Luís Vaz de Camões é o poeta de Portugal. É o poeta. E 2024 é o ano dos seus 500 anos. Não é coisa pouca meio milénio depois sabermos de cor algumas das suas criações. Neste centenário é justo que se lembre o poeta genial de quem Frederico Lourenço diz que, "na verdade, os três génios supremos da poesia são quatro: Homero, Vergílio, Dante e Camões". Celebramos aqui os seus quinhentos anos com as primeiras estrofes de "Sôbolos rios que vão", uma mostra desse génio que foi e permanece.
Ou a primeira estrofe que propõe o tema d' Os Lusíadas sobre gente que "Da Ocidental praia lusitana/ Por mares nunca dantes navegados/ Mais do que prometia a força humana" partiram para terras distantes encontrando outra gente tão diferente.
Camões era o poeta, ainda é, mas será mais do que isso: em Os Lusíadas mostra o povo e a epopeia de Portugal, mas mostra-se também inteiro como o homem que era. Propõe-se contar a epopeia mas deixa-nos ainda indícios de um programa de humanidade, propõe um mundo de diversidade onde os altos respeitam os baixos, onde o forte não levanta a espada contra o fraco. Camões, o truculento que arde em pouco fogo e que por isso tem de fugir, tem de aguentar a prisão e o degredo (ainda que voluntário), é o mesmo que escreve, embora veladamente, contra a escravatura, é o poeta que acaba o primeiro canto da epopeia portuguesa a verter da pena a defesa do mais fraco:
"Onde pode acolher-se um fraco humano,
Onde terá segura a curta vida,
Que não se arme, e se indigne o Céu sereno
Contra um bicho da terra tão pequeno?"
É o poeta que já antes, nesse canto inaugural, lembrava que "é fraqueza ser leão entre ovelhas".
Luís Vaz de Camões - há a célebre frase "toda a gente enche a boca de Camões" - que menos teve do que mais teve nos seus 55 anos de vida, que dedicou quase duas décadas a montar uma epopeia grandiosa, é também o poeta que não esquece os acossados, talvez porque ele não tenha sido outra coisa.
Neste centenário é justo que se lembre o poeta genial de quem Frederico Lourenço diz que, "na verdade, os três génios supremos da poesia são quatro: Homero, Vergílio, Dante e Camões". Celebramos aqui os seus quinhentos anos com as primeiras estrofes de "Sôbolos rios que vão", uma mostra desse génio que foi e permanece.