Lisboa, 18 Out (Lusa) - A primeira biografia de Ana Plácido, a última companheira de Camilo Castelo Branco, chega esta semana às livrarias, definindo-a como "uma mulher extraordinariamente forte e até de carácter viril", disse autora à Lusa.
Em declarações à Lusa, Maria Amélia Campos, autora da biografia, editada pela Parceria A.M. Pereira, afirmou que a vida de Ana Plácido "daria um excelente libreto para uma ópera ou um argumento de telenovela que prenderia certamente audiências".
Intitulada "Ana, a lúcida", esta é a primeira biografia da companheira do autor de "Amor de perdição", que "seria uma promissora escritora", e que "deu de mão beijada a Camilo muitas das histórias que ouvia do povo no seu portal de S. Miguel de Ceide, que este depois as enfabulava com o seu génio romanesco".
"Era uma mulher extraordinariamente forte, diria até de carácter viril, só isso explica o facto do Camilo conseguir viver com ela tanto tempo, apesar de a ter torturado muitas vezes, com cenas terríveis de ciúmes, até talvez no início, ela lhe tivesse dado razão para isso", disse a escritora.
Ana Plácido que "foi impedida de amar e praticamente vendida pelo pai a Pinheiro Alves, um brasileiro de torna-viagem".
"Mulher nada vulgar para a sua época, Ana enfrentou muitos riscos e começou a sua vida com Camilo, a partir do zero. Essa vontade de escolher um caminho foi o que me seduziu nela", disse a escritora que reconheceu "não ter estado muito motivada no início".
"O que me pareceu nela foi uma mulher com uma vontade extremamente férrea, de quem quer alcançar e conseguir aquilo que ela entendia que era o seu projecto de vida", disse.
"A consciência que tem de si própria é que era uma mulher que queria amar e queria amar sem as restrições que se colocavam á mulheres da segunda metade do século XIX", disse a escritora que não afastou a hipótese de Ana Plácido ter sido influenciada "pelos romances de amor da época".
À Lusa, Maria Amélia Campos confidenciou: "A personagem foi começando a atrair-me, a agarrar-me, a seduzir ao ponto de querer saber mais dela, mas sem essa sedução não sei trabalhar".
Maria Amélia Campos reconstituiu a vida Ana Plácido a partir das suas cartas conhecidas - "já que muitas estão na posse de alguém que julga vir a ganhar muito dinheiro com elas e não dá acesso" -, "entrelaçando-as com a obra de Camilo" e através das suas duas obras: "Luz coada por ferros" e "Herança de lágrimas".
"Fundamental" para esta primeira biografia, foram as investigações de Alexandre Cabral, disse a autora.
A biografia de Ana Plácido (1831-1895) tem como subtítulo "a mulher fatal de Camilo" e procura ser "o seu retrato mais fiel quanto possível".
NL.
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