Albuquerque Foundation abre em Sintra com coleção de 2.600 peças de porcelana antiga

por Lusa

A Albuquerque Foundation vai abrir portas ao público no sábado, em Sintra, para exibir uma coleção de cerâmica chinesa com 2.600 peças e promover artistas emergentes através de residências e exposições temporárias, revelou esta sexta-feira fonte da entidade privada.

Idealizada pelo colecionador brasileiro Renato de Albuquerque e pela sua neta e cofundadora Mariana Teixeira de Carvalho, a Albuquerque Foundation será a morada permanente da Coleção Albuquerque de Cerâmica Chinesa, e promoverá uma programação de exposições temporárias dedicadas à cerâmica contemporânea sob orientação do seu diretor, o crítico e curador italiano Jacopo Crivelli Visconti.

"Com uma coleção que tem uma relevância como essa não temos o direito de mantê-la privada", disse em entrevista à agência Lusa Mariana Teixeira de Carvalho, acrescentando que sente a "obrigação cívica" de a deixar "disponível ao público para que seja apreciada e estudada".

A abertura ao público será marcada pela exposição "Connections", com obras da Coleção Albuquerque de peças de porcelana chinesa de exportação, e uma individual do artista norte-americano Theaster Gates, cuja prática artística abrange planeamento urbano, cerâmica escultural e performance.

Está ainda previsto um programa "muito ambicioso" de residências para artistas e investigadores, e um programa educativo para a comunidade local e internacional, existindo já uma parceria com as escolas públicas de Sintra, com visitas guiadas, bem como uma agenda de palestras e simpósios, indicou a responsável.

"As peças de cerâmica chinesa antiga foram acumuladas por uma pessoa que o fez por paixão, sem nenhum objetivo final de criar uma coleção, mas que acabou por se formar. Chega um momento em que ela se torna maior do que o próprio colecionador e do que uma única família", comentou a também presidente do Conselho de Administração da Albuquerque Foundation à Lusa.

A partir dos anos 1980, Renato Albuquerque - com uma carreira dedicada à engenharia e ao planeamento urbano - expandiu as suas atividades em Portugal, e os seus projetos no país incluem a Quinta da Beloura e a Quinta Patino, entre outros.

A fundação foi instalada na Rua António dos Reis, em Sintra, onde se encontra uma quinta propriedade da família: "É uma quinta como muitas outras naquela zona, onde eu e a minha irmã passávamos férias quando o meu avô começou a fazer negócios em Portugal", recordou sobre a casa, que mantém fachada original mas também uma intervenção arquitetónica contemporânea no interior.

Composta por mais de 2600 peças reunidas ao longo de 60 anos por Renato de Albuquerque, a Coleção Albuquerque de Cerâmica Chinesa é descrita pela Albuquerque Foundation como "uma das mais importantes e prestigiadas coleções privadas do mundo de porcelana chinesa das dinastias Ming e Qing, imperial e de exportação, tendo algumas das suas peças sido emprestadas a instituições de renome internacional, como o Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque, e o Victoria & Albert Museum, em Londres, entre outros".

Disponibilizada ao público pela primeira vez, a coleção integra porcelana chinesa tanto de exportação como imperial, incluindo raras "primeiras edições", assim chamadas por terem sido as encomendas iniciais de porcelana chinesa feitas por portugueses, algumas com iconografia europeia.

"O foco principal da coleção é do século XVI ao século XVIII, mas há obras que datam do século 20 antes de Cristo", referiu a cofundadora do projeto que "pretende celebrar as ligações culturais e comerciais entre o Oriente e o Ocidente, nas quais Portugal assume um papel primordial".

Além de darem a conhecer a coleção, as exposições permanentes darão ênfase ao impacto global da porcelana chinesa através de abordagens curatoriais que terão como objetivo "aprofundar o conhecimento do público sobre a cerâmica chinesa e a sua importância histórica".

"Vamos preservar e mostrar a coleção, mas irá muito além disso. O cerne do projeto é fazer uma homenagem à cerâmica e isso nos dará uma identidade, através de uma programação cultural de exposições de cerâmica contemporânea", três a quatro por ano, de diversos aristas, desde ceramistas tradicionais a artistas visuais, jovens emergentes e consagrados.

Ex-advogada de Direitos Humanos no Brasil e a nível internacional, Mariana Teixeira de Carvalho entrou no mundo das artes em 2009, tendo sido diretora de várias galerias comerciais nesta área, incluindo as Luisa Strina, Hauser & Wirth e Michael Werner.

A nova fundação - aberta ao público para visitas de terça-feira a domingo, entre as 10:00 e as 18:00 - terá também um pavilhão dedicado às exposições temporárias, uma biblioteca especializada, um restaurante de gastronomia local e sustentável, uma loja e um jardim de entrada livre.

"Estamos num momento em que a cerâmica está a ter uma grande importância no mundo de arte contemporânea, com uma releitura do que é artesanato e do que são as `fine arts`. Não é nosso o papel de determinar se a cerâmica é uma coisa ou outra, queremos, sim, elevar este suporte ao patamar que merece, e destacar que até ao momento estes artistas eram desconsiderados por fazerem artesanato", sublinhou a curadora à Lusa.

Engenheiro civil e arquiteto com mais de 70 anos de experiência em construção e planeamento urbano, Renato de Albuquerque é cofundador da Albuquerque & Takaoka, uma das maiores empresas de construção no Brasil, entre 1951 e 1994.

Foi responsável pelo desenvolvimento do conceito de Alphaville, que introduziu o urbanismo sustentável no Brasil nos anos 1970, recorda um texto divulgado pela fundação.

Renato Albuquerque será hoje, ao fim da tarde, condecorado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, numa cerimónia no Palácio de Belém, em Lisboa, com a Ordem do Infante Dom Henrique, indicou Mariana Teixeira de Carvalho

Tópicos
PUB