A voz de Sosa Mercedes calou-se ao fim de uma longa doença

por Eduardo Caetano, RTP
Sosa Mercedes calou-se aos 74 anos Dr

Mercedes Sosa, alcunhada "A Negra" por causa dos seus longos cabelos negros, morreu no hospital, onde tinha sido internada no dia 18 de Setembro com graves problemas renais e pulmonares. Tinha 74 anos. De um vasto reportório, fica-nos como imagem de marca o "Gracias a la Vida".

Mercedes Sosa nasceu em Tucuman na Argentina no dia 9 de Julho de 1935.

Tinha 15 anos de idade quando decidiu concorrer a um concurso promovido or uma estação de rádio local, quando um promotor discográfico a descobriu e lhe propôs um contrato de dois meses.

Com voz de contralto. Sosa Mercedes gravou o seu primeiro disco que se chamava "Canciones con Fundamento", em que a sua música onde se notava a profunda influência do folk argentino.

Foi só no ano de 1967 que se consagrou internacionalmente. Tornou-se conhecida nos Estados Unidos, chegando ao continente europeu no ano de 1970, com os seus discos "Cantata Sudamericana" e "Mujeres Argentinas" gravados em conjunto com Ariel Ramirez e Félix Luna.

Foi na década de 70 que gravou um tributo a uma mulher que admirava profundamente, a chilena Violeta Parra.

Deu grandiosos e memoraveis concertos em locais muitos especiais. Na memória de todos ficam os concertos na Capela Sistina, no Vaticano em 1994, no Carnegie Hall em Nova Iorque no ano de 2002 e no Coliseu de Roma em 2002 um concerto pela paz em que actuou também Ray Charles.

Sosa tinha um vasto reportório e gravou canções de vários estilos. Eram frequentes as suas actuações com músicos argentinos entre os quais se salientaram León Gieco, Charly Garcia, António Tarragó Rós, Rodolfo Mederos e Fito Páez. Não se limitou a cantar com músicos argentinos. Alargou as suas duplas a outros países sul-americanos. Milton Nascimento e Fagner e Sílvio Rodriguez foram alguns dos músicos consagrados que com ela cantaram e deliciaram o público.

Politicamente era uma activista de esquerda tendo sido Peronista na sua juventude. Recentemente declarou-se opositora de Carlos Menen que chegou a ser Presidente da República, tendo apoiado a eleição do ex-presidente Néstor Kirchner.

Corria o ano de 1979 quando Sosa Mercedes no final de um concerto em La Plata foi presa pelas autoridades e obrigada a exilar-se. Sem direito a cantar na sua pátria, Sosa optou por se radicar em Paris e mais tarde em Madrid.

Mulher da cultura mas com grandes preocupações sociais, Sosa refletiu na sua música essas preocupações, o que a fez tornar-se uma das grandes expoentes da "Nueva Canción" - movimento musical latino - americano da década de 60, que bebia nas raízes africanas, cubanas, andinas e espanholas.

No Brasil, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, são alguns dos músicos que emparceiram com Sosa na corrente da "Nueva Canción" profundamente marcados por uma ideologia de combate ao que qualificam como imperialismo norte-americano, à sociedade de consumo e à desigualdade social.

Há muito tempo que costumava cantar em dueto com a cantora de samba, Beth Carvalho, com quem formou o grupo "Sol e pido a Dios", com quem cantava canções bilingues, uma em brasileiro outra em espanhol.


Como canção identificadora desta excepcional cantora temos o "Gracias à la vida" numa composição de Violeta Parra.

"Sou cantora. Sou viúva. Tenho um filho, Fabian Ernesto e duas netas. Conduzo um pequeno Audi. Estive muito doente e reencontrei-me com Deus. Sou progressista. Sou embaixatriz da Unicef", assim se definia Sosa Mercedes a ela própria numa entrevista de 2002.

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