempos de salas de espectáculo encerradas, agendas culturais suspensas, canceladas ou adiadas por todo o mundo, devido ao confinamento social. Em Portugal, os artistas já pediram "não nos cancelem", em carta aberta dirigida ao Ministério da Cultura e ao primeiro-ministro (com data de 7 de Abril) assinada por mais de 1600 pessoas.